Depois da moça que passou no Fórum Cível

Maluco, cara maluco.Falando sozinho em meio ao Fórum Cível.Esperando uma audiência, cliente atrasado.Conversa consigo mesmo.Discussão acirrada.Ir embora e tomar logo uma cerveja ou esperar dar o horário para fazê-lo?Sei lá, acho.Qual diferença?Sexta-feira, ninguém trabalha.Tédio, tédio.

Não tem para onde olhar, o maluco.Inquieto, inquieto.Olha só, montes de gente passando.Estagiários de todo o tipo!Escolha: bem-vestido, maltrapilho, gordo, magro, bizarro, punk, playboy, indie, crente.Variedade grande.Todos igualmente burros, no fundo.

Parou.Ponto.Respiração.Palpitações excitadas.O que ele pensou daria livro, juro.Olha só.Não era tão louco assim.

“Os quadris são tão inebriantes que me causam náuseas com seus ligeiros e discretos movimentos.Cabelo louro-orgasmo, olhos castanho-desejo.Olhe para cá, por favor.Passou com vento de aroma-luxúria.Ela era arte encarnada e eu o artista decadente.”Postou isso aí no facebook quando voltou para o trabalho.Cerveja esqueceu.Só postou parte do que aconteceu.

“Mais tarde escrevo um texto sobre, juro”, pensou.Até escreveu, não importa.Ficou bom o texto, bem bom.A mulher que passou em sua frente naquelas cadeiras do Fórum nunca o leu.Nem nunca lerá.

Deu horário, faz ligação.Busca mulher, das fáceis.Não gosta, não ama.Tinha tudo para fazê-lo.Mas não faz.

Amassos no carro, ela adora o Doutorzinho.Beijos, sodomia, u-lá-lá machão mesmo.

Acaba tudo, sai do carro, acende cigarro.Não sente nada.

Ela não é a moça que passou no Fórum Cível.