Dona Precata

Quem poderia ter tido a idéia de chamar aquela senhora de Dona Precata? Seria real? Ou uma distorção de Alpercata? Afinal, não já havia a São Paulo Alpargatas? E se você tiver mais de cinquenta anos de caminhadas, não duvido que tenha usado um par delas. Marronzinhas, ainda me arrisco na cor.

Dona Precata as não usava, e não para evitar redundância. É que vivia em morigerada singeleza de meios. E arrastava suas chinelas, ao invés.

Morava numa casinha curiosa, de um cômodo só, no segundo piso de um prediozinho que abrigava a central distribuidora da eletricidade no povoado. Coisa modesta, e meio isolada numa curva da estradinha que, margeando o campim de futebol, ligava São Gonçalo do Brumado à estrada de terra batida, cascalhada e poeirenta, que prum lado apontava a vizinha Velha Serrana, pro outro, BH, la capital tan lejana,

O que me intrigava, e ao mano Beu, era como Dona Precata, sem os predicados da bruxa de Rapunzel, chegava ao segundo andar, pois não se via escada e tampouco se a imaginava. Falávamos, às gargalhadas, que ela subia pelas paredes.

Mas se se levitava, na certa se precatava."

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/01/2015
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