Certa noite, após o jantar os jovens se reuniram com o pai para comunicar-lhe que viajariam de ônibus, Expresso Brasileiro, no domingo seguinte rumo a São Paulo, completariam na véspera 19 anos. Historiaram o roteiro que fariam, depois da capital iriam à Campinas, Ribeirão Preto e outros municípios vizinhos. Possivelmente seguiriam a Santa Catarina e Rio Grande do Sul, dependeria do estado de ânimo que tivessem no momento. Propositadamente omitiram o Estado do Paraná, em especial Curitiba. Já naquela ocasião o afastamento das namoradas tornaria ainda mais difícil o plano, que residia mesmo ir à procura da mãe nessa última capital, não externando nada às duas.
Artur guardava mais simpatia pela futura cunhada, Simone, nunca comentou com o irmão, e este jamais desconfiou. Seu pensamento se apegava ao carinho que Simone dispensava a Pedro, as gentilezas que ela prestava, denotava existir mais amor. Paralelamente, pensava é que Mônica, mais moça não tinha ainda os predicados que vislumbrava na outra, o tempo habilitaria sua cortejada. Talvez a viagem fizesse desaparecer aquela imagem e harmonizaria o extravagante pensamento, em tempo nenhum imaginou magoar o irmão.
Partiram, primeiro rumo mesmo a São Paulo, porquanto Salvador levou-lhes ao terminal rodoviário, juntamente com Zeca, Joana e os filhos. Ao chegarem comprariam logo passagens para Curitiba, porque desejavam, na própria 2ª feira, iniciarem as diligências, que os levariam ao paradeiro da mãe, cujo nome desconheciam. As viagens transcorreram tranqüilas. Gostaram mais da estrada Rio-São Paulo, embora com trânsito intenso, o asfalto e o traçado favoreciam melhor a movimentação do possante auto-ônibus. De São Paulo a Curitiba a caminhada não foi tão serena, pista única, movimento muito grande, principalmente de caminhões, estrada ainda por asfaltar, ensejou-lhes maiores preocupações, a denotada Regis Bitencourt.
Enfim chegaram ao destino desejado. Pensaram, não deveriam ir direto à CASA e sim a um hotel, o escolhido foi o Del Rey, por ser no centro da cidade, onde tomariam um bom banho, trocariam de roupas e apresentar-se-iam no Centro de Adoções, condignamente. Assim fizeram, sabiam a rua, mas não a localização, perguntaram primeiro na portaria do hotel e depois a um motorista de táxi, que lhes informou é num bairro, não longe daqui, talvez difícil seja encontra a moradia. Resolveram ir mesmo de automóvel, rápido lá chegaram, a sensação foi estranha e grandiosa, pareceu-lhes que conheciam o lugar, razoável, não condizia com a realidade.
Ao chegarem à portaria foram atendidos por um senhor idoso, que achou incomum a presença de dois rapazes, já que quase sempre apareciam casais e de idades adultas. Informaram que desejavam falar com o padre Palhano ou a irmã Clementina; ficaram chocados quando souberam que ambos já haviam morrido há algum tempo, estavam nos seus lugares, respectivamente, o padre Tomaz e a irmã Cremilda. Levados à presença da segunda, por prudência disseram que foram recomendados pelo vigário da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, do Rio de Janeiro e eram portadores de uma carta de apresentação, sem exibi-la. Adiantaram logo o assunto: eram órfãos e desejavam saber do paradeiro de sua mãe natural, porquanto foram adotados há 19 anos atrás, por interferência deste Centro de Adoção. A irmã Clementina nem deixou a conversa se prolongar mais, sendo peremptória: “Nós aqui temos por norma não prestar informações dessa natureza, é impossível atendê-los”. Tentaram um entendimento com o padre Tomaz, que avisado por Clementina, negou-se recebê-los. Uma freira que estava próxima ouvira a conversa e ficara sensibilizada da aspiração, resolveu, voluntariamente, ajudar os dois irmãos, que vieram de tão longe, imbuídos de elevados propósitos. Disse-lhes, eu sou freira Rufina, posso ajudá-los, estou aqui há 20 anos, à época era simples noviça, geralmente recordo-me de tudo, apesar do grande movimento aqui na CASA. Hoje, sou secretária geral da instituição, tenho em meu poder todos os livros de registros, fichas e anotações, que poderei consultá-los. Pedro e Artur criaram “alma nova”, resplandeceram as esperanças, pensaram: teria havido auxílio de sua mãe Elizabeth, que possivelmente estaria no céu?
Sem subterfúgios a freira Rufina, informou-lhes hoje mesmo às 14 horas estarei no Cartório da Vara de Menores, lá poderemos falar com mais tranqüilidade, aguardarei vocês naquele lugar.
Aquele comportamento não poderia ser entendido como quebra de disciplina, nem mesmo escuso procedimento pecaminoso, afinal estaria ela, como religiosa, auxiliando dois rapazes descobrirem o destino da verdadeira mãe, gesto de nobreza, amor e carinho. Mais engrandecido se tornava porque eram ricos, dispunham de grande patrimônio, e poderiam até auxiliar a verdadeira mãe se essa necessitasse.
Trocaram opinião, a freira Rufina tinha uma memória invejável, recordou-se com detalhes, acrescentou que ficara com os dois no hotel, juntamente com a mãe, para que esta os amamentasse, durante dez dias, até partirem em definitivo com os adotivos. A adotante se ausentara algumas vezes para comprar roupas, agasalhos, inclusive para a instituição, e um carrinho duplo, porque regressariam de avião. Disse mais: estava desejosa de contratar uma auxiliar que seguisse com ela, e depois voltaria, a fim de facilitar no trajeto. Contratou uma nutricionista que preparou todas as mamadeiras, água, colocadas numa geladeira portátil.
Ao final, exclamou a Freira: “Como me sinto feliz em vê-los, fortes, sadios e nobres”, tive a honra de participar do alvissareiro acontecimento, hoje mesmo chegando na CASA vou começar a pesquisar. Amanhã poderão voltar lá mesmo, vou falar com o Padre Tomaz e garanto que ele nos apoiará e já possivelmente terei uma posição. Têm alguma anotação do dia do registro de nascimento? Responderam que sim! Após retornarem ao hotel, voltaram ao Centro e entregaram à freira Rufina, não somente as certidões de nascimentos, também outros documentos esclarecedores.
Estavam loucos para amanhecer, tornou-se difícil conciliar o sono, conversaram interminavelmente, estavam sonhando de olhos aberto, acreditaram terem sido agraciado com uma dádiva do céu, aquela conjuntura do auxílio e boa vontade da freira Rufina.
Logo cedo, banharam-se, tomaram o café matinal, vestiram a roupa mais elegante e partiram para a CASA. O semblante de alegria estava no rosto de cada um dos irmãos. Aguardaram por alguns momentos a freira poder atendê-los. Notaram desde logo a recíproca, a fisionomia dela estampava nítido êxito. Após o cumprimento, Rufina lhes transmitiu: encontrei todas as anotações; conversei com o Padre Tomaz que me autorizou a fornecer os dados existentes. Vou pedir-lhes que não se comovam, nem fiquem emocionados, as crianças que aqui estão poderão notar, traumatizarão.
