inexistências de antes
uma garrafa de vidro fechada à rolha encontrada parcialmente submersa nas dunas da atmosfera. suscetível a interpretações, o objeto de fato instiga palavras. "vazio", ouviu-se, e numa oposição, "tudo". quando foi posta entre os raios de olhos e os raios de sol, ficou perceptível alguns traços de fumaças transparentes branco-cinzas labirinticos. aí alguém disse "dor", e a dor feita apressou-se em dizer "boca" e a boca então pode soltar a "alma", presa entre dentes, e ela ter força de desarrolhar a saída, sair, misturar-se à neblina e tocar sem encostar nos corpos e no ar, que ela já não era simplesmente alma: era vazio e tudo, branco-cinza fumaça transparente, dor querendo gritar boca pra existir alma nela mesma. e todo mundo ouviu os gritos das bocas-de-estômago nas bocas-da-noite. todo mundo sentiu. e a alma fechou tudo numa garrafa de vidro, e vaga na atmosfera, procurando dunas para enterrar seus labirintos.