Ai de voz...?
Bonita mesmo era a coroação de Maria, que ao longo de maio todo se fazia. No adro da igrejinha do Brumado todo mundo se comprimia, na fervorosa fé que despertava aquela cantoria. Anjinhas alvinhas, em procissão eram o centro de toda a atenção. Asinhas, tiaras, sapatinhos pintados de alvaiade, e aquelas afinadinhas vozes despertavam desejos atrozes. Até mais pungente que ver e ouvir o magistral Quebra-Nozes.
Mas maio chegava ao fim, e como uma consolação aos guris, surgia, em junho, a coroação de Jesus. Era a vez de se saber se ia pintar, quem sabia, um novo Pavarotti. Faltavam-nos asas, tiaras e outros lucentes adereços, mas candidatos se enfileiravam para passarem ao crivo implacável das catequistas. E fui um deles, cheio de esperança que, ao longo do mês, inda ia chegar minha vez, de subir ao mais alto do pódio, a coroar Jesus, mestre da dor, e da luz.
Iniciou a série o Paricido, com seu trinar afinado, sendo pelo Nivaldo, a seguir, secundado. Aí, ao terceiro dia, pintou minha vez. A tarde era para o ensaio, pra onde segui, pressuroso, acompanhado pelo irmão Beu. E tudo, mui rápido transcorreu: a despeito dos esforços meu, e de uma experiente Rita, veio bruta, a sentença da dispensa: não dava, minha voz não operava. Se uma lágrima escorreu, não a notou nem o mano Beu. Contentei-me em botar palma. Um segundo lugar, sem precisar de voz obrar. Mas sem a cabeça do mestre tocar.