A mãe de vocês se chama Evelim Ludmila Boeckel, residia num município próximo daqui, Castro, há cerca de 2 ou 2 horas e meia de ônibus. Chegou à CASA no dia 9 de fevereiro de 1.975, vestida simplesmente, sem outras roupas, nem para o neném que nasceria. Aparentava ter uns 17 anos de idade, hoje, portanto estaria com 36 anos. Foi transferida imediatamente para nossa enfermaria-hospital, sendo submetida aos exames rotineiros. A médica que a atendeu teve uma surpresa, não era apenas um bebe que esperava e sim dois, os cuidados foram redobrados, o Padre Palhano e a irmã Clementina depois de uma reunião resolveram convocar um obstetra que atendia o Centro, especialmente, porque ela não fizera qualquer tratamento e acompanhamento pré-natal. Cinco dias depois, vocês nasceram, tudo correra normal, portanto no dia 14 de maio daquele ano. Já por diversas vezes aqui estivera D. Elizabeth, acompanhada do marido, Sr. Salvador, que se ausentou por problemas de trabalho.
Evelim informara a assistente social que desejava dar as crianças, não poderia levá-las para casa dos pais, insurgentes com a gravidez da filha, mostraram-se rebeldes em terem os futuros netos.
Convocaram D. Elizabeth para uma conversa e ficaram alegres com a imediata aprovação da adoção, Evelim fez um apelo para que levasse os dois, não desejava vê-los separados, deveriam ser criados juntos. D. Elizabeth aquiesceu desde logo, sem a menor restrição. Propôs ser chamado urgentemente um pediatra para atender vocês e comunicou ao Diretor que assumiria todas as despesas relacionadas ao parto e nascimento. Saiu porta afora para comprar uma dúzia de enxovais, fraudas e tudo mais indispensável às crianças. O padre Palhano e a irmã Clementina autorizaram que eu a acompanhasse.
Os processos de adoções seriam demorados, demandaria uma série de exigências à solução, inclusive seria indispensável à presença do Sr.Salvador, aventou-se a hipótese de registrar, com a anuência da mãe,como filhos legítimos dos dois: Elizabeth e Salvador, assim foi feito. Passados dois dias foram todos para o hotel Climax, onde estava hospedada sua mãe, sendo acompanhada de Evelim para amamentá-los e uma enfermeira, que ocuparam dois apartamentos. Os registros de nascimentos contaram com as presenças da médica parteira e a própria mãe dos filhos registrados, que serviram como testemunhas, providência essa para evitar especulação que poderia ter sido cometido uma falsidade ideológica, embora antes o Padre Palhano desce ciência ao Juiz da Vara de Menores, falado ao Promotor da iniciativa adotada. O Sr. Salvador Miranda foi representado pelo Provedor da CASA, Dr. Ayrton Pimentel Barboza, por procuração que chegara do Rio de Janeiro. O Padre Palhano gozava de muita estima no meio forense pelos relevantes serviços que prestava à sociedade de Curitiba, porque não dizer de todo Paraná.
Dez dias depois vocês seguiram de avião para o Rio de Janeiro, todos nós, Padre Palhano, irmã Clementina e eu fomos levá-los ao aeroporto, sem a presença de sua mãe que seguiu para Castro, ficaria na residência de uma irmã. D Elizabeth cercou-lhe dos maiores cuidados, inclusive auxiliando para as despesas que pudesse ter.
Pedro e Artur ouviram em completo silêncio. Atenderam ao pedido da freira Rufina, não se deixaram trair por violenta emoção, apenas em certos momentos lacrimejaram. Agradeceram ao padre Tomaz e as duas freiras, aí pediram o endereço da mãe em Castro, porque iriam procurá-la.
A freira propôs lhe acompanhar até Castro, agradeceram e dispensaram, poderia causar dificuldades a ela própria perante a CASA e a mãe ficar consternada, sentindo-se traída pela divulgação da freira. O auxílio que ela poderia prestar, talvez transformasse em grande problema, ela já havia contribuído e muito para o êxito dos dois.
************ ° *************
EM DIREÇÃO A CASTRO.
Aquela noite foi inesquecível, melhor que a da véspera, pensaram em comemorar, todavia não estavam acostumados a beber, assim seria insípido, sem expandirem a alegria reinante, entraram num movimentado bar e pediram um chope, claro ou escuro perguntou o garçom, responderam misturados. O profissional viu que se tratava de “marinheiro de primeira viagem”. Disse-lhes, querem um “tira gosto” ou um sanduíche misto de queijo e presunto. A bebida, depois da saudação, e saborearem o sanduíche, descera rápida, pediram mais um, completavam daquele modo o contentamento reinante. Pensaram em telefonar para as namoradas e o próprio pai, preferiram, no entanto, aguardarem os acontecimentos do dia seguinte. Retornaram ao hotel, sem antes não deixarem de firmar um pacto – “jamais perguntariam à mãe pelo pai” – poderia melindrar e deixá-la humilhada, também não era fato de muita importância, tinham Salvador como tal.
A Freira Rufina lhes recomendara, irem simples, bem vestidos, sem trajarem paletó e gravata, o lugar não comportava, o povo andava costumeiramente com vestimentas de trabalho, as atividades eram quase sempre rurais. O Município vivia da pecuária, local aprazível, cercada de verdes montanhas, fornecia leite e seus derivados para toda a região, inclusive Curitiba, exportando a outros Estados. Seus moradores faziam trabalhos artesanais em seus lares, num labor contínuo. Logo, a ida de terno e gravata despertaria curiosidade, imprópria ao que pretendiam averiguar. A própria Evelim sentir-se-ia contrafeita, distanciaria dos dois, mesmo com a surpresa, amor e carinho que os receberia.
Como no dia anterior, cedo já estavam na rodoviária. Iniciaram à viagem pensativos, até certo ponto assustados. O ônibus não oferecia muito conforto, nele comportava tudo, além dos passageiros, pequena criação, grandes embrulhos, ferramentas, ferragens etc. Mesmo na simplicidade que estavam, os olhares dos passageiros estavam voltados para os dois, desconhecidos e sem vivência permanente naquele transporte. Chegaram à rodoviária procuraram um táxi, conseguiriam chegar ao local indicado pela freira com mais tranqüilidade. O motorista lhes informou, não é perto, fica no bairro Azul, um subúrbio próximo à Cooperativa de Laticínios. Após percorrerem cerca de 25 minutos lá chegaram, era a penúltima casa do lado direito, quase no sopé do morro. O coração dos dois rapazes acelerou mais ainda, A expectativa aumentara, criara-se a imagem como seriam recebidos? Não havia ninguém na rua, a não ser meninos brincando com uma bola de meia, ficaram admirados pela presença do táxi, observaram onde o mesmo estacionaria e correram para suas casas, logo apareceram os moradores bisbilhotando.
Bateram palmas, depois de algum tempo apareceu um senhor de pouco mais de 50 anos, insistiu na indagação, Artur, sempre mais desassombrado, repisou : gostaríamos de falar com D, Evelim. De imediato veio à resposta, aqui não mora nenhuma Evelim. Interveio Pedro, o nome dela é também Ludmila! Repetiu o primeiro esclarecimento, “nem com esse outro nome”. O táxi ainda aguardava, os rapazes não haviam dispensado, ficaram desolados, atônitos, sem saberem o que fariam. A vizinha do lado entrou na conversa – “moços aqui ninguém conhece as pessoas pelos nomes, vocês não sabem ao menos um dos apelidos”?
