A Revanche
A vida de Raquel não é nada fácil. Ela trabalha como empregada doméstica para ajudar o marido a sustentar os seus três filhos pequenos. Mora na favela, no alto de um morro, onde nenhum carro consegue chegar.
Raquel já foi gordinha um dia, mas as caminhadas diárias para poupar o vale-transporte moldaram seu corpo, com a ajuda de Deus.
Na infância, Raquel, como tantas crianças no mundo, também foi vítima de abusos por parte dos homens, aos quais sua mãe se vendia para amenizar a miséria.
Raquel, no entanto, não reclama de nada. Sorri o tempo todo e faz plano para um futuro melhor. Para isso, batalha com fé e muita força de vontade.
Sua mãe há muito virou evangélica e assim conseguiu mudar o rumo de sua vida.
Raquel chegou até a ensaiar essa possibilidade. Porém, o seu parco dinheirinho começou a fazer falta em casa e o dízimo deixou de ser dado. Raquel também gosta de festa, de beber cerveja, de baile funk, de um bom pagode e para não pecar, Raquel abandonou a igreja.
Quando a tristeza tenta invadir o coração de Raquel, ela trabalha mais duro ainda para não dar chance ao seu coração de ficar angustiado.
Raquel aprendeu, desde de cedo, que não adianta ficar remoendo uma dor porque ela vai doer muito mais, se assim o fizer. É melhor botar pra fora para ficar livre da indesejável depressão. Às vezes, é preciso esperar um pouco. Nunca tempo demais para não adoecer.
Raquel também aprendeu o toma lá da cá e por isso não leva desaforo pra casa.
O marido de Raquel anda aprontando com ela. Ela sabe, mas não tem muito tempo para conferir. Ou talvez, prefira nem conferir.
Toda vez que a sua vontade de ir atrás dele é maior do que a sua consciência, Raquel pensa:
- Se eu procurar vou encontrar porque quem procura acha. Se encontrar o que posso fazer? Provavelmente, quase nada. Melhor ficar quieta onde estou.
Num final de semana, a sogra de Raquel resolveu dar uma de mãe brava e contou a Raquel que seu filho estava saindo com uma namorada de trancinha de nylon.
Raquel não se manifestou. Pegou a informação e guardou cuidadosamente dentro de seu coração. Raquel aprendeu que “a vingança é um prato que se come frio.”
Passado algum tempo, quando ninguém mais se lembrava do fato, Raquel resolveu ir a forra.
Colocou a melhor roupa, maquiou-se cuidadosamente, colocou um perfume que exalava ao longe, arrumou alguém para ficar com as crianças e lá foi ela com algumas amigas para o ensaio de uma escola de samba, sem avisar o marido.
Raquel, propositadamente e por algumas horas, esqueceu-se de que era casada e tinha filhos.
Sentou-se à mesa com suas amigas, deu umas piscadelas para alguns fãs, bebeu muita cerveja, sambou o quanto os seus músculos glúteos agüentaram e não teve coragem para se aventurar a arrumar um namorado.
O marido de Raquel estava incrédulo. Havia chegado em casa e nenhum bilhete, nenhuma sombra de Raquel. Ficou desesperado. Na sua cabeça um filme passou. Raquel havia lhe avisado uma vez, há muitos anos atrás, que se um dia ele a traísse, podia esperar pelo troco.
A angústia apertou-lhe o peito. Resolveu ligar para o celular de sua mulher. Ele tocou, tocou, tocou e nada de Raquel atender ao telefone.
A essa altura, Raquel não podia esconder um sorriso entre os lábios. Era o sorriso da desforra. Era o sorriso recheado do toma lá dá cá. A vingança estava feita.
Raquel resolveu ir embora para casa. Tirou os sapatos, e com os pés no chão lá foi ela subindo a ladeira acima com a alma lavada.
Raquel esqueceu-se porém, de que seu marido também havia freqüentado a mesma escola da vida.
Ao chegar em casa, cansada, suada, com o corpo pedindo um descanso, encontrou seu marido sentado em sua cama lhe esperando, com uma correia na mão.
Os gritos de Raquel, naquele momento, não puderam ficar sufocados. A correia sapecando seu corpo fazia os seus gritos evaporarem para além de sua janela.
Não tardou a polícia aparecer. Os vizinhos, apavorados, tentando salvar Raquel daquele tormento, resolveram chamá-la e dar um fim àquela tortura.
Raquel e o marido foram jogados no camburão e levados à delegacia de mulheres.
Raquel estava com vergonha. Nunca em sua vida tinha chegado a tanto.
No outro dia, Raquel precisava trabalhar e não se dando por vencida deixou um recado para o marido, preso na geladeira:
- Arrume outra de trancinha de nylon pra você ver.
