Por que atiraram o pau no gato?

Descobrir porque o Cravo brigou com a Rosa foi uma grande aventura para Pedrina e Pancurão. Mas a brincadeira de detetive não acabara com o fim desse mistério. Agora eles tinham uma nova missão: descobrir Por que atiraram o pau no gato.

Eles foram bem cedo para a escola como todos os dias. Lá, sentando no chão, contaram a história que ouviram do Senhor Feliciano para a professora e todos os seus colegas. A professora achou o máximo aquela história que os meninos tinham contado e disse:

— O vovô do Pancurão deve ser um homem muito inteligente, meninos. Com certeza ele já leu muito livros!

— Sim, professora, o vovô ler muito!

Os olhos de Pedrina fitavam a professora conversar. Pois estava inquieta cheia de curiosidades em saber quem e porque atiraram o pau no gato. A professora continuava a falar do quanto era importante a leitura, quando Pedrina, que era uma menina esperta e astuta resolveu contribuir com mais uma de suas perguntas espertas. Levantou-se do chão, de pé, com a mão na cintura lançou:

— Professora, é verdade que quem ler muito se torna sábio?

— Claro que sim, Pedrina! – Com olhar carinhoso, respondeu a professora.

A curiosidade de Pedrina não cessava. Perguntou mais uma vez:

— Professora, você já leu muitos livros?

— Sim, Pedrina, eu já li muito livros legais.

Depois de ter ouvido a professora confessar que já tinha lido muitos livros, Pedrina fez uma conclusão muito esperta e lançou um desafio à professora:

— Então, professora, eu tenho certeza que você sabe dizer por que atiraram o pau no gato, não sabe?

A professora ficou muito orgulhosa com a esperteza de Pedrina. Olhando nos olhos da menina, assumiu que nem tudo ela sabia. Aproveitou para explicar a todos que o conhecimento é inesgotável. Ninguém sabe tudo. Disse que sabia de muita coisa, mas não sabia o motivo porque deram com uma paulada no pobre do gato.

Pedrina ficou desapontada, pois esperava que a professora tivesse uma resposta para todas as suas perguntas. Percebendo isso, a professora propôs algo bem legal:

— Eu não sei contar essa história, mas sei cantar a música. Vocês querem ouvi-la?

— Sim. – Concordaram todos.

— Então, cante comigo:

“Atirei o pau no gato tô, tô

Mas o gato tô, tô

Não morreu reu, reu

Dona Chica, cá

Admirou-se, se

Do berro, do berro que o gato deu:

Miau!”

— Vocês gostaram da música, crianças?

— Sim, professora. – Toda a turma bradou.

A professora cantando com a criançada nem se deu conta que as horas tinham voado. Olhou para o relógio e constatou que já tinha passado da hora de ir para casa.

— Meninos, já é hora de ir para casa. Não se esqueçam de fazer as tarefas. Até amanhã!

Todos os alunos se despediram da professora e saíram da sala, menos a Pedrina, que permaneceu quietinha até que o último aluno tivesse saído da classe.

A professora não entendeu nada. Estranhou muito, pois Pedrina era a primeira a sair da sala todos os dias:

— O que fazes ainda aqui, Pedrina?

— Professora, eu gostei muito da música do gato, mas preferia que você tivesse nos contando uma boa história.

A professora, com um lindo sorriso no rosto, dirigiu-se até Pedrina, a colocou nos braços e explicou:

— Minha querida, nós, que somos professores, não sabemos tudo. Mas tem uma coisa muito importante que eu posso te dizer!

— Fala, professora! — Pedrina estava ansiosa.

— Se o vovô do Pancurão soube contar tão bem a história da briga do Cravo com a Rosa com certeza ele também sabe a do gato.

— É mesmo professora. E por que eu não pensei nisso? Ainda hoje eu e o Pancurão vamos visitar o senhor Feliciano.

— Mas antes dessa aventura, crianças, vocês devem fazer as tarefas. Depois de todas as tarefas feitas aí vocês podem embarcar em mais uma investigação dos dois detetives Sherlock Holmes e sua fiel escudeira. — Falou a professora em tom de brincadeira.

— E quem é Sherlock Holmes, professora? — Pedrina não quis ir para casa com essa dúvida na cabeça.

— Sherlock Holmes é um famoso detetive que conheci lendo um livro. — Com um sorriso no rosto, respondeu a professora.

Pedrina saiu apressada. Queria acompanhar o Pancurão para lhe contar a ideia da professora. Pancurão concordou na hora. E correrem para chegar depressa em casa.

Fizeram as tarefas em um piscar de olhos. Nunca tinham feito as tarefas tão rápido como naquele dia. Pediram suas mães para fazer uma vistinha à fazenda do vovô. Pancurão terminou mais rápido e foi ajudar a Pedrina. As duas mães, satisfeitas com as tarefas feitas, consentiu.

Mas quando chegaram lá, receberam uma péssima notícia da vovó Agripina:

— Meninos, o vovô Feliciano viajou para a cidade. Ele foi comprar uns remédios para as vacas.