Artur voltou a falar, não sabemos, apenas conhecemos o sobrenome: Boeckel. Lembrou-se, e deu a resposta: mudou-se daí, há muito tempo, foi com a mulher e dois filhos homens para Laranjeira do Sul, vocês devem estar procurando a “LU”, também conhecida por Evinha, a filha mais nova de seu Boeckel, que vem aqui uma vez ou outra na casa de D. Eulália, costureira. Parece que ela está morando lá pros lados de Morro Azul, com a família da irmã mais velha, Helen. Quem pode dizer direito é D. Eulália, que mora na casa 33.
Dona Eulália era uma senhora de seus 60 anos, recebeu os dois rapazes com desmedido carinho, parecia os conhecer a muitos anos. Convidou os dois a entrarem, na sala além dos móveis próprios, havia uma máquina de costura antiga, ainda tocada a pé e sobre a mesa vários peças e retalhos de pano. Disse logo, vou passar um café para os dois, querem água, parecem cansados. Não sei não, mas estou tentando lembrar-me de onde conheço ambos. Pedro e Artur não falaram nada, preferiram aguardar até onde ia a fala da costureira. Aproximaram-se duas jovens e uma auxiliar da modista.
Decidiram perguntar o endereço de “Lu”, como também era conhecida Evinha, pois queriam avistá-la e não tinham o endereço da irmã dela. Foi o bastante para D. Eulália dissipar a dúvida, recomendou primeiro que as pessoas ali chegadas fossem para o quintal, depois as chamaria de volta. Expressou-se rapidamente, vocês dois são os filhos da Evinha, são a cara dela, como se parecem tanto com ela. Deu-lhes um forte abraço e um beijo na testa de cada um.
Ela nunca deixou de falar de vocês dois, nos primeiros meses da adoção recebia carta da senhora que ficara com vocês, depois o tempo foi passando não teve mais notícias, pensava que a correspondência por ela enviada se dispersava, dado o difícil endereço que morava. Morria de saudades, sempre a pensar como estariam passando, se mantinham boa saúde!
Os jovens que já demonstravam desânimos choraram de alegria, encontraram uma nova Freira Rufina, que vinha minorar suas desesperanças e sofrimentos momentâneos. Confessaram que sim, contaram toda a odisséia, desde quando saíram do Rio até a passagem pela CASA, em Curitiba. A velha D.Eulália lhes disse, dispensem o táxi eu vou fazer um almoço para vocês, depois lhes informo como podem chegar lá. Eram cerca de 12 horas e ela completou, hoje talvez não a encontrem, Evinha sai para trabalhar às 14 horas e só volta tarde da noite, depois de meia noite. Agradeceram o oferecimento do almoço, mas disseram preferimos tentar encontrá-la. A costureira entendeu a ânsia, veio ao portão e deu todas as indicações ao motorista, recomendando, daqui lá vocês devem levar uma hora, se desejarem vê-la ainda hoje devem correr, pena é que tenho compromissos se não faria companhia. Não deixem de voltar aqui, gostaria de conversar mais com os dois.
Partiram, o motorista disse: é longe, não sei se consigo chegar em Morro Azul dentro de uma hora, vamos tentar. Até o motorista estava dedicado à apreensão dos dois rapazes.
Chegaram ao local indicado por D.Eulália, era uma rua simples de terra batida que não alcançava o início do morro, ficava aquém uns quinhentos a seiscentos metros. O carro parou, o condutor lhes disse, tenho de ficar por aqui, não posso mais prosseguir. Os irmãos recomendaram-lhes: permaneça neste lugar, até nós voltarmos, não sabemos se demoraremos e nem sabemos como conseguir um carro para voltarmos. Quanto nós devemos pelas corridas, o motorista ficou meio confuso, não sabia o que eles chamavam de corrida, depois da explicação, disse-lhe: aqui os colegas cobram trinta cruzeiros à hora, já temos 3 horas, vocês me devem 90 cruzeiros, mas vou fazer por 8O. Artur interveio, dizendo nós vamos lhe pagar agora 100 cruzeiros e daremos mais 100 por outras três horas, está certo? O condutor ficou satisfeitíssimo, nunca recebera tanto dinheiro por um serviço igual aquele.
Desceram do carro e começaram a caminhar, tinham que encontrar o sítio do Chico, criador de cabras, não seria tão difícil. À distância viram que vinha uma senhora, perguntariam a ela. Pedro indagou de Artur quantas horas marca seu relógio, o meu parou. Ele respondeu são treze e quarenta, entreolharam-se, um disse ao outro, será que é mamãe? Pedro respondeu, parece que não, ela não pode estar tão idosa. Artur, sempre mais destemido e impulsivo, gritou : D, Evelim? A réplica veio imediata, SOU EU, quem são vocês e o que querem de mim?
Ouviu-se uma voz concomitante: M A M Ã E ! Evinha os abraçou e beijou-lhe em todos os lugares das faces. Como chegaram até aqui, afinal quem é Pedro e quem é Artur? Foram descendo à ladeira abraçados, Artur resolveu interromper a andança, dizendo a onde a senhora pensa que vai? Evelim Ludimila respondeu-lhe: Vou trabalhar, tenho que pegar o ônibus que sai às 14,20. Os dois logo disseram: “Não a senhora hoje não vai trabalhar”, por isso é que estamos aqui. A mãe lhes esclareceu, eu entro às 16 horas no Hotel Savoy e não posso perder a hora. O que Pedro replicou, o máximo que deixaremos fazer é dar um telefonema ao hotel, o carro está ali e a conduzirá até o telefone, dizendo que hoje não irá.
Tudo acontecera diferente do que haviam planejado minuciosamente. Defrontaram com a mãe, sem a conhecê-la, por acaso, numa rua singela na zona rural. O destino lhes favorecera.
Assim foi feito, voltaram para a casa da tia Helen e do Chico, que ficaram surpresos e numa alegria incontida, não sabiam o que faziam.
Justificaram-se, não trouxemos nenhum presente para cada um porque prevaleceu a dúvida como os encontraria, amanhã sem falta repararemos esse lapso.
As 200 cabras de Chico produziam 150 litros de leite por dia, que eram vendidos em Curitiba, tinha dois empregados para ordenhar as caprinas, ele e a mulher auxiliavam porque às 5,30 da manhã tinham de estar na capital. A casa que moravam era rude, de madeira como todas daqueles recantos, com cinco cômodos, 2 quartos, sala, cozinha e banheiro. A moradia estava de costa para a montanha, nas proximidades havia um grande curral, com boxes certos para ordenhas de 15 cabras. Dois dos filhos estudavam no centro da cidade de Castro.
