Culpas

Culpas

Amava-o assim mesmo, sem grandes emoções, pois que o tempo as acalmara havia muito. Não importava a gagueira, ouvia-o com infinita paciência e até sofria pela aflição dele em querer dizer palavras inteiras, sem sucesso. Afinal, ele ficara assim por ela, pelo grande susto que levara ao quase perdê-la um dia, para o rei de vizinho país. (Ao lembrar-se do distante episódio, ainda um pequeno travo amargou-lhe a boca, pela saudade do que poderia ter sido.)

E assim, acomodou-se na cadeira de balanço, tomou da linha e da agulha e, pacientemente, começou a alinhavar-lhe as palavras.

(do livro O Mágico de Nós, 1988. Belo Horizonte /MG)

Tânia Diniz
Enviado por Tânia Diniz em 21/07/2005
Código do texto: T36412