Na casa do Vovô
Nesse fim de semana, viajei com meus pais para a casa do meu avô e minha avó, pai e mãe do meu pai. Eles são muito velhinhos, moram em uma cidade muito pequenininha, em uma casa muito antiga. Meu avô e minha avó estavam fazendo uma festa chamada Bodas de Diamante, que é o nome da festa que comemora sessenta anos de casamento.
Muitas pessoas foram à festa, e minha mãe falou que todos eram da minha família. Antes, eu conhecia só meus tios e meus primos. Lá eu conheci mais um monte de primos que eu não sabia que tinha. O que ficou mais meu amigo foi o Toninho. O que eu gostei mais é que ele é meu primo e é da minha idade, pois todos os meus primos são mais velhos e não brincam muito comigo. Mas com o Toninho eu brinquei muito. Minha mãe falou que ele é filho do primo do meu pai, então, ele era meu primo de 3° grau.
A casa do meu avô é muito grande e tem embaixo dela um porão. Eu e o Toninho fomos lá e encontramos um monte de coisas muito legais que eu não conhecia. A primeira coisa que nós vimos foi uma máquina de escrever. É um teclado que já vem ligado em uma impressora, sem precisar de um computador e nem de eletricidade. Você coloca o papel e aperta as teclas e as letras vão saindo direto no papel. Achei uma invenção muito inteligente. Minha tia-prima, mãe do Toninho, que estava com a gente foi quem mostrou como funcionava e escreveu o meu nome e o do Toninho, que na verdade, chamava Antônio, e Toninho era o apelido dele.
Outra máquina parecida era o mimeógrafo, que era uma máquina de fazer fotocópias, só que também não ligava na tomada. Minha tia pegou uma folha roxa e escreveu nela: Bernardo e Toninho são amigos, e desenhou a casa do meu avô embaixo. Então ela colocou essa folha roxa com uma outra folha juntas e colocou no mimeógrafo e rodou uma manivela e o escrito e o desenho saíram iguais na folha branca. Ela pegou outra folha e fez a mesma coisa, e saiu igual de novo. Então ela deu uma folha para mim, e outra para o Toninho e falou para a gente guardar de lembrança.
Depois a gente encontrou uma caixa preta e grandona, cheia de botões com uns pauzinhos que mexiam quando a gente rodava os botões. Ela tinha um fio igual ao de telefone fixo, que ligava a caixa em uma outra caixinha menor toda furadinha. Essa tinha tomada e tudo, mas não estava ligada. Minha tia falou que aquela máquina se chamava Rádio Amador, e que servia para conversar com as pessoas que estavam longe. Ela disse que antigamente, era pouca gente que tinha telefone, então, meu avô gostava de conversar com pessoas de longe com esse rádio. Eu pedi para ela ligar, mas ela não sabia como funcionava, e falou que depois ia pedir meu avô para ligar ela para nós.
Depois a gente encontrou um monte de retratos. A mãe do Toninho ia falando quem eram as pessoas. Vi minha avó quando ela era nova, no dia que casou com meu avô, que era novo também. Que engraçado, meu avô tinha cabelo. Depois havia um monte de fotos do meu avô perto de trem. Eu nunca vi um trem de verdade, só os do ferrorama que meu avô meu deu e os do metrô. Meu avô trabalhava em uma empresa que tinha um monte de trens e ele tomava conta deles nessa empresa. A mãe do Toninho falou que na cidade do meu avô, antigamente, havia um monte de trens, mas que depois tiraram todos, e tiraram até os trilhos dos trens. Nessa época meu avô não trabalhava na empresa mais, ele tinha se aposentado, mas mesmo assim ele ficou muito triste quando tiraram os trens, porque ele gostava muito deles.
Depois vi um retrato muito estranho. Era eu. Mas eu estava diferente, meu cabelo estava cortado muito curto e o retrato era em preto e branco. E eu não lembrava de ter tirado aquele retrato. Mostrei para a mãe do Toninho e falei que não lembrava de ter tirado aquele retrato e ela riu. Falou para eu levar o retrato e perguntar para minha mãe quando eu o tinha tirado. Depois a gente saiu do porão porque o Toninho começou a tossir, e a mãe dele falou que a gente não podia ficar mais lá porque tinha muito mofo, e o Toninho era alérgico.