A mãe, Evelim, morava, há 100 metros atrás, numa espécie de barracão de madeira, mais rude ainda que a casa da frente, composta de um alpendre, sala, quarto, cozinha e banheiro, quase sem móveis. Ficara envergonhada de mostrar aos filhos, que insistiram em conhecer. Evinha não falara quanto recebia, mais eles presumiram que era salário-mínimo e desse pagava a irmã mensalmente cinqüenta cruzeiros. Perguntou-lhes, depois de ouvi-los contar todas as peripécias se já haviam almoçado, demonstraram que preferiam tomar café, que por não ter no momento foi à casa da irmã solicitar emprestado um pouco de pó. Essa saída permitiu aos dois trocarem opiniões, acertaram imediatamente que a levariam hoje mesmo dali. Acharam-na muito abatida, cansada, magra e maltratada, tal não poderia continuar nem mais um dia. Após o café, como era costume Artur tomou a palavra, dizendo viemos lhe buscar, a senhora não vai voltar ao trabalho e seguirá com nós dois dentro de no máximo cinco dias para o Rio de Janeiro. A reação veio imediata, não posso, estou bem aqui e nem roupa tenho para acompanhá-los. Pedro explicou, isso não é problema para nós, temos recursos suficientes para enfrentar qualquer situação financeira. Agora, a senhora se prepare como estava vestida: saia cinza xadrez, blusa azul-marinho, sapatos pretos e uma pequena sacola de pano, porque iremos sair, jantar em Curitiba, como falei o carro está lá em baixo nos esperando. Vamos comemorar no bairro Santa Felicidade. Não se preocupe com a roupa, já combinamos, D Eulália nos ajudará a escolher no centro daqui de Castro a vestimenta que mais lhe agradar. A mãe retrucou, não pode ser assim meus filhos, temos de agir com calma e devagar. Artur não se conteve: É para agora, não podemos aguardar que o comércio venha a fechar, estamos esperando na varanda.
Evelim Ludmila relutou um pouco mais, raciocinava humildemente, não posso sair com meus dois filhos, que não os conhecia, depois de uma separação de pouco mais de 19 anos, teria que haver mais expressividade, se apresentar condignamente numa comemoração. Ela não sabia o potencial de recurso que os dois dispunham, daí a preocupação dos gastos que poderiam ter. Mas também não deixou de aquiescer ao convite, poderia resultar numa frustração e afronta, pensou: vieram de tão longe...Preparou-se com o que dispunha, passou pela casa de Helen comunicando-lhe, que talvez chegasse tarde demais, não soltasse os cachorros, até mesmo poderia ficar em Curitiba.
Desceram foram ao encontro do táxi, o motorista assustou-se, estava ressonando, demonstrou alegria, principalmente quando os rapazes apresentaram, essa é nossa mãe, não a víamos há 19 anos. Ele comentou: - eu bem que estava desconfiado. Alguma coisa me dizia existir uma surpresa, ao final da “corrida”, como vocês dizem.
O semblante de cada um expressava alto prazer, incontido contentamento. Pedro recomendou, vamos passar na última casa que tivemos, preciso falar com aquela senhora que esclareceu o lugar onde poderia avistar nossa mãe.
D. Eulália quando viu o carro não se conteve e começou a chorar, tinha propiciado o reencontro tanto aguardado, satisfizera não somente os rapazes mais Evinha, que aos braços dela segredava as amarguras pela ausência eterna dos filhos gêmeos. Artur foi logo falando viemos levá-la para nos auxiliar nas compras de roupas para mamãe. D. Eulália lhes disse: - é um pouco tarde, as lojas do centro devem estar fechadas. Não são muitas, em face da proximidade com Curitiba, talvez não tenham artigos que sejam de agrado de todos. Quando vocês saíram e me pediram para acompanhá-los, providenciei costurar um modelo, que sei ser do agrado de Evinha, ela poderia experimentar. Se der certo, amanhã os acompanharei em Curitiba e teremos oportunidade de ver roupas melhores e mais bonitas. O vestido feito por D. Eulália ficara ótimo, faltavam apenas o sapato, meias e um chinelo, que tentariam solucionar na capital.
Perguntaram ao motorista da possibilidade dele levá-los à Curitiba e lá permanecer para atendê-los e quanto cobraria. O motorista ficou perplexo, quando Pedro o chamou de Renato, como ele sabia do seu nome, respondera está escrito no painel. O condutor comunicou-lhes que sim poderia ir, mas de passagem chegaria em casa, a fim de apanhar uma muda de roupa e na capital poderia ir à casa de um irmão tomar banho, com isso estaria em plena condição.
Com a aceitação geral, rumaram para Curitiba, Artur ficara conversando com o motorista e indagou se ao chegarem lá, duas horas depois, ainda achariam um salão de beleza aberto, que foi por ele confirmado. Recomendou-lhe, siga direto para o salão. Bem ao lado havia uma sapataria, mais uma vez a sorte estava favorecendo aqueles filhos adoráveis. Na sapataria não foi difícil conseguir o que Evelim pensara, a meia, um balconista saiu correndo para consegui-la.
Artur, enquanto os dois permaneciam na sapataria, dirigiu-se ao salão de beleza, em voz alta proclamou: “Qual o melhor de vocês para embelezar uma senhora, guardando as características de quando ela era ainda moça, darei 100 cruzeiros de gorjeta ao profissional mais habilidoso”. O gerente do salão comentou esse moço deve ser “CARIOCA”, daqui não é, porque não teria essa atitude, nem tão grande ousadia. Tratem de caprichar, porque embora brincalhão tem cara de exigente.
Uma vez mais Ludmila relutou em entrar no salão, achava que os seus filhos haviam feito muito e seria dispensável se embelezar.
Pedro quebrou o comedimento da mãe, ao dizer: “Estamos atrasados dezenove anos com a senhora”.
Os profissionais do salão ficaram estupefatos, quando os dois disseram: “Essa é a nossa mãe, caprichem”.
Haviam esquecido do motorista, foram ao encontro dele, pagaram o restante, perguntaram se havia comido alguma coisa. Se ele poderia aguardar para irem ao Hotel Del Rey, pagarem a conta, porque mudariam para o Savoy Hotel e a seguir jantariam no bairro Santa Felicidade. Como ele conciliaria tudo aquilo? Queria ir à casa do irmão ou achava melhor chamarem outro táxi. O motorista lhes pediu para ver quanto tempo à senhora permaneceria no salão. Vieram com a resposta, cerca de duas a duas horas e meia. Dá tempo, os levarei ao hotel e depois irei à casa do meu irmão, tomar banho, mudar de roupa e estarei aqui na hora certa.
Do hotel Del Rey resolveram ligar o telefone para casa no Rio e darem à notícia auspiciosa ao pai, Salvador Miranda. Não conseguiram encontrá-lo. Pediram uma ligação para a residência das namoradas, cada um falou com sua eleita e transmitiram a grandiosa informação, estamos com mamãe, conseguimos encontrá-la aqui em Curitiba, a levaremos de avião dentro de sete a dez dias, vivemos um momento de grande felicidade, agora ela se encontra num salão de beleza, pois jantaremos no bairro mais tradicional daqui. Mudaremos de hotel, iremos para o Savoy Hotel, juntamente com ela. Não conseguimos dar a boa notícia a papai, ele não estava em casa, amanhã voltaremos a nos comunicar com ele. De lá, Simone respondeu, temos também uma informação para vocês, seu Salvador trouxe de Portugal a antiga namorada Manoela. Tudo ficou confuso e embaralhado, quebrara-se o encanto do dia, ela estava hospedada em nossa casa.
************ ° ************
A TRIUNFAL ENTRADA NO SAVOY.
