Confissão Alentejana
“Louvado seja Jesus Cristo!”
“ Louvado seja sempre”
“ Há quanto tempo não te confessas, minha filha”
“ Vai fazer um mês, Senhor Padre.”
“ Ó minha filha, então porquê? Costumas vir todas as semanas. O que te apoquenta?”
“ Senhor Padre, nem sei como lhe dizer. Anda um assunto aberrundando-me, mas...”
“Procura-me o que quiseres, filha. Não deves ter melindres de desabafar com o teu confessor.”
“ O meu noivo, Senhor Padre... Está em alas para experimentar...O que as pessoas fazem depois de casadas...”
“Agora cá! Mas vocês não são casados, valha-me Deus! Não podem ir contra as leis de Deus, filha! Querem casar ou querem ajoujar-se?”
“ Casar, Senhor Padre. Mas ele diz que entre noivos não haveria de ser grande pecado.”
“ Isso é lá a julgadura dele. Mas é a ele que cabe estabelecer a lei de Deus? Que pachouvada! Tu tens de ser rabeta e ter tinório.”
“ Então, como devo fazer? Não quero que ele fique alcanchofrado comigo. E Senhor Padre, nós estamos muito encegueirados um pelo outro. Ele anda desinsofrido.”
“Eu entendo-te, filha. O caso está bichoso. Um homem não é de ferro e uma moça também não. Se não existissem esses desejos ninguém casava. Tal como se não existisse o paladar ninguém comia e morriamos todos. Acontece que o ser humano quando é cristão tem de seguir as boas leis de Cristo. Não nos devemos afastar do Evangelho. Atinta nas minhas palavras, pois elas são para teu bem. Mas para que te possa aconselhar melhor deves contar-me tudo o que vós tendes feito durante o vosso derrete.”
“ Como assim, Senhor Padre?”
“ Tudo. Conta-me tudo. Já o viste à espervela? Ele toca-te?”
“ Ai Jesus! Que entalo!”
“ Mexeu-te nas lanteriscas? Não sejas marreta e conta-me”
“Senhor Padre, quando estamos beijando ele quer que lhe mexa no martelinho. Mas eu não sei se devo. Mas nunca o vi nadavau.”
“ Ele é merlo mas tu terás de ser mais mérrula. Não podes albardar isso. Tal mimo desperta os apetites do verdugo e num flaite estás em privança. Não te esqueças que podes ficar embaraçada. Já viste que papel seria?”
“ Não quero isso, Senhor Padre. Que dava um patatum à minha mãe. E o arrecuão que o meu pai me daria até me causa agasturas.”
“ Tem calma, filha. Tenta apressar a boda. Podes beija-lo com caranço mas sem escofiar as lanteriscas do moço. Não tomes isto como um recado. És esgalhada, empapoilada e tens andado a aziá-las. Ele também te mexe na rola?”
“ Ai, Senhor Padre!”
“ Se não me contas a mim hás-de contar a quem? Dou-te bons conselhos no sentido de evitar a gadela. Todo o homem é pirata. Sei que não és moça alvarina. Confia no teu confessor. É para tua boa orientação, filha. Apressa a boda. Mexeu-te na pinta? Por cima ou por baixo dos froxéis?”
“ Por baixo, Senhor Padre...”
“Não é galinha-morta esse teu noivo, não! E enquanto isso acontecia estavas dando-lhe galanduchas no seu romão-cego?”
“ Sim, Senhor Padre...”
“Não é nenhum mata-formigas, não. Não ficaram almareados? Conseguiram parar a tempo?”
“ Sim, Senhor Padre... Mas está ficando cada dia mais difícil. Dá-me a espertina de noite. Sinto uma calorina pelo corpo todo. E passo o tempo afofando estar com ele outra vez.”
“Apressa a boda! Não te deixes enodoar, filha. A vila está cheia de trogalheiras sempre à espreita. Fazem de ti uma bagaça e lá vai o noivado para o maneta.”
“ Isso é que nunca! Dava-me uma travadinha que nunca mais me recompunha. Vou ter cautelas, Padre.”
“ Agora diz três Avé-Marias e o acto de contrição. Para a semana voltas cá. E tornas a contar-me tudo.”
Aberrundar: atormentar
À espervela: à mostra, a nu
Afofar: achar gosto antecipado a qualquer coisa
Agasturas: ânsias
Agora cá!: Não penses nisso!
Ajoujar-se: amancebar-se
Estar em alas: estar ansioso
Albardar: permitir
Alcanchofrado: zangado
Alvarina: leviana
Arrecuão: descompostura
Atintar: ver bem
Bichoso: difícil de resolver
Calorina: claor
Caranço: ternura
Derrete: namoro
Desinsofrido: impaciente
Embaraçada: Grávida
Empapoilada: bem vestida, garrida
Encegueirados: apaixonados
Enodoar. Manchar a reputação de alguém
Entalo: Aflição
Escofiar: acariciar
Esgalhada: airosa, formosa
Estar a aziá-las: estar a pedi-las
Num flaite: num instante
Froxéis: roupa interior de senhora
Gadela: cópula
Galinha-morta: tolo
Julgatura: opinião
Lantriscas. Partes íntimas
Marreta: teimosa
Martelinho: pénis
Mata-formigas: parvo
Merlo: esperto
Mérrula: astuta
Nadavau: nu
Pachouvada: asneirada
Papel: escândalo
Patatum: chelique
Pinta: vagina
Pirata: malandro
Procurar: perguntar
Recado: repreensão
Romão-cego: pénis
Rola: orgão sexual feminino
Tinório: muito juízo
Verdugo. Homem musculoso
In “Dicionário de Falares do Alentejo” de Vítor fernado Barros e Lourivaldo Martins Guerreiro
“Louvado seja Jesus Cristo!”
