Degrau após degrau.
Como que numa seqüência contínua, descendo as escadas, degrau após degrau, degrau após degrau, interminável degrau estritamente igual ao último, que aquela escada em caracol mostrava-se igual a anterior, e a anterior, e a anterior, fazendo-se assim, cópia contínua de uma lembrança de muitos degraus acima, de um outro andar, num outro tempo, assim quase que igual a esse, repetindo o mesmo quarto degrau descendo do terceiro andar, ou do décimo segundo, não importa qual, e repetindo a mesma lembrança de um gemido abafado e da vontade de escrever um nome no céu.
E assim, ininterruptamente ela descia, degrau após degrau, tentando distinguir o passo, tentando separa-lo do andar, e Como?, se perguntava, Como?, e descia mais um degrau, mirando nenhum futuro pela frente, descendo, descendo, degrau após degrau, Como separar o passo do andar?, e mais um degrau, como que numa seqüência contínua, cansada, o tempo a alcançou com rugas entorno à boca, cabelos caídos sobre os ombros, já secos e emaranhados, agora quase morta, mostrava-se cansada à fresta de sol, descendo um degrau depois do outro, um pé depois do outro, na mesma seqüência, na mesma lembrança, na mesma desesperança, quando então parou. Faltou estimulo, o corpo caiu. Foi rolando, degrau após degrau, degrau após degrau, sem nunca chegar no chão.