A CUCA VEM PEGAR

Crianças levadas, duelavam com seus travesseiros. Mamãe, atarefada,

dava uns pitos que por momentos acalmavam a bagunça e era só escutar o barulho de seu chinelo se arrastando no piso de tábuas largas, chap, chap, chap, chap, que eu, meu irmão Denis e até minha mana There Valio, que faz parte do RL recomeçavam o duelo, com travesseiros atravessando os espaços entre as camas e as gargalhadas eram o desfecho dos irmãos travessos.

Quando um deles furava, eram penas de patos que se soltavam e voavam em todas as direções, pois os enchimentos daqueles tempos eram assim e tão macios que convidavam o sono para chegar rápido após ouvirmos as historinhas que vinham todas as noites, mesmo após as aprontações.

Lá vinha mamãe de novo, agora com passos mais rápidos, chap, chap, chap, chap, chap, chap, e numa das mãos uma varinha de marmelo que bastava uma só chicotada nas pernas de cada um dos irmãos para tudo ficar em silêncio, ouvindo-se apenas os soluços da dorzinha insignificante, pois era dada com amor para corrigir nossas travessuras.

Santa e bendita varinha de marmelo, que moldou nosso caráter, deu-nos o sentido do respeito, a obediência e a gratidão pela família unida e maravilhosa que nossos pais nos moldaram e isso passamos agora para nossos descendentes.

Depois quando tudo estava em silêncio, cada um em seu cantinho, pois éramos pequenos, idades entre 02 à 04 anos, uma escadinha, lá vinha mamãe para nos contar historinhas até o sono chegar, pois ela tinha a magia de também cantar doces e maravilhosas canções.

Começava assim:- Nana nenê, que a Cuca vem pegar, papai foi na roça e a mamãe já vem já?.

Dizia que a Cuca era um enorme pássaro que pousava nos galhos da laranjeira que tinha no quintal onde durante o dia gastávamos nossas energias de crianças sapecas, pois os espaços eram amplos e lá tinha de tudo, frutas, verduras, legumes, temperos para as gostosas comidas caseiras e para enfeitar o cenário, um lindo jardim que Mamãe Conceição cuidava com tanto carinho e as rosas e cravos de todas as cores traziam seus perfumes, principalmente no começo da aurora radiante.

As galinhas caipiras capitaneadas pelo valente galo com seu esporão enorme que nos assustava, botavam os ovos de gemas vermelhas que fritos, eram uma delícia.

Mesmo assim, com nossas ousadias, corríamos atrás delas e era uma bagunceira geral que só o galo valente conseguia fazer cessar, pois vinha ouriçado em nossa direção.

Continuando a história, dizia que era para dormirmos logo senão a Cuca ficaria em cima da laranjeira e só iria embora quando não tivesse mais crianças acordadas.

Então vinha as suaves canções e nossos olhinhos iam se fechando, fechando, fechando e quando o ronquinho mostrava que estávamos dormindo, então mamãe nos cobria, tenho certeza que pedia aos Anjinhos do Céu que nos protegessem e com um beijo de despedida na face de cada um dos filhinhos, voltava para suas tarefas do dia a dia, pois incansável, com 05 filhos para criar e mais 02 de adoções, não parava um instante sequer, fazendo salgadinhos, doces e sorvetes que eram vendidos por nosso querido e saudoso pai Gabriel Valio no bar da esquina da pequena Pilar do Sul onde nascemos.

Assim se encerra um conto, que hoje não mais se conta, pois quem sabe os pais imaginam serem bobaginhas que não valem a pena serem contadas, substituídas que foram pelos videogames, filmes das tvs e internets, tão necessários, mas que não substituem o romantismo de antigamente que perduram para sempre nas memórias daqueles que viveram esses momentos.

03-03-2012