Enfim sós
. Se conheceram na juventude, na infância dos sentimentos. Ele a queria mais que tudo desde o início, depois passou a gostar da danada, até que o amor se instalou no peito e em todos os demais recantos do seu ser.
. Ela até que simpatizava com o sujeito, foi se enfastiando das frases e olhares melosos e por fim começou a odiar a insistência indesgrudável de sua presença ou dos seus presentes.
. Ele foi morar noutro país. Fez fortuna, muitas mulheres, desfez, nenhumas. Correu mundo, teve malária, foi marinheiro, contrabandista. Mas esquecer aquela uma, nunca, nem quase.
. Ela casou cedo. A causa do auto-exílio do pobre. Perdeu meia dúzia de filhos. O marido, um santo no início, deu pra bater e negar o amor que mentira desde sempre. Maldita hora!, pensava lavando cuecas, lembrando do lobby da mãe, da irmã e das amigas pra aceitar o fulano. Vez em quando aquele outro lhe vinha a mente e até parecia nem tão desprezável.
. Ela enviuvou, e o marido, que não deixou saudades, legou-lhe vasta herança em dívidas.
. Ele, na quinta miséria, voltou pra cidade natal. Sem notícia de nada que fosse ela.
. Sem saber, foram vizinhos durante muitos anos. Moravam na mesma quadra silenciosa e reservada aos que a vida poupou de abastar.
. Afinal, depois de tanto desencontro, eis que se juntam, será o destino?, tornam-se um só, unidos pra sempre no ossário comum do Cemitério Municipal...
p.s.: pra sempre não, que depois de algum tempo os ossos todos ganham outro destino que poucos conhecem.