Razão e sensibilidade



     Bom, vamos lá! Hoje, eu consigo!


     “Meu amor hoje eu quero te dizer”
... Ficou bonito o primeiro verso, heim?! Fala de amor e coisa tal... É! Se fala de amor já é poesia!

     “Que há saudade...” ... “saudade...” ...
Puxa! Eu tava indo tão bem! Até enfiei uma saudade ali pra dar um tonzinho mais meloso. Mas, como fazer caber o resto do que eu penso no cotoco de verso que sobrou?

     “Que há saudade...”... 
Putz! Não adianta! Com saudade ou sem, vou precisar mudar o diacho do verso, senão o decassílabo vai pro espaço!

     “Que em meu peito uma dor já fez morada”...
Agora sim! Coube direitinho. Mas precisa ter saudade, caramba! Senão, parece que só penso “naquilo”.

     “Pois que a ausência de ti me faz sofrer”...
Puxa vida! Taí minha saudade! Não vai ser nenhum versinho sem vergonha que vai me impedir de dizer que eu tenho saudade, oras!

     “E ficando sem você não sou nada.” ...
Caracas! Tava ficando legal. Mas misturar “tu” com “você” já não cola mais como licença poética.

     “Isto aqui, se não vens, não vale nada.”... 
Hummm... Orra, meu! Acho que agora deu, mas é melhor conferir esta quadra. Vamos lá:

     "Meu amor hoje eu quero te dizer"

     “que em meu peito uma dor já fez morada”
     “pois que a ausência de ti me faz sofrer.”
     “Isto aqui, se não vens, não vale nada.”

     Tá ficando maneiro, mas tá demorando pra caramba! Isso é broxante.


     Quer saber de uma coisa? Que inhaca de poema, que nada! 

     Não sei de onde ela tirou essa idéia de que eu não sou um sujeito sensível. Vou é ligar pra ela e perguntar se vem pra dormir ou vai embora em seguida. Esse soneto que vá pro raio que o parta! Se eu depender de terminar essa meleca pra convencer a criatura, ela não vem hoje, nem amanhã e nem nunca mais! E eu é que não vou ficar na mão, de novo.