Homo in via
Era um andarilho. Não levava nada além do corpo. Não ia a lugar nenhum, apenas caminhava. Dez anos caminhando sem parar. Comia do que lhe davam. Dormia em qualquer lugar. Um dia encontrou um homem cego. Sentado na margem do caminho, tocando uma viola. Cantava uma trova, algo sobre uma travessia. O homem teve vontade de parar e ouvir. Parou. Ouviu. O cego ofereceu lhe um gole da cachaça que trazia no cuité e um pedaço de pão. Beberam de novo até se embriagarem. Ficou sabendo que o homem tinha ficado cego porque roubara uma lata de marmelada numa bodega, no Vão do Suassuão. Antes havia batido em um padre porque tinha lhe chamado de ladrão. Furaram seus olhos de faca, um tal Ramiro e um tal Janjão, um era polícia e o outro tinha parte com o cão. O homem teve medo do mundo. Perguntou o cego onde estavam, o cego não sabia não.