A vida de Raquel não é nada fácil. Ela trabalha como empregada doméstica para ajudar o marido a sustentar os seus três filhos pequenos. Mora na favela, no alto de um morro, onde nenhum carro consegue chegar.
Raquel já foi gordinha um dia, mas as caminhadas diárias para poupar o vale-transporte moldaram seu corpo, com a ajuda de Deus.
Na infância, Raquel, como tantas crianças no mundo, também foi vítima de abusos por parte dos homens, aos quais sua mãe se vendia para amenizar a miséria.
Raquel, no entanto, não reclama de nada. Sorri o tempo todo e faz plano para um futuro melhor. Para isso, batalha com fé e muita força de vontade.
Sua mãe há muito virou evangélica e assim conseguiu mudar o rumo de sua vida.
Raquel chegou até a ensaiar essa possibilidade. Porém, o seu parco dinheirinho começou a fazer falta em casa e o dízimo deixou de ser dado. Raquel também gosta de festa, de beber cerveja, de baile funk, de um bom pagode e para não pecar, Raquel abandonou a igreja.
Quando a tristeza tenta invadir o coração de Raquel, ela trabalha mais duro ainda para não dar chance ao seu coração de ficar angustiado.
Raquel aprendeu, desde de cedo, que não adianta ficar remoendo uma dor porque ela vai doer muito mais, se assim o fizer. É melhor botar pra fora para ficar livre da indesejável depressão. Às vezes, é preciso esperar um pouco. Nunca tempo demais para não adoecer.
Raquel também aprendeu o toma lá da cá e por isso não leva desaforo pra casa.
O marido de Raquel anda aprontando com ela. Ela sabe, mas não tem muito tempo para conferir. Ou talvez, prefira nem conferir.
Toda vez que a sua vontade de ir atrás dele é maior do que a sua consciência, Raquel pensa:
- Se eu procurar vou encontrar porque quem procura acha. Se encontrar o que posso fazer? Provavelmente, quase nada. Melhor ficar quieta onde estou.
Num final de semana, a sogra de Raquel resolveu dar uma de mãe brava e contou a Raquel que seu filho estava saindo com uma namorada de trancinha de nylon.
Raquel não se manifestou. Pegou a informação e guardou cuidadosamente dentro de seu coração. Raquel aprendeu que “a vingança é um prato que se come frio.”
Passado algum tempo, quando ninguém mais se lembrava do fato, Raquel resolveu ir a forra.
Colocou a melhor roupa, maquiou-se cuidadosamente, colocou um perfume que exalava ao longe, arrumou alguém para ficar com as crianças e lá foi ela com algumas amigas para o ensaio de uma escola de samba, sem avisar o marido.
Raquel, propositadamente e por algumas horas, esqueceu-se de que era casada e tinha filhos.
Sentou-se à mesa com suas amigas, deu umas piscadelas para alguns fãs, bebeu muita cerveja, sambou o quanto os seus músculos glúteos agüentaram e não teve coragem para se aventurar a arrumar um namorado.
O marido de Raquel estava incrédulo. Havia chegado em casa e nenhum bilhete, nenhuma sombra de Raquel. Ficou desesperado. Na sua cabeça um filme passou. Raquel havia lhe avisado uma vez, há muitos anos atrás, que se um dia ele a traísse, podia esperar pelo troco.
A angústia apertou-lhe o peito. Resolveu ligar para o celular de sua mulher. Ele tocou, tocou, tocou e nada de Raquel atender ao telefone.
A essa altura, Raquel não podia esconder um sorriso entre os lábios. Era o sorriso da desforra. Era o sorriso recheado do toma lá dá cá. A vingança estava feita.
Raquel resolveu ir embora para casa. Tirou os sapatos, e com os pés no chão lá foi ela subindo a ladeira acima com a alma lavada.
Raquel esqueceu-se porém, de que seu marido também havia freqüentado a mesma escola da vida.
Ao chegar em casa, cansada, suada, com o corpo pedindo um descanso, encontrou seu marido sentado em sua cama lhe esperando, com uma correia na mão.
Os gritos de Raquel, naquele momento, não puderam ficar sufocados. A correia sapecando seu corpo fazia os seus gritos evaporarem para além de sua janela.
Não tardou a polícia aparecer. Os vizinhos, apavorados, tentando salvar Raquel daquele tormento, resolveram chamá-la e dar um fim àquela tortura.
Raquel e o marido foram jogados no camburão e levados à delegacia de mulheres.
Raquel estava com vergonha. Nunca em sua vida tinha chegado a tanto.
No outro dia, Raquel precisava trabalhar e não se dando por vencida deixou um recado para o marido, preso na geladeira:
- Arrume outra de trancinha de nylon pra você ver.