CLARAMENTE
Uma luz intensa e fulgurante preencheu o quarto onde o menino estava. Num canto, agachado, tendo uma bola de futebol entre as pernas, o menino olhava assustado para a porta, de onde a luz provinha. Ele, porém, não conseguia enxergar nada. A luz o cegava. Além da luz, o medo. Aprendera desde cedo que a vida não só oferecia amigos. No caso dele, mais inimigos que amigos. E o menino sofria. Chorava. Sofria. Tinha medo. Medos. Precisava de alguém. Mas não confiava nos ombros amigos. Cansara de ser traído. Até que um dia lhe avisaram no Orfanato que uma jovem queria conhecê-lo. Seus olhos brilharam. Durou pouco o brilho. Uma sombra passou forte diante de si. Era a lembrança dos fatos passados na primeira infância. E o menino tinha que vencer este passado, para tentar ser feliz. Agora, o momento era outro. Chegara a oportunidade do encontro. Clara abrira a porta ansiosa. Queria conhecê-lo. E a visão que tinha agora era a de um menino no canto, acuado. Ele, porém, não via nada. Só uma luz. Era Clara. A bela jovem, que no escancarar de um sorriso espontâneo irradiou luz no ambiente. Clara era assim: simples, ingênua, de uma beleza comum, mas de um coração e simpatia que poderiam ser a cura para a alma do menino. E Clara entrou no aposento. Passos suaves e firmes no assoalho antigo do velho prédio. E os braços estendidos em direção ao menino; e, em uma das mãos, um sorvete de morango; e, nos olhos, a esperança; e, na face, o sorriso; e, no coração, o amor. Depois de ter a clara visão de Clara, o menino sorriu e se levantou do chão...