O pegador sem promessas
Era de "pegadô" que a gente chamava aqueles chaveirinhos singelos dum passado, que o tempo não traz mais. O que vi, e namorei - precocemente - há cerca de 60 anos, tinha a nos separar só o vidro do balcão da loja do Teco. Achava-se junto a outros petrechos, escolares e de ornamentação, mas meus olhos eram abertos só pra ele então. Sem o menor risco de traição.
Consistia numa espécie de C maiúsculo de aço, com um dispositivo de plástico a se movimentar no espaço que se fazia entre uma e outra ponta do referido C. Uma molinha estava escondida ali - não vi, mas presumi. E a citada peça era vermelhinha, e se movia ao leve toque dos dedos.
Não sei se cheguei a manifestar a meus pais meu acendrado interesse naquele objeto de meu sobejo desejo. Acho que esperei que pelo meu olhar eles o adivinhassem.
E a adivinhação não veio. Tampouco, fiz-me, no período subsequente guardião de chaves ou canivete. Esqueci-me até de admirar as meninas do Teco, que eram graciosas e atenciosas no atendimento à freguesia, de tanto que o pegadô eu cobiçava.
Ainda bem que pouco depois o Teco mudou de ramo, tendo montado um bar, mais espaçoso e chamativo, e com um ou outro picolé de coco chupado, livrei-me de ficar aguado.