O coqueirinho
O quintal já tinha de quase tudo que se podia plantar. Pés de frutas, horta, jardim. E até nas cercas cresciam o chuchu, a amoreira, uma ou outra gentil trepadeira.
Mas a diversidade das árvores frutíferas é que impressionava, mais pois elas cresciam rapidamente e além da sombra acolhedora que ofereciam anunciavam frutas a cada primavera.
Até a jabuticabeira, o marmeleiro e a macieira lá estavam. Enigmáticos, ainda franzinos, podiam levar tempo para chegar a maturidade. Mas faltava um coqueirinho. Como seria bom ter um coqueiro no quintal. E foi aqui que veio ao Zuli aquela idéia: lá pelos terrenos da companhia naquelas cabeças de serras intermináveis não havia tanta muda de coqueiro nativo dando sopa?
E além das vacas, quem é que andava por aqueles pastos? Num dia de folga, gostosa tarde de sábado juntou a mulher e os meninos pra um passeio e se lá se foi a turma, mato afora. Ou mato adentro, depende tudo da hora.
Não se esquecera o Zuli de botar nas costas o enxadão, envolto num saco de aniagem para atender o propósito do ofício. Para a criançada, era tudo uma descoberta, da marmelada de cachorro aos ninhos de joão-congo que pacientemente o Zuli explicava, dava detalhes e relacionava a estórias de sua infância por aquelas plagas, campeando cavalo, levando rebanhos ou catando frutas silvestres.
E eis que surge o coqueirinho dos desejos: um mero arbusto ainda infantil, mas de folhagem esparramada e viçosa. As experimentadas mãos do Zuli puseram-se a cavoucar em volta do arbusto, e o que parecia coisa de poucos minutos, foi passando de hora e nada do solo circundante ceder aos impulsos extratores de Zuli.
O cansaço já se evidenciava em seus braços suarentos e testa franzida de tanto esforço. Até que... bem abaixo, mas perfeitamente visível naquela estradinha viu Zilu despontar a caminhonete verde da companhia, deixando um mar de poeira atrás de si.
Era o sinal. Podiam vê-lo da caminhonete e lhe imputar de um ato irregular, de um desvio de propriedade em terras da empresa. Mais que depressa Zilu deu a ordem de sentido e baixa imediata à criançada e à mulher, de se abaixarem.
Logo que passou a caminhonete, e a poeira literalmente baixou, o enxadão já não mais subiu, ainda que parecesse faltar pouco. Lá ficou o coqueirinho e de lá voltaram, empoeirados, suados aqueles que tanto o desejaram em solo próprio.
Meses depois, a Lelé, a mulher de Zuli deu-lhe mais um menino, ou menina. E lhe trouxe da cidade uma mudinha de coco da Bahia.