Sem papai noel
O quintal era um mundo. Duns doze de frente por trinta de fundo. Se muito. E aindahavia a casa no meio. Melhor, na frente, pra ficar mais privacidade pra gente. Papai e mamãe haviam se mudado pra lá no final da década de quarenta. Receberam a casa novinha da Companhia, pegaram as pivetes Latoya e Labelle, mais os seus trastes e deixaram a casa de Vovó, pra alívios multilaterais ademais.
A casa era bem modesta, mas razão de festa. O acabamento ia-se fazendo ao longo dos anos. Em compasso com a extensão prole, que não era mole. E quando nasci, já peguei um quintal sameado de plantação, que logo me passava no tamanho e se avultavam multiformes, convidando até à precoce trepada.
Embora paradisíaco, faltava a maçã. Era a macieira das poucas inférteis, em meio às prolíficas mangueiras, os abacateiros e até amoreiras e a infalível parreira. Em compensação, havia cobra. E de sobra. Mas eram mais afeitas aos pintos e não aos meninos. Demais, não havia Eva.
Passada uma chuvinha, era bom amassar barro no quintal. As manguinhas que não sobreviveram temporal, na seleção natural, estrelavam o chão. Era hora de transformá-las em boizinhos, com a ajuda que quatro gravetinhos que funcionavam como pernas. E o cabinho com que elas permaneciam era a cabecinha do bovídeo.
E me valendo da maciez do terreno, eu juntava as pontas do indicador e do médio - que eram melhor conhecidos por fura bolo e pai de todos - pra fazer no chão fofo, a pegada de uma bezerrinha. Mas isso quem me ensinou foi o Chico, companheiro de infância que veio morar na casa vizinha.
E precisava de Papai Noel?