Pancurão e Pedrina ficaram desapontados com a notícia. Vovó, tentando animá-los, anunciou que estava fazendo um bolo. Os meninos, quando souberam do bolo, se alegram mais, pois o bolo da vovó Agripina era muito bom.

O cheirinho de bolo assado passeou por toda casa e fez vovó constatar que o bolo tinha ficado pronto:

— Hum!... Sintam o cheirinho, meninos, parece que o bolo está pronto! – Anunciou dona Agripina.

— E está mesmo, vovó. – Concordou Pancurão.

Foram até a cozinha e sentaram-se à mesa para deliciar o bolo de fubá da vovó.

— Está ótimo o seu bolo, Dona Agripina. – Elogiou Pedrina.

— Muito obrigada, menina. – Agradeceu aos elogios a Dona Agripina.

Os três estavam apreciando o bolo de fubá com uma boa xícara de chocolate quente, quando de repente, “Plof” Um barulho esquisito veio de detrás da Pedrina. Um gato pulara na janela e entrara na cozinha. Os meninos fitaram os olhos no gatinho e observavam seus passos: ele aproximou-se de Dona Agripina e de, um pulo só, saltou para o colo dela. Dona Agripina alimentou o felino e em seguida fez uns carinhos no bicho. Ele manhosamente se ajeitou no colo dela e começou a mordiscar o bolo que dona Agripina lhe dera.

— Esse é o Bolinha, meu querido gatinho! – Dona Agripina apresentou o amigo aos meninos.

O gato de dona Agripina parecia uma bola de tão gordo, por isso tinha esse nome tão engraçado: Bolinha.

Pancurão e Pedrina entreolharam-se e riram. Vovó não entendeu nada e nem se passava na cabeça dela que os meninos tinham ido lá, justamente por causa de um gato. E eles continuaram rindo, enquanto o gato permanecia bem comportado no colo da vovó e saboreando um bom pedaço de bolo. Vovó, não entendeu nada. Perguntou:

— Qual o motivo do riso, meninos?

Os meninos tiveram de explicar tudo. Vovó ficou alguns instantes pensando e disse:

— Então, vocês vieram aqui falar com o Feliciano para saber por que atiraram o pau no gato?

Os meninos balançaram a cabeça, afirmando. Vovó coçou a cabeça, arrumou os óculos e mais uma vez ficou pensativa. Depois de alguns instantes retrucou:

— Vocês pensam que é só o Feliciano que sabe contar histórias. Pois não é não! Eu também sei. — Vovó falou chateada.

— Então, vovó, a senhora sabe dizer por que o gato recebeu uma paulada? – Perguntou Pancurão.

— Claro que sei. E sei de um montão de histórias mais. Vocês querem ouvir?

— Sim, vovó!

Os meninos, sob o comando de Dona Agripina, dirigiram-se para sala, sentaram no tapete e se prontificaram em ouvir a história. Vovó, sempre sendo seguida pelo Bolinha, sentou-se no sofá. O gato, em seguida, saltou do chão para a mesa de centro, e da mesinha direto para o colo da vovó. Danadinho virou o rosto para um lado, depois para o outro e foi se aconchegando, de fininho, nas pernas de dona Agripina.

— Vovó, a senhora seria capaz de atirar um pau no seu gatinho? – Perguntou Pancurão.

A vovó Agripina deu uma gargalhada e respondeu ao seu neto:

— Claro que não, Pancurão. Eu amo meu bichano. E não podemos maltratar os animais. Eles também são criaturas de Deus!

— Dona Agripina, só uma pessoa bem malvada seria capaz de fazer uma coisa dessas! —Acrescentou Pedrina.

— Sim, menina!

Dona Agripina, assim como o vovô Feliciano, era uma excelente contadora de história. Fez um carinho no Bolinha e começou a relatar tudo para os garotos:

— Bem... Crianças, certa vez havia um senhora que se chamava Dona Chica... Ela tinha apenas um filho. E ele se chamava Pedro. Dona Chica não se importava muito com o filho, preferia ficar na frente da televisão. Enquanto isso o menino vivia pelas casas; não estudava, não tomava banho direito e não era como vocês...

— Coitado, não é, vovó? Essa mulher era muito desleixada!

— Sim, Pancurão! E o que é pior: se ela não cuidava bem do filho, agora imagine da casa! A Casa dela andava tão sujinha que começou a atrair ratos e baratas.

— Que nojo, Doda Agripina! – Falou Pedrina, fazendo gestos feios com o rosto.

— Então, meninos... lugar sujo atrai rato, baratas e um montão de animais nojentos. Não é verdade?

— Sim, Dona Agripina! — Pedrina não hesitou em responder.

Voltando a história..., meninos, a casa de Dona Chica estava cheia de ratos. E por causa do barulho que os ratos faziam, ela nem conseguia dormir direito.