Agora teriam um problema a mais para resolver, como tirariam de sua casa a tal da Manoela, que seu pai de criação trouxera de Portugal, para que sua mãe Evelim fosse ali morar. Não discutiram os dois irmãos: Artur dera sem tardança a decisão, não vamos perder a nossa alegria do dia de hoje, amanhã ou depois, falarei por telefone e recomendo que consiga uma casa para ir morar com a Manoela, afinal a casa nos pertence, ou passem a residir num hotel até nossa chegada dentro de 7 a 10 dias. Hoje a noite é de nós três, vamos aproveitá-la.
Artur guardava mais simpatia pela futura cunhada, Simone, nunca comentou com o irmão, e este jamais desconfiou. Seu pensamento se apegava ao carinho que Simone dispensava a Pedro, as gentilezas que ela prestava, denotava existir mais amor. Paralelamente, pensava é que Mônica, mais moça não tinha ainda os predicados que vislumbrava na outra, o tempo habilitaria sua cortejada. Talvez a viagem fizesse desaparecer aquela imagem e harmonizaria o extravagante pensamento, em tempo nenhum imaginou magoar o irmão.
Partiram, primeiro rumo mesmo a São Paulo, porquanto Salvador levou-lhes ao terminal rodoviário, juntamente com Zeca, Joana e os filhos. Ao chegarem comprariam logo passagens para Curitiba, porque desejavam, na própria 2ª feira, iniciarem as diligências, que os levariam ao paradeiro da mãe, cujo nome desconheciam. As viagens transcorreram tranqüilas. Gostaram mais da estrada Rio-São Paulo, embora com trânsito intenso, o asfalto e o traçado favoreciam melhor a movimentação do possante auto-ônibus. De São Paulo a Curitiba a caminhada não foi tão serena, pista única, movimento muito grande, principalmente de caminhões, estrada ainda por asfaltar, ensejou-lhes maiores preocupações, a denotada Regis Bitencourt.
Enfim chegaram ao destino desejado. Pensaram, não deveriam ir direto à CASA e sim a um hotel, o escolhido foi o Del Rey, por ser no centro da cidade, onde tomariam um bom banho, trocariam de roupas e apresentar-se-iam no Centro de Adoções, condignamente. Assim fizeram, sabiam a rua, mas não a localização, perguntaram primeiro na portaria do hotel e depois a um motorista de táxi, que lhes informou é num bairro, não longe daqui, talvez difícil seja encontra a moradia. Resolveram ir mesmo de automóvel, rápido lá chegaram, a sensação foi estranha e grandiosa, pareceu-lhes que conheciam o lugar, razoável, não condizia com a realidade.
Ao chegarem à portaria foram atendidos por um senhor idoso, que achou incomum a presença de dois rapazes, já que quase sempre apareciam casais e de idades adultas. Informaram que desejavam falar com o padre Palhano ou a irmã Clementina; ficaram chocados quando souberam que ambos já haviam morrido há algum tempo, estavam nos seus lugares, respectivamente, o padre Tomaz e a irmã Cremilda. Levados à presença da segunda, por prudência disseram que foram recomendados pelo vigário da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, do Rio de Janeiro e eram portadores de uma carta de apresentação, sem exibi-la. Adiantaram logo o assunto: eram órfãos e desejavam saber do paradeiro de sua mãe natural, porquanto foram adotados há 19 anos atrás, por interferência deste Centro de Adoção. A irmã Clementina nem deixou a conversa se prolongar mais, sendo peremptória: “Nós aqui temos por norma não prestar informações dessa natureza, é impossível atendê-los”. Tentaram um entendimento com o padre Tomaz, que avisado por Clementina, negou-se recebê-los. Uma freira que estava próxima ouvira a conversa e ficara sensibilizada da aspiração, resolveu, voluntariamente, ajudar os dois irmãos, que vieram de tão longe, imbuídos de elevados propósitos. Disse-lhes, eu sou freira Rufina, posso ajudá-los, estou aqui há 20 anos, à época era simples noviça, geralmente recordo-me de tudo, apesar do grande movimento aqui na CASA. Hoje, sou secretária geral da instituição, tenho em meu poder todos os livros de registros, fichas e anotações, que poderei consultá-los. Pedro e Artur criaram “alma nova”, resplandeceram as esperanças, pensaram: teria havido auxílio de sua mãe Elizabeth, que possivelmente estaria no céu?
Sem subterfúgios a freira Rufina, informou-lhes hoje mesmo às 14 horas estarei no Cartório da Vara de Menores, lá poderemos falar com mais tranqüilidade, aguardarei vocês naquele lugar.
Aquele comportamento não poderia ser entendido como quebra de disciplina, nem mesmo escuso procedimento pecaminoso, afinal estaria ela, como religiosa, auxiliando dois rapazes descobrirem o destino da verdadeira mãe, gesto de nobreza, amor e carinho. Mais engrandecido se tornava porque eram ricos, dispunham de grande patrimônio, e poderiam até auxiliar a verdadeira mãe se essa necessitasse.
Trocaram opinião, a freira Rufina tinha uma memória invejável, recordou-se com detalhes, acrescentou que ficara com os dois no hotel, juntamente com a mãe, para que esta os amamentasse, durante dez dias, até partirem em definitivo com os adotivos. A adotante se ausentara algumas vezes para comprar roupas, agasalhos, inclusive para a instituição, e um carrinho duplo, porque regressariam de avião. Disse mais: estava desejosa de contratar uma auxiliar que seguisse com ela, e depois voltaria, a fim de facilitar no trajeto. Contratou uma nutricionista que preparou todas as mamadeiras, água, colocadas numa geladeira portátil.
Ao final, exclamou a Freira: “Como me sinto feliz em vê-los, fortes, sadios e nobres”, tive a honra de participar do alvissareiro acontecimento, hoje mesmo chegando na CASA vou começar a pesquisar. Amanhã poderão voltar lá mesmo, vou falar com o Padre Tomaz e garanto que ele nos apoiará e já possivelmente terei uma posição. Têm alguma anotação do dia do registro de nascimento? Responderam que sim! Após retornarem ao hotel, voltaram ao Centro e entregaram à freira Rufina, não somente as certidões de nascimentos, também outros documentos esclarecedores.
Estavam loucos para amanhecer, tornou-se difícil conciliar o sono, conversaram interminavelmente, estavam sonhando de olhos aberto, acreditaram terem sido agraciado com uma dádiva do céu, aquela conjuntura do auxílio e boa vontade da freira Rufina.
Logo cedo, banharam-se, tomaram o café matinal, vestiram a roupa mais elegante e partiram para a CASA. O semblante de alegria estava no rosto de cada um dos irmãos. Aguardaram por alguns momentos a freira poder atendê-los. Notaram desde logo a recíproca, a fisionomia dela estampava nítido êxito. Após o cumprimento, Rufina lhes transmitiu: encontrei todas as anotações; conversei com o Padre Tomaz que me autorizou a fornecer os dados existentes. Vou pedir-lhes que não se comovam, nem fiquem emocionados, as crianças que aqui estão poderão notar, traumatizarão.
