FACULDADE EM BELÉM DO PARÁ
Era inverno. As margens da BR 316 estavam verdejantes. A caatinga nordestina exibia a sua bela flora. Jitirana florida e maracujá da serra entrelaçavam-se disputando espaço na ramagem da chapada. As pétalas roxas do maracujá destacavam-se pela beleza de suas cores: roxa, amarela e branca. No centro, pistilos em forma de cruz, lembravam a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo – estávamos viajando de ônibus da capital do Piauí com destino a Belém do Pará. Houvera sido aprovada, estava, pois, habilitada a cursar faculdade – conseguira uma bolsa no Estado.
Os Bolsistas, moças e rapazes oriundos de Teresina, de cidades do interior do Estado do Piauí e do Maranhão, lotavam o ônibus cedido pela Secretaria da Educação do Piauí para cursarem especialização no magistério na Universidade Federal do Pará. Todos com alegria sonhavam com o aprimoramento do saber, nos campos profissional, social e cultural. Conhecer a Amazônia, suas maravilhas, situações climáticas tão diferentes da nossa. Era a realização de um sonho muito agradável.
Acomodados nas poltronas. Os extrovertidos sorriam e contavam piadas, os outros, calavam-se. Atravessamos o Maranhão passando por diversas cidades e entramos na região amazônica - Norte do Brasil. À margem da estrada, o verde-escuro predominava, capinzal alto parecia mais uma plantação de cana-de-açúcar... árvores altas e frondosas vestidas de verde geravam uma imagem oposta à cor pálido-amarelada conhecida nos vizinhos Estados do Piauí, Ceará e Paraíba... Por um momento senti a serenidade climática, esquecendo a terra rachada, cadáveres de animais, tão comuns ao sertão nordestino em época de seca.
Sabemos que no subsolo do Nordeste existe um grande lençol freático de água potável que, se houvesse boa vontade das autoridades competentes, poderiam transformar a região num importante celeiro alimentício e até mesmo industrial. Entretanto, as políticas governamentais, que pretenderam minimizar o problema da seca, consistiram numa disputa de poder; fomentaram a instalação de currais eleitorais e desencadearam a Indústria da Seca.
O Nordestino não merece viver de esmolas ou paternalismo, é forte e corajoso; precisamos que nosso potencial de terras férteis seja aproveitado.
Assim, enquanto o ônibus deslizava no asfalto, eu divagava entre a soberba floresta amazônica e a sequidão do Nordeste - meus pensamentos só froram interrompidos quando o ônibus parou em frente ao pensionato: havíamos chegado a Belém do Pará!
Contentes e felizes, com 22:00h de viagem, entramos no pensionato modestamente criado para abrigar os Bolsistas. Lá encontrei muitas dificuldades, como por exemplo: diferentes tipos de alimentação que não agradavam ao meu paladar; água bebida em temperatura ambiente, pois não havia geladeira...
Sabiamente, mudamos para outro pensionato: o Santa Maria de Belém, coordenado por freiras, na Rua dos Mundurucus, próxima à Praça Batista Campos - linda e maravilhosa! Comigo foram Antônia Ilza, do Curso de Saúde, Socorro Alves, do Curso de Química; e encontramos Ana Maria (de Parnaíba), Lúcia Coutinho (de Teresina), Magalônia e outras que me falham à memória.
No que diz respeito ao Curso de Saúde, o corpo docente constituía-se de professores que da Universidade Federal do Pará. A parte técnica das aulas foi realizada na Faculdade de Medicina, o estágio, no Hospital Santa Maria de Belém, enquanto as partes propedêuticas e pedagógicas, no Centro de Treinamento da Amazônia - CTAM.
A grade curricular incluía excursões e visitas a empresas e instituições de saúde, tais como: Estação de Tratamento de Água, Estação de Tratamento e Aproveitamento do Lixo, Hospitais, Museus, Fábrica de Refrigerantes, bosques e o Museu Emílio Goldi, encantador pela história indígena e diversidade de relíquias do reino mineral, animal e vegetal.
Foi muito bom conciliar trabalho e lazer. Vivi com intensidade e alegria - quase voltei a ser criança – os costumes e hábitos paraenses, desfrutando as maravilhas naturais que a região amazônica oferece. Conheci as belas praias: Soure na Ilha de Marajó, Salinópoles, Mosqueiro, entre outras. E ainda, assisti a uma ópera no Teatro da Paz e vi danças folclóricas ao ar livre.
Belém é uma cidade importante pela cultura do seu povo, principalmente pela crença religiosa. A cidade recebe e acolhe calorosamente a multidão de fiéis devotos vindos do interior do Estado e de outros. Cristãos fervorosos, entram e se ajoelham na Igreja, pedem a intercessão da Santa para solução de seus problemas mais diversos. Outros chegam de pés descalços, pedras na cabeça, como forma de penitência ou agradecimento por uma graça alcançada.
A Basílica, majestosa e deslumbrante, é magnificamente decorada com tapetes e lindos crisântemos naturais. Nela se realizam, durante o Sírio de Nazaré as novenas e missas concelebradas pelo Bispo e sacerdotes , acompanhadas solenemente por músicas sacras.
A procissão, juntamente com a imagem de Nossa Senhora, sai da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré e vai pelo corredor improvisado. Por onde passa o povo se emociona, uns choram, outros atiram pétalas de rosas. A procissão percorre as principais ruas da cidade até a Igreja da Sé.
Duas cordas paralelas separam a multidão de fiéis dos sacerdotes e religiosos que caminham harmoniosamente no espaço entre as cordas. Os pagadores de promessas e os devotos que querem alcançar graças materiais e espirituais puxam as cordas, formando um corredor humano. Fogos de artifícios são queimados produzindo magníficas imagens e pontos luminosos no céu.
Durante os festejos do Sírio, há nos arredores da Basílica parques de diversões para todas as idades. Nas quermesses, são oferecidas as comidas típicas regionais: o tacacá, tucupi, maniçoba e pato no tucupi.
LIMA,Adalberto; SOUSA,Neomísia. Saga dos Marianos