OS DÓLARES
Era ainda bem jovenzinha quando cansou da paga pelos seus serviços em surradas e mal impressas notas de Real e decidiu por tornar-se prostituta internacional. Ainda que continuasse na mesma cidade, mas antes que lhe faltasse o vigor da mocidade, trocaria a praça por um calçadão bacana: resolveu desfilar sua beleza e graça sob o néon luzente de Copacabana...
Mas foi só quando completou dez anos de programa – quando juntou muitas verdinhas e pensava ser feliz com aquela grana que amealhava de turistas que chegavam aos borbotões a um Rio de Janeiro que os encantava com seus grotões – que ela caiu em si e percebeu que aqueles dólares não lhe valiam muita coisa. E sua alma doeu!
Quando ela tentou trocar os dólares por proteção; quando intentou encontrar paz para o seu coração; quando já naquela idade quis achar a tal felicidade e oferecer mais que pão e liberdade para sua filha pré-adolescente, sentiu um vazio...
Foi só quando juntou todos os dólares que sonhara: exatos setecentos mil, somados dos dezessete aos vinte e sete - seu tempo de calçadão - que percebeu toda a ilusão em que se metera: perdera a infância da sua pequena; perdera o brilho no olhar; perdera a firmeza do corpo; perdera a dignidade de ser mulher...
E, então, juntando todas aquelas notas numa mala preta de viagem e tomando a menina de treze anos em suas mãos entrou num táxi e depois de rodar por duas horas pelas principais avenidas da orla Sul foi até Vila Isabel onde morava sua mãe: deixou a mala, deixou a filha. E, entregando um pacote com sete mil dólares ao taxista, pediu que ele a levasse a Ponte Presidente Costa e Silva e parasse no vão central. Era meia-noite de 7 de Julho de 2007, quando Heloísa despediu-se da vida, mergulhando no verde musgo do mar...