Passarinhos
Sentado na cama, braços cruzados sob o peito, olha pela janela do quarto. Décimo segundo andar de um apartamento num prédio qualquer da cidade grande. Havia brigado com os meninos da segunda série do primário. Injustiçado pelo tamanho, pela força, pela incompreensão da mãe. Uma grande bronca por ter rasgado a camiseta. Agora cumpria castigo por defender apenas o rosto dos socos e pontapés. Meses atrás havia visto passarinhos engaiolados. Queria um. Fora negado. Passarinho nasceu para ser livre. Lembrou dos olhos do pobre animal acuado, batendo asas quatro paredes de ferro. Preso sem razão como ele. Rede branca trançada na janela. Sua gaiola. Esparrama-se pela cama sem tirar os olhos da janela e se vê indo à loja de animais. Sorrateiramente, abrindo gaiola, libertando o passarinho. Imagina-o voando feliz pelos ares a agradecer seus pios de uma melodia qualquer. Um ponto enegrece a janela. Um passarinho pousa no beiral. Olha para dentro. Encara o menino. Estica as asas e voa para longe dos olhos. Ele senta na cama. Levanta. Busca mochila da escola. Revira todos os cadernos. Estojos. Bolinhas de gude. Encontra. Vai até a mesinha de estudos levanta a cadeira. Sob a janela. Sobe. A vida passa embaixo. Corta rede branca como que esperar retorno. Parapeito. Se vê penas por todos os lados. Abre as asas e, num assobio de alegria, voa a liberdade dos passarinhos.