— E o que ela fez Vovó? — Pancurão estava impaciente.

— Acalme-se, menino, vamos devagar com a história!

Pedrina começou a roer as unhas de tão entretida com a história. E vovó, vendo a o interesse dos meninos em sua fala, não parou um instante:

— Então... Dona Chica arrumou um gatinho para assustar os ratos. O gato cumpriu com sua parte direitinho: colocou todos os ratos para correr! Mas a Dona Chica não cumpriu com a sua parte! Ela não dava comida para o pobrezinho!

— Coitado, Dona Agripina! Esse gatinho era muito triste.

— Claro, Pedrina, ninguém gosta de ser maltratado. Como aquele pobrezinho não comia na casa de sua dona, passou a roubar comida na vizinhança.

Dona Chica recebia muitas reclamações dos vizinhos, mas ela não aprendia a lição, nem ligava. Outro dia, o Pedro e seu amiguinho Felipe foram pescar em um lago que ficava no fundo do quintal da casa de Pedro. Eles pegaram muitos peixes. E agora, adivinhe o que aconteceu?

— Imaginando bem, vovó, aí vem confusão porque gato já gosta de peixe. E gato com fome, então...

— Pois é, Pancurão! Que confusão! Dona Chica deixou os peixes em cima da mesa e saiu, foi dá uma espiada na última parte da novela. Que distraída essa Dona Chica! O gato deu um salto na mesa, abocanhou pelos menos dois peixes e saiu correndo pelo quintal. Com o barulho que bacia de peixe fez ao cair no chão, Dona Chica se deu conta que estava sendo roubada e gritou: “O gato está comendo os peixes! O gato está carregando os peixes”. O amigo do Pedro segurou um pau nas mãos e correu até atrás do gato. O gato, esfomeado, não soltou de maneira alguma a sua comida.

O menino, assustado com os gritos de Dona Chica, que não parava de gritar: “Pegue-o, pegue-o!”, deu uma paulada bem nas costas do pobre gatinho. Aquele gatinho deu um berro tão alto, que precisava vocês veem!

— Mas, Dona Agripina, quem berra não é o bode? — Pedrina questionou.

— Sim, menina, o gato mia. Então... Como eu dizia, ele deu uma miada bem forte que Dona Chica ficou sem ação, admirada.

O gato escapou da pancada. Correu assustado e entrou no mato. Desapareceu.

— Coitadinho desse gatinho, vovó! Ninguém mais viu ele, vovó?

— Ele nunca mais voltou naquele lugar porque encontrou outra família, uma família que cuidou bem dele. O gato não morreu, mas com passar dos tempos, por causa da pancada que levou, ficou “escambichado”.

— Escambichado, Dona Agripina? O que é isso?

— Escambichado é como a gente chama aleijado lá no interior. O pobre do gatinho só conseguia se locomover se arrastando. Veja como os maus tratos podem causar danos irreversíveis aos bichos, meus queridos?

— É verdade, vovó. Por isso não devemos fazer mal os animais.

— Isso mesmo, Pancurão! Mas o que é muito curioso, meninos, é que enquanto eles estavam tentando reaver dois míseros peixes que o gato tinha roubado, outros gatos carregaram o restante de dentro da cozinha de Dona Chica. E ela ficou com as mãos abanando.

— Mãos abanando, vovó? O que é isso? Tinha um ventilador nas mãos dela? — Questionou Pancurão.

Vovó Agripina riu do netinho e disse:

— Não, Pancurão! Mãos abanando é ditado popular que significa “sem nada nas mãos”, ou seja, eles ficaram se nada.

— Aposto que foi castigo, Dona Agripina! — Sugeriu Pedrina.

— Pode ser, minha filha! E eles ficaram tristes tanto quanto aquele gatinho, pois ficaram sem nada para comer.

A história estava tão boa que não perceberam as horas passar. Já era tarde, os meninos tiveram que voltar pra casa.

No outro dia, na escola, a Pedrina e o Pancurão contaram para a professora toda a história que a Dona Agripina lhes contara. Todo mundo ficou tristonho com a história.

A professora para deixar os meninos um pouco mais animados, sugeriu uma canção. Adivinha qual? Hum! Não, não! Foi essa:

“Não atire o pau no gato (to-to)

Porque isso (sso-sso)

Não se faz (faz-faz)

Ô gatinho (nho-nho)

É nosso amigo (go)

Não devemos maltratar

Os Animais

Miau!!!”

Todo mundo gostou dessa nova versão da cantiga. E cantaram várias vezes naquele dia.

Os meninos estavam bastante animados, cantando com a professora e, de repente, para não quebrar a regra, Pedrina interrompe a música e faz uma de suas maravilhosas perguntas:

— Professooooooora, e por que o circo pegou fogo?

A professora respondeu:

— Essa história aí, pode deixar que eu mesmo conto, mas não hoje porque já é hora de ir para casa! Ficamos combinados para amanhã.

O sinal bateu! Todos pegaram seu material e se despediram da professora.