Hierarquia ou Respeito?

Sempre acreditei que nós, animais, temos que respeitar a hierarquia. Não necessariamente a hierarquia entre nossos iguais, mas aquela hierarquia de quem chegou primeiro no lugar que vamos habitar. Explico:

Quando fui abandonado, ainda bebezinho, no quiosque da família França, já viviam aqui, como animais de estimação, os caninos Toby e Zefa e a calopsita “Calo” (acho que a família estava com preguiça de escolher um nome!). Pois bem, como o primeiro felino da casa fui apresentado pra galera animal bem devagar, mas eles me aceitaram de boa e eu passei a respeita-los. Tá certo que as vezes meus instintos ficavam mirando a Calo como um baita petisco, mas sabia de antemão que se fizesse algum mal a ela, quem sofreria o “pênalti” seria eu, então ficava na minha e até aceitava as bicadas que ela dava no meu focinho. Teve um fim triste, a pobre Calo, mas não por minha causa.

Depois chegou por aqui o meu irmão camarada – Alcides, ele logo entendeu que, por eu ser o mais velho, deveria me respeitar. Nossa, falando nele me bateu uma saudade. O Alcides era muito meu amigo, dividíamos as cadeiras, a comida, tomávamos banho de sol juntos... meu amigo já partiu para o céu dos animais.

O Alcides ainda era vivo, quando a família adotou mais dois felinos, o Faísca e a Filó, que logo aprenderam como era a questão hierárquica por aqui: respeito aos cães (só a Zefa, o Toby já tinha ido pro céu dos animais também), a mim e ao Alcides. O Faísca aprendeu logo, mas a Filó, como boa feminista que é, vez que outra quer me enfrentar, mas acabamos nos respeitando.

Eis que chega-chegando a dona cadela Matilda. Nos foi apresentada como é comum, mas nos primeiros meses de convivência, quem diz da criatura nos respeitar? Era um alvoroço diário. Nós correndo e nossos donos chamando a atenção da canina tresloucada. Até entendi que o que ela queria era brincar de correr no pátio, mas haja patas pra correr de uma cadela novinha como ela.

Não me restou outra alternativa a não ser “enquadrar” a Matilda nas regras hierárquicas do animais. Ou ela passava a nos respeitar ou iria levar muitas unhadas na cara e, quem sabe, coisa pior poderia lhe acontecer (sinistro). Foram várias horas de diálogo felino-canino e hoje posso dizer que nossa relação está bem melhor, até tomar banho de sol juntos já é possível.

Dia desses, tomando banho de sol com a Matilda, mesmo ela já na sombra, fiquei pensando que a hierarquia é importante só em parte, o que vale mesmo é o respeito. Ela me respeita como gato e eu a respeito como canina. Foi assim com o Toby, a Zefa e a Calo, até o galo Zico e a galinha Malvina eu respeito, então...

Fica uma perguntinha: se nós, animais irracionais, como os humanos nos chamam, conseguimos conviver em harmonia, independentemente das diferenças, qual a dificuldade que os seres racionais, como os humanos se acham, tem de se aceitarem, cada um do seu jeito? A vida é boa para ser vivida e, quanto mais harmonia, melhor!

Paz e amor

Gato Deim

Tânia França
Enviado por Tânia França em 01/08/2019
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