A MENINA AZUL

Era uma vez uma menina chamada Kinália. Ela vivia bem feliz com sua mãe e seu pai num castelo perto do mar. Todos os dias ela saia de seu castelo, pela grande porta levadiça e ia visitar o mar. No mar ela conversava com os peixinhos, brincava com a água e de vez em quando dava um mergulho naquela água morna. Depois voltava para casa, tomava um delicioso café preparado por sua querida mamãe e ia brincar no pátio do castelo.

O pátio do castelo era cheio de lindas árvores que floresciam na primavera. Era o lugar que Kinália mais gostava de ficar. Conversava com as flores, brincava com as joaninhas e até com os passarinhos. Sua mãe sempre brincava com ela. Faziam de conta que estavam viajando. Faziam comidinha de brincadeira. Desenhavam lindas paisagens.

Certo tempo depois o pai saiu e a menina percebeu que ele não voltou mais. Ela observou também que a mãe passou a ser uma pessoa muito triste e que andava sempre com uma caixinha azul. Estava sempre com os olhos vermelhos. Certa tarde, estava distraída com as flores e não percebeu que a sua mãe havia saído e deixado com ela a caixinha azul.

Estando sozinha em casa resolveu brincar com as tintas que estavam guardadas no calabouço. O calabouço era um local escuro e abaixo da construção do castelo. Era um local onde sua mãe dizia que Kinália jamais deveria ir. Era um local proibido. Kinália tinha muita curiosidade em conhecer aquele lugar. Desceu pelas escadas escuras, atravessou um corredor imenso e abriu uma porta pesada que estava no final. Levava consigo a caixinha. A porta rangeu levemente e a menina, que era corajosa, não se importou com o barulhinho.

Observou que havia num canto do calabouço uma caixa brilhante. Abriu a caixa e retirou potes de tinta que estavam dentro. Aos poucos ia olhando e percebendo que as tintas pareciam mágicas. Via que pareciam ter vida. Um pote azul piscou para ela. Ela sorriu de volta. O pote balançou levemente como a pedir que ela usasse sua cor. Ela pegou o pincel e começou a pintar o chão. Mas o pincel não a obedecia. Só escrevia o que ele mesmo queria. Ele escreveu na caixa azul, que ela levava, as palavras amor, vida, alegria. O pincel tomou vida e começou a pintar o calabouço. De repente o calabouço deixou de ser triste e passou a ser alegre. A menina não compreendia o que estava acontecendo e saiu correndo levando a caixinha consigo. Antes de sair pela porta, o pincel pintou um lindo ramalhete de flores e entregou para a menina.

A menina levou o ramalhete de flores. Quando chegou ao pátio encontrou sua mãe chorando. Perguntou o que estava acontecendo. A mãe respondeu que havia saído, que estava muito triste e que também não se lembrava de onde havia guardado sua caixinha. A menina ficou sem reação. Pegou o ramalhete de flores e entregou para a mãe e entregou também a caixinha. A mãe sorriu tristemente. Guardou as flores numa jarra de seu quarto e colocou a caixinha sobre a mesinha próxima à cama.

Alguns dias depois a menina foi procurar sua mãe e não a encontrou. Ficou muito triste e sozinha naquele castelo imenso.

Passaram-se os dias. A menina resolveu voltar ao calabouço. Chegando lá viu uma mistura muito grande de cores. Encontrou a tinta azul e resolveu usá-la novamente. A tinta tomou vida e pintou a menina de azul. A menina saiu correndo e pingando tinta por todo o castelo. Aos poucos o castelo foi tomando forma de um mar e a menina se viu entre os animais marinhos. Procurou sua mãe por todo o castelo alagado. Encontrou-a sentada, em seu quarto, de olhos fechados, perto de um lindo jardim florido. Seus cabelos estavam enfeitados com flores e tinha ao seu lado o ramalhete de flores azuis e a caixinha.

A menina abraçou a mãe fortemente. A mãe também ficou toda azul.

A água do mar foi lavando a tinta levemente e a mãe abriu os olhos, acordando de um sono profundo.

A menina abriu a caixa e para sua surpresa, o pai saiu de dentro sorrindo e o ramalhete de flores transformou-se num lindo coração com as palavras que estavam gravadas na caixa.

A mãe contou para a menina que o pai havia desaparecido por causa do feitiço de uma bruxa que havia ficado com raiva porque não podia ter alegria. A bruxa não suportava a alegria do casal e trancou o pai na caixinha azul e guardou o segredo no pote de tinta azul que ficava no calabouço. A bruxa dizia que quem fosse ao calabouço jamais sairia de lá. Por isso, ela não queria que Kinália fosse ao calabouço. Haveria apenas uma forma de desfazer o feitiço. Quem descobriria o segredo seria uma criança que fosse curiosa, inocente e que descobrisse em qual pote escondia a verdade. Assim, Kinália conseguiu descobrir o segredo e salvar a sua família.

A menina pegou a mãe e o pai pelas mãos e levou-os para o calabouço. Mostrou para eles os potes de tinta e o quanto o calabouço havia ficado bonito. Sua mãe sorriu muito contente. Daquele dia em diante nunca mais a menina viu sua mãe triste.

E, assim, viveram felizes para sempre...

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 18/09/2018
Reeditado em 20/09/2018
Código do texto: T6452875
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