Nós subimos para a casa, e eu fui procurar minha mãe, para mostrar o retrato. Quando encontrei minha mãe, mostrei o retrato e perguntei quando eu tinha tirado aquele retrato e ela riu também. Depois falou que não era eu. Era meu pai quando tinha a minha idade. Ai ela chamou meu pai, mostrou o retrato para ele, e falou que eu pensei que fosse eu. Ele olhou o retrato, olhou para mim e riu também, e falou assim:
- É, quem herda não rouba – depois voltou para conversar com os meu tios.
Não entendi o que ele quis dizer e ia perguntar para minha mãe, mas antes veio um monte de mulher ver o retrato e minha mãe contou de novo que eu tinha pensado que era eu. Então essas mulheres riram também, começaram a falar que era igualzinho mesmo, e começaram a apertar minha bochecha e desarrumar o meu cabelo. E cada hora chegava uma diferente e fazia a mesma coisa. Eu não gosto que aperte minhas bochechas, mas não podia brigar com elas porque eram tias e primas do meu pai. Então eu chamei o Toninho e a gente foi brincar no quintal longe daquele monte de mulher.
O quintal da casa do meu avô era muito grande e cheio de árvores. Tinha duas que gostei mais. A primeira era uma árvore que dava uma fruta amarelinha que o Toninho falou que chama ameixa. Eu achei estranho, pois, só tinha visto ameixa preta. Mas aquela tinha gosto diferente. Era mais ácida e docinha. Gostei muito dessa árvore porque ela era pequenininha e dava para a gente pegar as ameixas e comer. Depois a gente foi para uma caixa quadrada de cimento que era a caixa d’água da casa do meu avô, e do lado dela tinha uma árvore de goiaba, que a gente podia subir e pegar a goiaba nela. O mais legal é nela tinha uma árvore de uva também. Não era uma árvore, era só um cipó que enrolava na árvore de goiaba e ia até em cima, e dava uvas junto com as goiabas, ai era uma árvore dois em um, e a gente comia goiaba e uva junto. Goiaba vermelha, e uva verde. Era a uva mais docinha que eu já provei na minha vida inteira. Por isso gostei mais da árvore de goiaba. Tinham outras também, mas ai só o Toninho conseguia pegar, porque ele jogava pedra nas frutas e elas caiam. Eu não conseguia e aí resolvi voltar para a casa porque minha mãe tava me chamando.
Chegando lá contei que tinha uma árvore de goiaba com uma árvore de uma árvore de uva junto. Ai um monte de mulher apareceu e riu e apertou minha bochecha de novo, e bagunçaram meu cabelo, e tinha uma que me apertou com muita força. Ai eu fiquei com raiva e falei que não era para apertar minha bochecha porque eu não gostava. Minha mãe ficou brava comigo e me levou para comer e que era para eu ficar quieto que a gente ia embora logo. Mas não foi nada.
Meu avô veio e me chamou. Ele estava com um outro velhinho, bem velhinho também, que parecia com ele, só que menor. Era engraçado, eles riam do mesmo jeito. Ele chamava Joaquim, e era irmão do meu avô, e era avô do Toninho. O Toninho veio e ficou abraçado com o avô dele. Eu fiquei feliz porque o avô do Toninho estava lá. A minha mãe falou que ele, por ser irmão do meu avô, era meu tio avô. Nunca pensei que pudesse ter tanta gente na minha família, principalmente os tio-avôs, tias primas, primos de terceiro grau, e isso tudo. Eu fui perguntar para minha mãe se na família dela tinha isso tudo de parente também. Mas antes que eu pudesse perguntar ela falou para eu ir chamar meu pai para a gente ir embora. Aí chamei meu pai, que tava conversando com um primo dele, que era um primo meu de não sei qual tipo e depois a gente foi, deu um abraço no meu avô e na minha avó, e foi embora.
Gostei muito de conhecer meus familiares e de conhecer a árvore de goiaba que dava uvas também. Gostei das coisas do porão do meu avô e gostei de ter conhecido o Toninho, meu primo. Só teve uma coisa que não gostei, das mulheres que ficavam apertando minha bochecha.