A mãe de vocês se chama Evelim Ludmila Boeckel, residia num município próximo daqui, Castro, há cerca de 2 ou 2 horas e meia de ônibus. Chegou à CASA no dia 9 de fevereiro de 1.975, vestida simplesmente, sem outras roupas, nem para o neném que nasceria. Aparentava ter uns 17 anos de idade, hoje, portanto estaria com 36 anos. Foi transferida imediatamente para nossa enfermaria-hospital, sendo submetida aos exames rotineiros. A médica que a atendeu teve uma surpresa, não era apenas um bebe que esperava e sim dois, os cuidados foram redobrados, o Padre Palhano e a irmã Clementina depois de uma reunião resolveram convocar um obstetra que atendia o Centro, especialmente, porque ela não fizera qualquer tratamento e acompanhamento pré-natal. Cinco dias depois, vocês nasceram, tudo correra normal, portanto no dia 14 de maio daquele ano. Já por diversas vezes aqui estivera D. Elizabeth, acompanhada do marido, Sr. Salvador, que se ausentou por problemas de trabalho.
Evelim informara a assistente social que desejava dar as crianças, não poderia levá-las para casa dos pais, insurgentes com a gravidez da filha, mostraram-se rebeldes em terem os futuros netos.
Convocaram D. Elizabeth para uma conversa e ficaram alegres com a imediata aprovação da adoção, Evelim fez um apelo para que levasse os dois, não desejava vê-los separados, deveriam ser criados juntos. D. Elizabeth aquiesceu desde logo, sem a menor restrição. Propôs ser chamado urgentemente um pediatra para atender vocês e comunicou ao Diretor que assumiria todas as despesas relacionadas ao parto e nascimento. Saiu porta afora para comprar uma dúzia de enxovais, fraudas e tudo mais indispensável às crianças. O padre Palhano e a irmã Clementina autorizaram que eu a acompanhasse.
Os processos de adoções seriam demorados, demandaria uma série de exigências à solução, inclusive seria indispensável à presença do Sr.Salvador, aventou-se a hipótese de registrar, com a anuência da mãe,como filhos legítimos dos dois: Elizabeth e Salvador, assim foi feito. Passados dois dias foram todos para o hotel Climax, onde estava hospedada sua mãe, sendo acompanhada de Evelim para amamentá-los e uma enfermeira, que ocuparam dois apartamentos. Os registros de nascimentos contaram com as presenças da médica parteira e a própria mãe dos filhos registrados, que serviram como testemunhas, providência essa para evitar especulação que poderia ter sido cometido uma falsidade ideológica, embora antes o Padre Palhano desce ciência ao Juiz da Vara de Menores, falado ao Promotor da iniciativa adotada. O Sr. Salvador Miranda foi representado pelo Provedor da CASA, Dr. Ayrton Pimentel Barboza, por procuração que chegara do Rio de Janeiro. O Padre Palhano gozava de muita estima no meio forense pelos relevantes serviços que prestava à sociedade de Curitiba, porque não dizer de todo Paraná.
Dez dias depois vocês seguiram de avião para o Rio de Janeiro, todos nós, Padre Palhano, irmã Clementina e eu fomos levá-los ao aeroporto, sem a presença de sua mãe que seguiu para Castro, ficaria na residência de uma irmã. D Elizabeth cercou-lhe dos maiores cuidados, inclusive auxiliando para as despesas que pudesse ter.
Pedro e Artur ouviram em completo silêncio. Atenderam ao pedido da freira Rufina, não se deixaram trair por violenta emoção, apenas em certos momentos lacrimejaram. Agradeceram ao padre Tomaz e as duas freiras, aí pediram o endereço da mãe em Castro, porque iriam procurá-la.
A freira propôs lhe acompanhar até Castro, agradeceram e dispensaram, poderia causar dificuldades a ela própria perante a CASA e a mãe ficar consternada, sentindo-se traída pela divulgação da freira. O auxílio que ela poderia prestar, talvez transformasse em grande problema, ela já havia contribuído e muito para o êxito dos dois.
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EM DIREÇÃO A CASTRO.
Aquela noite foi inesquecível, melhor que a da véspera, pensaram em comemorar, todavia não estavam acostumados a beber, assim seria insípido, sem expandirem a alegria reinante, entraram num movimentado bar e pediram um chope, claro ou escuro perguntou o garçom, responderam misturados. O profissional viu que se tratava de “marinheiro de primeira viagem”. Disse-lhes, querem um “tira gosto” ou um sanduíche misto de queijo e presunto. A bebida, depois da saudação, e saborearem o sanduíche, descera rápida, pediram mais um, completavam daquele modo o contentamento reinante. Pensaram em telefonar para as namoradas e o próprio pai, preferiram, no entanto, aguardarem os acontecimentos do dia seguinte. Retornaram ao hotel, sem antes não deixarem de firmar um pacto – “jamais perguntariam à mãe pelo pai” – poderia melindrar e deixá-la humilhada, também não era fato de muita importância, tinham Salvador como tal.
A Freira Rufina lhes recomendara, irem simples, bem vestidos, sem trajarem paletó e gravata, o lugar não comportava, o povo andava costumeiramente com vestimentas de trabalho, as atividades eram quase sempre rurais. O Município vivia da pecuária, local aprazível, cercada de verdes montanhas, fornecia leite e seus derivados para toda a região, inclusive Curitiba, exportando a outros Estados. Seus moradores faziam trabalhos artesanais em seus lares, num labor contínuo. Logo, a ida de terno e gravata despertaria curiosidade, imprópria ao que pretendiam averiguar. A própria Evelim sentir-se-ia contrafeita, distanciaria dos dois, mesmo com a surpresa, amor e carinho que os receberia.
Como no dia anterior, cedo já estavam na rodoviária. Iniciaram à viagem pensativos, até certo ponto assustados. O ônibus não oferecia muito conforto, nele comportava tudo, além dos passageiros, pequena criação, grandes embrulhos, ferramentas, ferragens etc. Mesmo na simplicidade que estavam, os olhares dos passageiros estavam voltados para os dois, desconhecidos e sem vivência permanente naquele transporte. Chegaram à rodoviária procuraram um táxi, conseguiriam chegar ao local indicado pela freira com mais tranqüilidade. O motorista lhes informou, não é perto, fica no bairro Azul, um subúrbio próximo à Cooperativa de Laticínios. Após percorrerem cerca de 25 minutos lá chegaram, era a penúltima casa do lado direito, quase no sopé do morro. O coração dos dois rapazes acelerou mais ainda, A expectativa aumentara, criara-se a imagem como seriam recebidos? Não havia ninguém na rua, a não ser meninos brincando com uma bola de meia, ficaram admirados pela presença do táxi, observaram onde o mesmo estacionaria e correram para suas casas, logo apareceram os moradores bisbilhotando.
Bateram palmas, depois de algum tempo apareceu um senhor de pouco mais de 50 anos, insistiu na indagação, Artur, sempre mais desassombrado, repisou : gostaríamos de falar com D, Evelim. De imediato veio à resposta, aqui não mora nenhuma Evelim. Interveio Pedro, o nome dela é também Ludmila! Repetiu o primeiro esclarecimento, “nem com esse outro nome”. O táxi ainda aguardava, os rapazes não haviam dispensado, ficaram desolados, atônitos, sem saberem o que fariam. A vizinha do lado entrou na conversa – “moços aqui ninguém conhece as pessoas pelos nomes, vocês não sabem ao menos um dos apelidos”?
