O buraquinho
Havia um buraquinho na parede do quarto de Miguel.
Sempre esteve ali, não era sua obra, era o que dizia. Dava para o quarto da irmã e tudo podia ser visto.
Quando criança, servia apenas como brincadeira, espiando a irmã e as amigas trocando as roupas da Barbie. Mas, depois, já maiorzinho, o buraco servia para vê-las se trocando. Por fim, adolescente, Miguel mal se continha para vê-las se masturbando com frascos de xampu ou com o cabo da escova de cabelos.
O buraquinho na parede era um portal para outro universo, que Miguel pouco compreendia, mas que o fascinava, excitava-o.
Então, a irmã arranjou um namorado e Miguel acompanhou os primeiros beijos e amassos. Mas foi numa noite de sábado, quando os pais haviam saído pra jantar, que ele assistiu à irmã debaixo do namorado, gemendo, suando, gemendo.
Ele se revoltou. Quando era para espiar as amiguinhas dela em diversão individual, tudo bem. Mas ter um outro homem em casa? Com sua irmã? Invadindo o mundo do outro lado do buraquinho?
Miguel não aceitou. Mais tarde, quando os pais chegaram, ele contou tudo o que vira.
A irmã levou uma sova e o namoro foi proibido. Taparam também o buraco na parede.
Na semana seguinte, Miguel começou a namorar, foi quando o mundo secreto se reconfigurou.