Aliança

Olhos de demônios fintam-me imóveis. Se eu tenho uma alma, ela já foi devorada por aqueles olhos. A criatura rasteja puxando seu corpo com os braços enquanto o resto todo fica duro, como se fosse um aleijado. Seus dedos sangram nas pontas e deixam um rastro de sangue sujo para trás. Ela chega perto de mim e, paralisado pela cena que contemplara, consigo apenas ranger os dentes. Aos poucos ela se apoia em minhas pernas trêmulas e esguias, sinto tanto medo que chego a transpirar. Eu já sentira aquilo antes… Subindo aos poucos pelo meu corpo, ela vem cheirando cada parte dele, parece que consegue cheirar meu medo. Aquelas mãos asquerosas tocam meu corpo como um pedaço de carne podre. Cada sentimento que ela percorre com seus dedos sobre ele, elas deixam aquele sangue fedorento e podre. Aos poucos em que vai subindo ela vai se desentortando, por fim, fica ereta como uma pessoa. Seus dedos agora procuram algo em meus rosto, em sua busca ela toca em minha boca, é tão ruim o gosto daquele sangue que eu paro até de tremer. Que gosto podre e ruim de enxofre. Eu nunca sentira nada tão forte em toda a minha vida. Aquilo queimou os meus lábios e minha língua. A criatura fica a minha frente imóvel e fitando-me por alguns minutos. Seu hálito e quente e fedorento. Ela está tão perto que eu respiro o que ela expira, aquilo queima as minhas narinas como fogo. Aos poucos ela abre sua grande boca.

-A sua alma está tão pesada, Jinn. - Diz ela com voz arrastada e rouca. -Ah, como eu a desejo e, hoje é o dia em que vou leva-la para casa. Cada centímetro dela é saborosa. Eu lhe dei tudo que pediu, em troca eu a teria, e hoje é dia de você pagar sua saudosa divida comigo.

Ela segura meu rosto com aquelas duas mãos nojentas e lambe o lado esquerdo da minha face. Aquilo queima como brasa. Após terminar, finta-me os olhos e, eu posso ver o inferno e ouvir os gritos naqueles olhos, seria pior se eu já não os tivesse conhecido há anos atrás. Aos poucos vou recuperando meus movimentos e, a primeira coisa que faço é puxar do bolso uma aliança dourada, velha, suja e castigada pelo tempo. Seguro-a entre os dedos e levanto até os olhos dela. Sorriu e digo.

-Eu vim te entregar isso, querida, como prometi…