Artur voltou a falar, não sabemos, apenas conhecemos o sobrenome: Boeckel. Lembrou-se, e deu a resposta: mudou-se daí, há muito tempo, foi com a mulher e dois filhos homens para Laranjeira do Sul, vocês devem estar procurando a “LU”, também conhecida por Evinha, a filha mais nova de seu Boeckel, que vem aqui uma vez ou outra na casa de D. Eulália, costureira. Parece que ela está morando lá pros lados de Morro Azul, com a família da irmã mais velha, Helen. Quem pode dizer direito é D. Eulália, que mora na casa 33.
Dona Eulália era uma senhora de seus 60 anos, recebeu os dois rapazes com desmedido carinho, parecia os conhecer a muitos anos. Convidou os dois a entrarem, na sala além dos móveis próprios, havia uma máquina de costura antiga, ainda tocada a pé e sobre a mesa vários peças e retalhos de pano. Disse logo, vou passar um café para os dois, querem água, parecem cansados. Não sei não, mas estou tentando lembrar-me de onde conheço ambos. Pedro e Artur não falaram nada, preferiram aguardar até onde ia a fala da costureira. Aproximaram-se duas jovens e uma auxiliar da modista.
Decidiram perguntar o endereço de “Lu”, como também era conhecida Evinha, pois queriam avistá-la e não tinham o endereço da irmã dela. Foi o bastante para D. Eulália dissipar a dúvida, recomendou primeiro que as pessoas ali chegadas fossem para o quintal, depois as chamaria de volta. Expressou-se rapidamente, vocês dois são os filhos da Evinha, são a cara dela, como se parecem tanto com ela. Deu-lhes um forte abraço e um beijo na testa de cada um.
Ela nunca deixou de falar de vocês dois, nos primeiros meses da adoção recebia carta da senhora que ficara com vocês, depois o tempo foi passando não teve mais notícias, pensava que a correspondência por ela enviada se dispersava, dado o difícil endereço que morava. Morria de saudades, sempre a pensar como estariam passando, se mantinham boa saúde!
Os jovens que já demonstravam desânimos choraram de alegria, encontraram uma nova Freira Rufina, que vinha minorar suas desesperanças e sofrimentos momentâneos. Confessaram que sim, contaram toda a odisséia, desde quando saíram do Rio até a passagem pela CASA, em Curitiba. A velha D.Eulália lhes disse, dispensem o táxi eu vou fazer um almoço para vocês, depois lhes informo como podem chegar lá. Eram cerca de 12 horas e ela completou, hoje talvez não a encontrem, Evinha sai para trabalhar às 14 horas e só volta tarde da noite, depois de meia noite. Agradeceram o oferecimento do almoço, mas disseram preferimos tentar encontrá-la. A costureira entendeu a ânsia, veio ao portão e deu todas as indicações ao motorista, recomendando, daqui lá vocês devem levar uma hora, se desejarem vê-la ainda hoje devem correr, pena é que tenho compromissos se não faria companhia. Não deixem de voltar aqui, gostaria de conversar mais com os dois.
Partiram, o motorista disse: é longe, não sei se consigo chegar em Morro Azul dentro de uma hora, vamos tentar. Até o motorista estava dedicado à apreensão dos dois rapazes.
Chegaram ao local indicado por D.Eulália, era uma rua simples de terra batida que não alcançava o início do morro, ficava aquém uns quinhentos a seiscentos metros. O carro parou, o condutor lhes disse, tenho de ficar por aqui, não posso mais prosseguir. Os irmãos recomendaram-lhes: permaneça neste lugar, até nós voltarmos, não sabemos se demoraremos e nem sabemos como conseguir um carro para voltarmos. Quanto nós devemos pelas corridas, o motorista ficou meio confuso, não sabia o que eles chamavam de corrida, depois da explicação, disse-lhe: aqui os colegas cobram trinta cruzeiros à hora, já temos 3 horas, vocês me devem 90 cruzeiros, mas vou fazer por 8O. Artur interveio, dizendo nós vamos lhe pagar agora 100 cruzeiros e daremos mais 100 por outras três horas, está certo? O condutor ficou satisfeitíssimo, nunca recebera tanto dinheiro por um serviço igual aquele.
Desceram do carro e começaram a caminhar, tinham que encontrar o sítio do Chico, criador de cabras, não seria tão difícil. À distância viram que vinha uma senhora, perguntariam a ela. Pedro indagou de Artur quantas horas marca seu relógio, o meu parou. Ele respondeu são treze e quarenta, entreolharam-se, um disse ao outro, será que é mamãe? Pedro respondeu, parece que não, ela não pode estar tão idosa. Artur, sempre mais destemido e impulsivo, gritou : D, Evelim? A réplica veio imediata, SOU EU, quem são vocês e o que querem de mim?
Ouviu-se uma voz concomitante: M A M Ã E ! Evinha os abraçou e beijou-lhe em todos os lugares das faces. Como chegaram até aqui, afinal quem é Pedro e quem é Artur? Foram descendo à ladeira abraçados, Artur resolveu interromper a andança, dizendo a onde a senhora pensa que vai? Evelim Ludimila respondeu-lhe: Vou trabalhar, tenho que pegar o ônibus que sai às 14,20. Os dois logo disseram: “Não a senhora hoje não vai trabalhar”, por isso é que estamos aqui. A mãe lhes esclareceu, eu entro às 16 horas no Hotel Savoy e não posso perder a hora. O que Pedro replicou, o máximo que deixaremos fazer é dar um telefonema ao hotel, o carro está ali e a conduzirá até o telefone, dizendo que hoje não irá.
Tudo acontecera diferente do que haviam planejado minuciosamente. Defrontaram com a mãe, sem a conhecê-la, por acaso, numa rua singela na zona rural. O destino lhes favorecera.
Assim foi feito, voltaram para a casa da tia Helen e do Chico, que ficaram surpresos e numa alegria incontida, não sabiam o que faziam.
Justificaram-se, não trouxemos nenhum presente para cada um porque prevaleceu a dúvida como os encontraria, amanhã sem falta repararemos esse lapso.
As 200 cabras de Chico produziam 150 litros de leite por dia, que eram vendidos em Curitiba, tinha dois empregados para ordenhar as caprinas, ele e a mulher auxiliavam porque às 5,30 da manhã tinham de estar na capital. A casa que moravam era rude, de madeira como todas daqueles recantos, com cinco cômodos, 2 quartos, sala, cozinha e banheiro. A moradia estava de costa para a montanha, nas proximidades havia um grande curral, com boxes certos para ordenhas de 15 cabras. Dois dos filhos estudavam no centro da cidade de Castro.
