Últimas palavras
Pela enésima vez o fim o esperava. Talvez agora o fim último, definitivo. O Fim. Queria que fosse ele finalmente, não aguentaria outro. O peito já sem esperanças.
Ruminou em busca das ciladas que o levaram novamente a este confronto titânico. Sabia todas as respostas, era um crápula, um inescrupuloso aliciador de sentimentos, um desalmado pronto para agir.
Não, não era. Era um fraco, um infeliz profissional, um sem-lar em busca de amparo.
As impressões dele sobre si mesmo nunca foram as melhores. Deixemos que um narrador isento se pronuncie:
"Ele era o melhor de nós. Engraçado, generoso, honesto. Inteligente, sincero, desapegado, criativo, corajoso, revolucionário, doce. E também um covarde, um reacionário, grosso, mesquinho, repetitivo, falacioso, estúpido. Desonesto, avarento e sem graça. Mas sabe-se lá quantos defeitos escondia..."
Nada disso interessa. Enquanto destila o tempo em busca de soluções, o fio afiado da fantasia está prestes a abrir um talho sem fim na realidade com que tanto sonhara...