Como nascem os monstros
Como nascem os monstros? Eu nunca entendia os meus desamparos por esse fato da vida. E veja que muitos deles chegam logo depois do amanhecer. Era quando todo o meu corpo floria dois corações: o meu e o do monstro.
E fitando a paisagem com olhos aflitos de tanta beleza eu ria chorando. E ele me via sem dizer nada. E eu ali naquele ato, abismado. E toda aquela lindeza me entrando pelos olhos, até que sentia vertigem e espiava um pouco para o lado. Tudo aquilo, visão com um arco-íris de reflexos e, o espelho devolvendo o olhar do monstro.
Isso é, às vezes há risco de mais vida para um menino assim. Dizem. Um menino olhador meticuloso das coisas por todos os ângulos e muitos lados. E os monstros também.
A bem da verdade, devo ser eu um híbrido: metade pássaro, pois que flutuo. Metade monstro, que me debruço sobre o abismo. E, metade menino mesmo. Já o monstro deve ser totalmente menino. Mas poder ver dentro dos silêncios, até que as esquinas mais perplexas lá dele desistam de te olhar de viés. Então o menino e o monstro já são bem íntimos amigos!
Todavia, o silencio é sempre gentil, dizendo com suavidade como é que nascem os monstros. E os meninos? Eu ia perguntar, mas resolvi deixar pra depois.
Mas atenção, às vezes as perguntas é só para distrair os dois. E o que eu queria mesmo era ficar espiando todos os lados das coisas que dão em dúvida. É um jogo que eu gosto muito por ser menino.
O meu monstro até pediu para nascer um milagre. E às vezes o pensamento concordava de ele ser concebido assim. Doce e com tentáculos. Mas muita vez ainda toca de a pele do monstro ser tecida em azul. Será que nascer azul é o milagre!
E um monstro deve vir de regiões remotas. Lá de onde, nos afastados do mundo, o monstro realiza o truque de pulsar. Desabadalado no coração do criador, que bem pode ser um menino. Ou eu mesmo que vivo distraído no jardim do monstro e seria ainda o seu pai.