Desígnios celestes
Ele era daqueles que acreditam em destino, universo ou coisa que o valha. Ela? Debochada, ria toda vez que ele afirmava que ela na vida dele não era por acaso e dizia, sem a menor dor na consciência, que o destino era uma desculpa que damos quando não queremos acreditar que tudo é acidental, inclusive ela, que por ventura, acabou fazendo parte da vida dele.
Ele insistia no universo, nos porquês, em motivos especiais… Ora contente por toda a conspiração do universo e as forças ocultas que comandam a vida, terem colocado ela em seu caminho, ora impaciente, inquieto e enfatizando a crueldade do destino, do universo, ou coisa que o valha:
- Porque isso? Chega a me dar raiva.. eu deveria perguntar para o destino ou universo ou coisa que o valha pra descobrir porque essas coisas (coisas = ela = maluca = complicada = confusa = geniosa) acontecem… mas eu encaro que nada é por acaso..
Ela ora séria, ora rindo cínica:
- Ah sim… tudo está escrito e eu estou na sua vida por um motivo altamente relevante… não é mesmo?
- Não está tudo escrito, mas o universo coloca em sua frente aquilo que você pede pra ele.
- Hum.. e você queria uma paulista chata, metida e nojentinha pra te azucrinar todo dia? Humm.. ou o tal do universo que confundiu tudo? Serei eu uma prova de que o sistema de distribuição do universo tem suas falhas?
- Não.. eu queria outra coisa.. quer dizer.. Ah! Não vou dar esse mole todo de ficar te contando tudo que eu desejo.
- Eh.. está certo.. até porque quem tem que saber tudo isso é o universo, não?
- Sim… e vai que não é você.. Vai que você só me distrai enquanto o que eu quero de verdade chega.
- Ahn?.. Hum… está bem, eu não to fazendo nada mesmo.. eu posso ficar aqui um tempo te distraindo até o universo mandar o pacote certo.
Ele? Ele ainda acredita no universo, destino ou coisa que o valha. Ele deve ter encontrado uns porquês para aceitar todas as peças do destino.
Ela? Debochada, incrédula e cínica. Duvida do universo, mas passou a acreditar que nada é por acaso. Primeiro o sistema educacional e os professores de literatura, depois ele e sua paixão por textos da Clarice. Acidental? Não, definitivamente, não.. nada na vida é por acaso… Ela duvida de muitas coisas, mas passou a acreditar na Clarice Lispector e nos seus desígnios.