*EU NÃO SOU MAU
Ao rodar a chave na fechadura, faz barulho por ser de alumínio. Antes, porém, tenho o cuidado de olhar no visor para não ter surpresas. Certa vez ao abrir, uma pedinte adolescente, de um fôlego inesperado pediu ajuda. Foi susto e surpresa. Hoje esquecendo o ocorrido abri de imediato.
Oi tia, eu saí da cadeia, já matei várias pessoas e fui furado. As pessoas têm medo de mim. Queria me amedrontar. Levantou a blusa mostrando os furos. Postou as mãos no peito.
Tia, pelo amor de Deus, me dê cinquenta centavos. Eu tou com fome.
Não gosto de dar esmolas a crianças. Não sei se realmente vão comprar alimentos ou drogas. Certa ocasião outro menor na minha porta pediu uma moeda para comprar alimento. Entrei, trouxe um pacote de biscoitos. Recebeu com cara de quem não queria.
Eu queria moeda, tia.
Quando abri a porta depois de alguns minutos, os biscoitos estavam pisados no chão.
Olhei para o adolescente de hoje. Não tinha cara de mau. Não temi. Pedi “licença” para entrar, mostrando educação e consideração pelo infeliz, ganhado confiança.
Retornei, entreguei um real, banana e laranja. Olhei antes na filmadora não estava na calçada, e sim, recuado na parede um pouco escondido. Pensei até que estava de tocaia para me atacar.
Olhe para mim, jovem. Você é bonitinho, não tem cara de pessoa má. Você é um menino bom.
É né tia? Eu sou bom!
Agradeceu minha singela oferta, e saiu com seu carrinho de catador de lixo. Fiquei olhando vendo ao vivo a infelicidade humana e o desperdício de tanta fortuna nas mãos de outros.
Gritou lá na frente. Tia, eu te amo e soltou beijos com as mãos calejadas e sujas.
Feliz Natal meu filho. Você tem uma cara boa. Não é um menino mau, viu?
Falei baixinho: só precisa de carinho e alimento.
Ao rodar a chave na fechadura, faz barulho por ser de alumínio. Antes, porém, tenho o cuidado de olhar no visor para não ter surpresas. Certa vez ao abrir, uma pedinte adolescente, de um fôlego inesperado pediu ajuda. Foi susto e surpresa. Hoje esquecendo o ocorrido abri de imediato.
Oi tia, eu saí da cadeia, já matei várias pessoas e fui furado. As pessoas têm medo de mim. Queria me amedrontar. Levantou a blusa mostrando os furos. Postou as mãos no peito.
Tia, pelo amor de Deus, me dê cinquenta centavos. Eu tou com fome.
Não gosto de dar esmolas a crianças. Não sei se realmente vão comprar alimentos ou drogas. Certa ocasião outro menor na minha porta pediu uma moeda para comprar alimento. Entrei, trouxe um pacote de biscoitos. Recebeu com cara de quem não queria.
Eu queria moeda, tia.
Quando abri a porta depois de alguns minutos, os biscoitos estavam pisados no chão.
Olhei para o adolescente de hoje. Não tinha cara de mau. Não temi. Pedi “licença” para entrar, mostrando educação e consideração pelo infeliz, ganhado confiança.
Retornei, entreguei um real, banana e laranja. Olhei antes na filmadora não estava na calçada, e sim, recuado na parede um pouco escondido. Pensei até que estava de tocaia para me atacar.
Olhe para mim, jovem. Você é bonitinho, não tem cara de pessoa má. Você é um menino bom.
É né tia? Eu sou bom!
Agradeceu minha singela oferta, e saiu com seu carrinho de catador de lixo. Fiquei olhando vendo ao vivo a infelicidade humana e o desperdício de tanta fortuna nas mãos de outros.
Gritou lá na frente. Tia, eu te amo e soltou beijos com as mãos calejadas e sujas.
Feliz Natal meu filho. Você tem uma cara boa. Não é um menino mau, viu?
Falei baixinho: só precisa de carinho e alimento.