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experimental - semiótico
Manhã, cedo. Mesa posta.
Houveram três minutos desde que se levantou e daí outros três estaria à mesa para o desjejum da cruzada purgatorial. Três vezes olhou-se ao espelho após cada lavada de rosto, e em cada uma notou-se diferente, não reconhecendo-se em todas e em nenhuma coincidindo-se.
Sob um dos três copos de couro costurados virados com a boca para baixo estariam girando os três olhos de vidro - olhos de gato - que poderiam bater três vezes nas três portas destinadas a cada um deles, e que, se atendidas três vezes, mostrariam em cada vez os três caminhos os quais cada um levaria às suas próprias três portas, e adivinhando o copo, então, obviamente, todos os planos de fuga ficariam mais facilmente traçados em meio aos destroços dos três despertares que se unificavam naquele café. Ir nu à chuva gelada que amolecia as pedras da cidade e diluir-se no hecatombe movimento ruidoso das três chaves-olho em cada uma das três portas de cada fachada que encontraria ao lado da calçada seria o menor absurdo inteligível naquela situação. Mas preferiu um pouco mais de cautela, bebeu rapidamente o que restava na xícara, e num movimento brusco de cabeça que se faz para acordar-se de sonhos acordados virou a mesa e eliminou todas as chances de cada sorte de cada novo gole, e vestiu-se bem e calçou seguramente os pés e pôs sobre a cabeça uma capa para proteger-se, para o azar de qualquer acaso.