Última turnê
- Sob a multidão de olhares ele desempenha a sua arte. Os sons produzidos pelo seu instrumento penetram na alma de todos, guiam o ritmo dos sentimentos, marcam o passo do coração, transladam pra longe os pensamentos.
- Alguns não se contêm, e as lágrimas se libertam. Outros ficam de respiração suspensa, ansiosos. Quantas lembranças, quanta saudade, quanto esperança...
- A apresentação prossegue. Cada um dos presentes é invandido por emoções ou exilado delas. Não é um espetáculo inédito, já se viu várias vezes, mas sempre marca.
- A colher do pedreiro enfim cessa seu quebrar de tijolos, seu aplicar e raspar de massa e encerra enfim a matriarca. O homem se levanta, se despede e some discreto entre os jazigos.
- As coroas de flores são depositadas no túmulo. Os olhos de todos grudados no local onde agora jaz a velha senhora. Ninguém sabe o que fazer. A imobilidade impera. Até que as pessoas começam a se abraçar, buscando consolo ao consolar o outro. E vão se despedindo, partindo tristes para as suas vidas, até quem sabe o próximo concerto...
"Não existe morte natural. A morte é a penetra na festa da vida, e em breve será a única presente no seu próprio funeral."