Um bem-te-vi chamado Pi
Ulisses, meu neto, é um menino muito curioso. Tudo quer saber, e seu interesse pelas coisas não tem limites. Faz tantas perguntas que, muitas vezes, deixa as pessoas embaraçadas. Adora a natureza, gosta dos animais e das plantas. Sempre quis ter um animal de estimação.
Um dia, de manhã, sua mãe encontrou um filhote de bem-te-vi caído no chão perto de sua loja. Estava vivo, mas tremia de frio e fome. Tinha o corpo pelado coberto apenas por algumas penugens. Provavelmente, tinha sido derrubado, pelo vento e a chuva, do ninho que ficava no alto de um poste, na noite anterior. Ela pegou-o de imediato. Secou-o e o aqueceu com um pano. Improvisou um novo ninho para ele numa caixa de papelão e o aconchegou. Depois o alimentou com farelos de pão molhado em água.
Ao chegar à casa o apresentou ao Ulisses. Ele ficou encantado. De repente, aquele passarinho passava a ser seu. Seu. Assim, simplesmente. Ficou pensando o que poderia fazer por aquele filhote indefeso. Primeiro, ele e o pai procuraram um nome. Como a todo momento, ele piava fazendo pi, o batizaram de Pi. Em seguida, providenciaram água e comidas apropriadas para ele e também um ninho numa gaiola.
Durante o dia Pi ficava com a mãe de Ulisses. À noite, Ulisses e o pai cuidavam dele. Em poucos dias, já não se via mais, nem uma parte do corpo de Pi sem penas. Ele crescia livre e solto em uma gaiola aberta que ficava fechada à noite, para sua proteção.
Um dia, Pi estava em cima do muro, quando os pais dele chegaram e o alimentaram. Habitavam nas árvores próximas ao local onde seu ovo fora chocado. Assim, Pi foi se acostumando com o mundo dos pais, mas sem sair de perto de Ulisses, que via crescer suas penas e fortalecerem suas asas e pernas. Seus pais lhe disseram que quando Pi pudesse voar ele iria embora para junto da família. Um lado de Ulisses torcia para que ele não voasse e nunca saísse de perto dele, e ali, ficasse para sempre. O outro lado sabia que ele aprenderia a voar e retornaria para a natureza. Uma coisa, porém, era certa: Ulisses queria a felicidade de Pi.
Assim, passaram-se semanas e Pi não voava. Ulisses ficava feliz em pensar que ele estava livre, mas, não queria ir. Numa manhã, porém, ele recebeu a notícia de que Pi fora embora, voando para a mangueira onde estavam seus pais. Ulisses ficou triste. Por outro lado, foi bom porque Pi voltou para a natureza sua verdadeira casa, e também ele não viu sua partida. Semana após semanas, foi se conformando. Sempre que via um bando de bem-te-vis cantando aproximava e procurava Pi no meio deles.
Alguns dias depois, Ulisses estava no quarto quando ouviu um canto de pássaro dentro de casa. Mais que depressa, saiu correndo com o coração batendo bem forte, pensando que Pi tivesse voltado. Na sala, viu dentro de uma gaiola uma calopsita que sua mãe trouxera.
A calopsita ou caturra é uma pequena ave natural da Austrália e pertence à família dos papagaios. Nem é preciso descrever sua alegria de ter uma Calopsita como seu animal de estimação. Adora seu canto e está sempre com ela na mão ou no ombro. Mesmo assim, nunca se esqueceu de Pi.