É sonho?
Ultimamente vinha sonhando com o passado. Lugares, Fatos,
pessoas, algumas mortas, outras matadas pela distância e o
descaso mútuos.
Das várias teorias para explicar os sonhos ele preferia a
própria: "imagens sem controle que, se gravadas, renderiam
fortunas no mercado de entretenimento."
Que queria dizer aquele turbilhão de rostos praticamente
esquecidos em enredos inexplicáveis?
Num deles, um clã de senhoras queria casá-lo com a
sobrinha predileta. Na verdade, uma única senhora do clã,
a tia ancestral, de cabelos brancos, roupas
indescritíveis, é que queria a união, as demais
argumentavam contra. E no meio disso, um rapazola que não
via há séculos vaticinava algo murmurado.
O cenário se transforma e de repente não há mais clã
algum, nem casório, o rapazola apenas e ambos num casarão
enorme, semidestruído, como o cenário de O Pianista, de
Polanski, conversavam alegremente, grandes amigos. E logo
estavam andando de bicicleta, num gramado enorme,
parecendo um campo de golfe. Corte abrupto para eles
navegando num barquinho a remo, primeiro num rio, logo
alto-mar. E depois o despertador quebrando o feitiço e
reconstruindo o mundo físico de acordo com suas regras,
menos as morais.
"Onde quer que ande o passado, é melhor que fique por lá",
desabafa e boceja diante do espelho