AMOR AOS PEDAÇOS
Emilia estava sentada em seu banco preferido do parque. Ia ali todos os dias após o trabalho. Lindo lugar. Pensou. Pessoas que andam, se divertem, lêem, como eu e namoram...aiai...eu sempre quis conhecer o amor, mas até agora, já com trinta anos, ainda não tinha conhecido o amor de verdade.
Um senhor sentou ao seu lado, pediu licença.
- Como vai? – perguntou como se a conhecesse. Ela olhou pra ele com desconfiança, mas ele tinha nos olhos um brilho realmente conhecido. Apesar de sua melenas caídas, melenas, lembrava o passado, riu sozinha...
- Eu a faço rir? – perguntou meio contrariado...meio sem jeito...
- Não, desculpe-me, mas lembrei do passado...desculpe mesmo...
- Não se importa que eu me sente aqui?
- Não, fique à vontade.
- Sabe, um dia conheci uma menina que tinha os seus olhos, assim amendoados e covinhas iguaizinhas, lindas...
Emilia ficou sem jeito, baixou os olhos era a vez dele lembrar o passado...
- E, o senhor gostava dela?
- Muito!! – Falou com entusiasmo. – Mas, ela nunca ficou sabendo...baixou os olhos, fundos, sempre lembro dela, de nunca ter dito nada pra ela, aberto meu coração...
- Sério? Nunca falou para ela?
- Nunca, sempre fiquei esperando uma “luzinha verde” da parte dela...que eu nunca vi...
Emília teve a impressão de ver uma lágrima contida...Resolveu mudar de assunto...
- A senhor vem sempre aqui? Muito bonito esse parque.
- Não, essa é a primeira vez. E, vi você, aqui, tão entretida, que tive vontade de conversar com você.
- Sim, adoro esse lugar, é meu descanso de todos os dias. Venho aqui ler, escutar música...depois do trabalho. Trabalho aqui em frente. Nesse prédio alto.
- O que você faz?
- Sou engenheira mecânica. Desenho carros.
- Nossa! Nunca imaginei encontrar uma mulher que entendesse de carros a ponto de projetá-los!
- Não é comum, mas eu adoro aprendi com um amigo de muitos anos atrás...- ficou a pensar um pouco enquanto o senhor a observava- eu gostava muito dele, mas ele era bem mais velho, nunca ficou sabendo..aliás...riu...acho que nunca nem imaginou que eu me interessava tanto por carros só para ficar perto dele...riu de novo...
- Você tem covinhas lindas quando sorri...ele disse com um olhar distante...- mas ele nunca nem imaginou que você gostava dele?
- Não era muito mais experiente que eu, tinha mulheres mais interessantes que eu.
- Ele te disse isso? – Perguntou assustado.
- Não eu deduzi, mas ele nunca demonstrou nada a não ser amizade de amigo por mim...baixou a cabeça..e...ele..o senhor viu uma lágrima contida... e mudou de assunto.
- Eu sou professor de dança...-como ela ficou sem dizer nada ele continuou-você deve pensar:professor de dança tão velho? – riu com seu sorriso largo e fácil...era um senhor bem simpático...
- Não pensei não...pensei que deve ser uma profissão muito agradável e charmosa...
- sim, vivo rodeado de alunos, mas quando chego em casa, estou só. Por isso entrei no parque, para ver, pessoas...e encontrei você...
- Foi um prazer conhecê-lo, mas tenho um encontro daqui a pouco, tenho que ir...disse levantando-se...
- O prazer foi meu, sempre q a avistar virei conversar-sorriu ver como andam seus carros- e riu de novo..
- Sim, apareça...
E foi se afastando do banco pensando em um montão de coisas...disse que tinha um encontro porque aquele senhor a fazia, não sabe por que lembrar o passado...
- Ela não me reconheceu...pensou Gabriel...eu que sempre passo por aqui só pra ver se ela olha e me vê! Ela não lembrou de mim. Será que mudei tanto assim...ficou pensativo...
E, ficou ali, enquanto as lágrimas corriam feito um rio pelo seu rosto. Ela imaginava que não sabia o quanto ele gostava dela...o quanto...ah.mais era doido por ela...mas a”luzinha verde” não veio...”luzinha verde”...coisa de carro...