A mãe, Evelim, morava, há 100 metros atrás, numa espécie de barracão de madeira, mais rude ainda que a casa da frente, composta de um alpendre, sala, quarto, cozinha e banheiro, quase sem móveis. Ficara envergonhada de mostrar aos filhos, que insistiram em conhecer. Evinha não falara quanto recebia, mais eles presumiram que era salário-mínimo e desse pagava a irmã mensalmente cinqüenta cruzeiros. Perguntou-lhes, depois de ouvi-los contar todas as peripécias se já haviam almoçado, demonstraram que preferiam tomar café, que por não ter no momento foi à casa da irmã solicitar emprestado um pouco de pó. Essa saída permitiu aos dois trocarem opiniões, acertaram imediatamente que a levariam hoje mesmo dali. Acharam-na muito abatida, cansada, magra e maltratada, tal não poderia continuar nem mais um dia. Após o café, como era costume Artur tomou a palavra, dizendo viemos lhe buscar, a senhora não vai voltar ao trabalho e seguirá com nós dois dentro de no máximo cinco dias para o Rio de Janeiro. A reação veio imediata, não posso, estou bem aqui e nem roupa tenho para acompanhá-los. Pedro explicou, isso não é problema para nós, temos recursos suficientes para enfrentar qualquer situação financeira. Agora, a senhora se prepare como estava vestida: saia cinza xadrez, blusa azul-marinho, sapatos pretos e uma pequena sacola de pano, porque iremos sair, jantar em Curitiba, como falei o carro está lá em baixo nos esperando. Vamos comemorar no bairro Santa Felicidade. Não se preocupe com a roupa, já combinamos, D Eulália nos ajudará a escolher no centro daqui de Castro a vestimenta que mais lhe agradar. A mãe retrucou, não pode ser assim meus filhos, temos de agir com calma e devagar. Artur não se conteve: É para agora, não podemos aguardar que o comércio venha a fechar, estamos esperando na varanda.
Evelim Ludmila relutou um pouco mais, raciocinava humildemente, não posso sair com meus dois filhos, que não os conhecia, depois de uma separação de pouco mais de 19 anos, teria que haver mais expressividade, se apresentar condignamente numa comemoração. Ela não sabia o potencial de recurso que os dois dispunham, daí a preocupação dos gastos que poderiam ter. Mas também não deixou de aquiescer ao convite, poderia resultar numa frustração e afronta, pensou: vieram de tão longe...Preparou-se com o que dispunha, passou pela casa de Helen comunicando-lhe, que talvez chegasse tarde demais, não soltasse os cachorros, até mesmo poderia ficar em Curitiba.
Desceram foram ao encontro do táxi, o motorista assustou-se, estava ressonando, demonstrou alegria, principalmente quando os rapazes apresentaram, essa é nossa mãe, não a víamos há 19 anos. Ele comentou: - eu bem que estava desconfiado. Alguma coisa me dizia existir uma surpresa, ao final da “corrida”, como vocês dizem.
O semblante de cada um expressava alto prazer, incontido contentamento. Pedro recomendou, vamos passar na última casa que tivemos, preciso falar com aquela senhora que esclareceu o lugar onde poderia avistar nossa mãe.
D. Eulália quando viu o carro não se conteve e começou a chorar, tinha propiciado o reencontro tanto aguardado, satisfizera não somente os rapazes mais Evinha, que aos braços dela segredava as amarguras pela ausência eterna dos filhos gêmeos. Artur foi logo falando viemos levá-la para nos auxiliar nas compras de roupas para mamãe. D. Eulália lhes disse: - é um pouco tarde, as lojas do centro devem estar fechadas. Não são muitas, em face da proximidade com Curitiba, talvez não tenham artigos que sejam de agrado de todos. Quando vocês saíram e me pediram para acompanhá-los, providenciei costurar um modelo, que sei ser do agrado de Evinha, ela poderia experimentar. Se der certo, amanhã os acompanharei em Curitiba e teremos oportunidade de ver roupas melhores e mais bonitas. O vestido feito por D. Eulália ficara ótimo, faltavam apenas o sapato, meias e um chinelo, que tentariam solucionar na capital.
Perguntaram ao motorista da possibilidade dele levá-los à Curitiba e lá permanecer para atendê-los e quanto cobraria. O motorista ficou perplexo, quando Pedro o chamou de Renato, como ele sabia do seu nome, respondera está escrito no painel. O condutor comunicou-lhes que sim poderia ir, mas de passagem chegaria em casa, a fim de apanhar uma muda de roupa e na capital poderia ir à casa de um irmão tomar banho, com isso estaria em plena condição.
Com a aceitação geral, rumaram para Curitiba, Artur ficara conversando com o motorista e indagou se ao chegarem lá, duas horas depois, ainda achariam um salão de beleza aberto, que foi por ele confirmado. Recomendou-lhe, siga direto para o salão. Bem ao lado havia uma sapataria, mais uma vez a sorte estava favorecendo aqueles filhos adoráveis. Na sapataria não foi difícil conseguir o que Evelim pensara, a meia, um balconista saiu correndo para consegui-la.
Artur, enquanto os dois permaneciam na sapataria, dirigiu-se ao salão de beleza, em voz alta proclamou: “Qual o melhor de vocês para embelezar uma senhora, guardando as características de quando ela era ainda moça, darei 100 cruzeiros de gorjeta ao profissional mais habilidoso”. O gerente do salão comentou esse moço deve ser “CARIOCA”, daqui não é, porque não teria essa atitude, nem tão grande ousadia. Tratem de caprichar, porque embora brincalhão tem cara de exigente.
Uma vez mais Ludmila relutou em entrar no salão, achava que os seus filhos haviam feito muito e seria dispensável se embelezar.
Pedro quebrou o comedimento da mãe, ao dizer: “Estamos atrasados dezenove anos com a senhora”.
Os profissionais do salão ficaram estupefatos, quando os dois disseram: “Essa é a nossa mãe, caprichem”.
Haviam esquecido do motorista, foram ao encontro dele, pagaram o restante, perguntaram se havia comido alguma coisa. Se ele poderia aguardar para irem ao Hotel Del Rey, pagarem a conta, porque mudariam para o Savoy Hotel e a seguir jantariam no bairro Santa Felicidade. Como ele conciliaria tudo aquilo? Queria ir à casa do irmão ou achava melhor chamarem outro táxi. O motorista lhes pediu para ver quanto tempo à senhora permaneceria no salão. Vieram com a resposta, cerca de duas a duas horas e meia. Dá tempo, os levarei ao hotel e depois irei à casa do meu irmão, tomar banho, mudar de roupa e estarei aqui na hora certa.
Do hotel Del Rey resolveram ligar o telefone para casa no Rio e darem à notícia auspiciosa ao pai, Salvador Miranda. Não conseguiram encontrá-lo. Pediram uma ligação para a residência das namoradas, cada um falou com sua eleita e transmitiram a grandiosa informação, estamos com mamãe, conseguimos encontrá-la aqui em Curitiba, a levaremos de avião dentro de sete a dez dias, vivemos um momento de grande felicidade, agora ela se encontra num salão de beleza, pois jantaremos no bairro mais tradicional daqui. Mudaremos de hotel, iremos para o Savoy Hotel, juntamente com ela. Não conseguimos dar a boa notícia a papai, ele não estava em casa, amanhã voltaremos a nos comunicar com ele. De lá, Simone respondeu, temos também uma informação para vocês, seu Salvador trouxe de Portugal a antiga namorada Manoela. Tudo ficou confuso e embaralhado, quebrara-se o encanto do dia, ela estava hospedada em nossa casa.
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A TRIUNFAL ENTRADA NO SAVOY.
Agora teriam um problema a mais para resolver, como tirariam de sua casa a tal da Manoela, que seu pai de criação trouxera de Portugal, para que sua mãe Evelim fosse ali morar. Não discutiram os dois irmãos: Artur dera sem tardança a decisão, não vamos perder a nossa alegria do dia de hoje, amanhã ou depois, falarei por telefone e recomendo que consiga uma casa para ir morar com a Manoela, afinal a casa nos pertence, ou passem a residir num hotel até nossa chegada dentro de 7 a 10 dias. Hoje a noite é de nós três, vamos aproveitá-la.