“ Louvado seja sempre”
“ Há quanto tempo não te confessas, minha filha”
“ Vai fazer um mês, Senhor Padre.”
“ Ó minha filha, então porquê? Costumas vir todas as semanas. O que te apoquenta?”
“ Senhor Padre, nem sei como lhe dizer. Anda um assunto aberrundando-me, mas...”
“Procura-me o que quiseres, filha. Não deves ter melindres de desabafar com o teu confessor.”
“ O meu noivo, Senhor Padre... Está em alas para experimentar...O que as pessoas fazem depois de casadas...”
“Agora cá! Mas vocês não são casados, valha-me Deus! Não podem ir contra as leis de Deus, filha! Querem casar ou querem ajoujar-se?”
“ Casar, Senhor Padre. Mas ele diz que entre noivos não haveria de ser grande pecado.”
“ Isso é lá a julgadura dele. Mas é a ele que cabe estabelecer a lei de Deus? Que pachouvada! Tu tens de ser rabeta e ter tinório.”
“ Então, como devo fazer? Não quero que ele fique alcanchofrado comigo. E Senhor Padre, nós estamos muito encegueirados um pelo outro. Ele anda desinsofrido.”
“Eu entendo-te, filha. O caso está bichoso. Um homem não é de ferro e uma moça também não. Se não existissem esses desejos ninguém casava. Tal como se não existisse o paladar ninguém comia e morriamos todos. Acontece que o ser humano quando é cristão tem de seguir as boas leis de Cristo. Não nos devemos afastar do Evangelho. Atinta nas minhas palavras, pois elas são para teu bem. Mas para que te possa aconselhar melhor deves contar-me tudo o que vós tendes feito durante o vosso derrete.”
“ Como assim, Senhor Padre?”
“ Tudo. Conta-me tudo. Já o viste à espervela? Ele toca-te?”
“ Ai Jesus! Que entalo!”
“ Mexeu-te nas lanteriscas? Não sejas marreta e conta-me”
“Senhor Padre, quando estamos beijando ele quer que lhe mexa no martelinho. Mas eu não sei se devo. Mas nunca o vi nadavau.”
“ Ele é merlo mas tu terás de ser mais mérrula. Não podes albardar isso. Tal mimo desperta os apetites do verdugo e num flaite estás em privança. Não te esqueças que podes ficar embaraçada. Já viste que papel seria?”
“ Não quero isso, Senhor Padre. Que dava um patatum à minha mãe. E o arrecuão que o meu pai me daria até me causa agasturas.”
“ Tem calma, filha. Tenta apressar a boda. Podes beija-lo com caranço mas sem escofiar as lanteriscas do moço. Não tomes isto como um recado. És esgalhada, empapoilada e tens andado a aziá-las. Ele também te mexe na rola?”
“ Ai, Senhor Padre!”
“ Se não me contas a mim hás-de contar a quem? Dou-te bons conselhos no sentido de evitar a gadela. Todo o homem é pirata. Sei que não és moça alvarina. Confia no teu confessor. É para tua boa orientação, filha. Apressa a boda. Mexeu-te na pinta? Por cima ou por baixo dos froxéis?”
“ Por baixo, Senhor Padre...”
“Não é galinha-morta esse teu noivo, não! E enquanto isso acontecia estavas dando-lhe galanduchas no seu romão-cego?”
“ Sim, Senhor Padre...”
“Não é nenhum mata-formigas, não. Não ficaram almareados? Conseguiram parar a tempo?”
“ Sim, Senhor Padre... Mas está ficando cada dia mais difícil. Dá-me a espertina de noite. Sinto uma calorina pelo corpo todo. E passo o tempo afofando estar com ele outra vez.”
“Apressa a boda! Não te deixes enodoar, filha. A vila está cheia de trogalheiras sempre à espreita. Fazem de ti uma bagaça e lá vai o noivado para o maneta.”
“ Isso é que nunca! Dava-me uma travadinha que nunca mais me recompunha. Vou ter cautelas, Padre.”
“ Agora diz três Avé-Marias e o acto de contrição. Para a semana voltas cá. E tornas a contar-me tudo.”
Aberrundar: atormentar
À espervela: à mostra, a nu
Afofar: achar gosto antecipado a qualquer coisa
Agasturas: ânsias
Agora cá!: Não penses nisso!
Ajoujar-se: amancebar-se
Estar em alas: estar ansioso
Albardar: permitir
Alcanchofrado: zangado
Alvarina: leviana
Arrecuão: descompostura
Atintar: ver bem
Bichoso: difícil de resolver
Calorina: claor
Caranço: ternura
Derrete: namoro
Desinsofrido: impaciente
Embaraçada: Grávida
Empapoilada: bem vestida, garrida
Encegueirados: apaixonados
Enodoar. Manchar a reputação de alguém
Entalo: Aflição
Escofiar: acariciar
Esgalhada: airosa, formosa
Estar a aziá-las: estar a pedi-las
Num flaite: num instante
Froxéis: roupa interior de senhora
Gadela: cópula
Galinha-morta: tolo
Julgatura: opinião
Lantriscas. Partes íntimas
Marreta: teimosa
Martelinho: pénis
Mata-formigas: parvo
Merlo: esperto
Mérrula: astuta
Nadavau: nu
Pachouvada: asneirada
Papel: escândalo
Patatum: chelique
Pinta: vagina
Pirata: malandro
Procurar: perguntar
Recado: repreensão
Romão-cego: pénis
Rola: orgão sexual feminino
Tinório: muito juízo
Verdugo. Homem musculoso
In “Dicionário de Falares do Alentejo” de Vítor fernado Barros e Lourivaldo Martins Guerreiro