A ilusão do tempo
Tive um sonho muito estranho.
Sonhei que fugia assustado por um caminho. Era perseguido por monstros terríveis que tentavam me devorar. Ainda, vislumbrando o trecho à frente, outras tantas feras me aguardavam com presas e garras horripilantes.
Completamente apavorado, sem chance de retroceder ou prosseguir, cessei o curso de minha fuga e prostrei-me paralisado à beira do caminho. Ali, no chão à margem da trilha, estava um relógio cujos ponteiros começaram a crescer e crescer até ultrapassarem os limites do próprio mostrador. Da mesma forma, os tique-taques foram subindo de volume e tom até tornarem-se ensurdecedores.
Instintivamente, pus o indicador por entre os ponteiros daquele relógio, bem no ponto onde se encontravam ao centro. Eles pararam. O som parou. Os monstros que vinham interromperam sua marcha. As bestas feras que estavam adiante arrefeceram em sua fúria. Estranhamente, meus temores também se dissiparam e fiquei ali, absorto numa certeza de que estava seguro e em paz.
Despertei me sentindo revigorado e confiante. Levantei-me e fitei o dia lá fora que esfregava sua cara em minhas janelas. O clima transbordava em um perfume agradável de oportunidades. Senti que era poderoso porque tinha o meu destino sob meu comando.
O tempo é uma ilusão. As lembranças do passado nos perseguem terríveis e tentando nos devorar. As angústias com o futuro mostram sempre as feições mais sombrias e ferozes, como que nos aguardando para nos submeter a seus horrores. O único momento em que realmente se vive é agora. O passado são “agoras” que já se foram e o futuro são “agoras” que virão. Tiveram e terão as oportunidades cabíveis de serem vividos.
Agora, é quando tudo acontece. Pus o dedo nos falsos ponteiros da vida e eles não correm mais. Sinto-me seguro e manso.