O escovão
Com a troca do piso de lajotas por tacos, e os globos de teto daquele verde suave, combinando com a delicadeza ainda maior e mais verde do abajur, o sinal era de que estávamos melhorando de vida.
E foi ali que entrou o escovão. A melhora não dava ainda para a compra de uma enceradeira, e o escovão com suas cerdas pretas e seu peso férreo, e cabo de vassoura reforçado, sentiu-se titular absoluto. E não tava nem ali para as vassouras, cujo trabalho inspecionava, sisudão, até chegar sua vez de operar.
Ficamos encantados com a nova aquisição, tão logo chegou em casa, trazido pela mão de papai. Era só espalhar a cera parquetina e passar aquele trator por cima. Ia ficar um lustre... E nos metemos à obra com aquela disposição que só a novidade conhece. Que brilho aquele piso ia conhecer - e resplandecer!
Mas não é que a minutos tantos, mal acostumados braços se rendem ao cansaço com a monotonia dos movimentos e, mais ainda, o peso da geringonça, que parecia crescer - e neca do esperado brilho aparecer.
Recorremos aos menorezinhos, com a oferta de um passeio sentadinho no carro-escovão para ver se com o maior peso, ao menos, o brilho aparecia. Mas neca. E a tarde de sábado já ia acabando. O jeito foi fazer cera, enquanto se sonhava com a enceradeira - e se dormia, pois não, com o escovão.