inexistências de antes
o céu também perde seus pedaços. os sonhos também caem, cinzas-celestes, aquosos, das alturas intangíveis que os olhos fechados alcançam. das nuvens também alçam mergulhos desesperados os gritos brancos sob o fundo cor-de-vácuo. um peito aberto com vento correndo nas veias compele as faíscas trêmulas que contraem sua voz ainda nas vísceras, e intenta, então, espremer as pontas dos dedos até rompê-los e gotejar sílabas sobre a superfície volátil da água, dar à luz as letras que se embrulham e se expandem tomando todo o lugar do fígado. senta-se sobre o pão já transformado em pedra e olha para o céu que se desintegra em luz: ouve o sopro do rio e das folhas que brotam dos seus pés dizendo que ande em círculos espirais cada vez menores até encontrar o ponto paralelo-passagem secreta ao início da queda. ele lava-se e desfaz os restos de sangue que ainda manchavam os dentes. depois, convencionou chamar alguma coisa de saudade.