Pego Roubando
Havia sido pego roubando uma lata de marmelada em uma bodega, no vão do suassuão, onde o vento sul faz a curva fugindo da lonjura do sertão. Gostava mesmo de roubar. Ainda mesmo que tivesse dinheiro. Achava que o mundo tinha demais e ele nada. Era isso mesmo! O mundo todo lhe devia dinheiro e o que mais houvesse. Roubar era um direito seu. Um dia roubava ovo, noutro roubava ouro. Trabalhava, não gostava, mas trabalhava. Quando recebia achava sempre que era pouco. Queimava o estipêndio. Preferia mesmo era roubar. Um dia confessou seu pecado ao padre do lugar. O padre quis meter lhe medo, falou dos dez mandamentos. Que era pecado roubar. Bateu no padre dentro da igreja, ofendido, porque lhe pareceu que o padre havia, por entre linhas, lhe chamado de ladrão. Levou todo dinheiro do altar. Foi pego por um polícia, que era mau, e, por um valentão, que tinha parte com o cão . Um furou lhe os olhos, o outro lhe quebrou uma mão. Virou andarilho. Vagava cego tocando uma violinha e esmolando pelo sertão.