Brava Gente

Os pândegos e trapizondas eram povos inimigos. Viviam de fazer a guerra. As mulheres andavam farta dessa história: muito trabalhar e criar. Sozinhas, crias até criadas.

Bastava uma ovelha, um buraquinho na cerca, patinha do outro lado. Um matinho de capim furtado e os homens se largavam por guerra.

Até houve uma vez uma galinha muito da desastrada perseguindo um grilo saltador. Foi parar do outro lado. Gente! Foi peleia pra mais de dez anos.

Tonico era um menino trapizonda. Forte. Brigão muito provocava os pândegos. Dizia que em breve também ele era de ir pra guerra. Mais. Que ele sozinho era de destruir o exercito inimigo.

Joca era o menorzinho entre os pândegos e esperto de uns silêncios em escutar. Andava cansado com aquela provocação, o inimigo e todas aquelas coisas de chistes. Um dia resolveu se aconselhar com o único homem que tinha ficado na aldeia. Um velho muito sábio de tanto sabido.

Então desembuchou e revelou sobre as provocações do Tonico rival. Mais todas as dúvidas que tinha bastante em bastante. E disse que o que mais gostava era de acabar com a tal guerra. Do povo seu e inimigo.

O sabido do velho aconselhou a ter paciência. Disse que “Deus era de saber o momento certo para dar o fim da luta”, entre pândegos e trapizondas. Também disse de Deus – “que era bem de escrever torto por linhas certas”.

Joca não entendeu nada. Mas ficou por admirar uns restos de. Tecido-pano num amontoado, num canto da cabana. E o velho caiu em cochilo logo.

Foi aí que o menino se alembrou, uma conversa entre as mulheres. E isso era porque ele era muito de se esconder e escutar conversa de gente grande. E elas as mulheres também se aborreciam, mas era por falta de pano pra vestido.

E Joca resolveu investigar. Não é que dos dois lados da cerca havia queixume. Porque muito ausente um vendedor tecelão que não aparecia nunca mais. Que esse era bem estrangeiro. Que vinha de longe e distancia. Que trazia nobre produto pano de fazer vestido. Camisa.

E pasmem. Sim senhor! Os homens também eram de muito gostar daqueles, pano chita chitão por camisas leves floradas.

Mais descobriu Joca. O misterioso tecelão vendedor de pano era o venerável velho sabido pandego. Esse mesmo no ali dormitar. E cutucou o velho por mais ir sabendo do assunto.

E revelou este entre cochilo e outro: ele mesmo tecia o pano tecido chita chitão. Ademais, vestia roupa estrangeirada. Se apresentava à pândegos e trapizondas como comerciante de belos vistosos tecido pano. Vindo de muito longe longe.

E com que alegria era acolhido. Por essas épocas o seu bolso era de muito engordar. O da esquerda e o da direita, um moeda dinheiro pandego, o outro o mesmo, feito trapizonda. Mais disse:

- Agora estou velho e cansado, eu netinho! Caiu no sono.

E de mal saber sabia Joca. Do outro lado da cerca Tonico também fazia investigação detetive. E em verdade que era também pelo fim da guerra. E aquilo de provocar Joca era disfarce. Despiste e queria saber como se deu a primeira peleia de guerra. Um saber por querer resolver com ponto final e ponto pro fim da guerra.

Foi então por aconselhar-se com a velha mulher. A venerável sabida anciã de sua própria aldeia. E a trapizonda vozinha muito contou segredo.

- Houve um tempo, meu netinho, tempo tão bom! Não havia cerca e os dois lados eram muito amigados. Dormitou. Mas voltou para acrescentar:

- Naquela época, meu netinho, tempo tão bom! Não havia cerca e todos, trapizondas pândegos usavam roupas muito coloridas de floradas.

E como Joça e Tonico foram de logo se encontrar (junto da cerca) de conversar trocar confidência:

- A velha trapizonda e o velho pandego?

- Tinham sido enamorados!

Mas que para o casório acontecer foram por esperar bem enricar. Ela modista ele tecelão e o tempo... O tempo como bem ele, de rápido tempar e os dois envelharam e o casório não nunca aconteceu.

Foi só mais uma dessas coisas que no mundo é bem capaz de acontecer: os meninos Tonico e Joca são hoje sócios em lucrativo negócio e ainda no mais, que acabaram com a guerra:

- Um tecelão e uma modista? Sim senhor. Diz Tonico.

- Vindos de longe longe! Indaga Joca com muito riso pelos dois.

Logo e um boato se espalhou. E vinham de ir chegando que já esperavam povo e povo. E por melhor distribuir os talentos, agora, Joca chamou Vaninha, uma amiga de aldeia alonjada para ser a modista. E Tonico mandou buscar o primo.

E o mundo como adora entorcer retorcer história de gente, fez logo o primo e a Vaninha se apaixonarem. Vai ser festa de casório pra mais de semana. As mulheres apressadas enviam mensageiro aos maridos de guerra. Eles voltaram urgente, pois queriam aproveitar da festança e organizar concurso:

- Quem seriam as de ter os mais lindos vestidos? Diz um pandego.

- Quem de vestir as mais belas camisas? Foi homem trapizonda, no dizer.

E para terminar essa contação é que conto: Tonico e Joca, além de que ficaram muito ricos, eram considerados grandes sábios. Sim senhor que sou de afirmar! Cada um, desde o combinado, havia fixado na porta de sua casa, uma grande faixa placa onde se dizia em escrito de bonito palavriado:

- “Se Deus escreve torto por linhas certas, o homem é bem capaz de escrever certo por linhas tortas”.

- E daquela cerca que separavam pândegos e trapizondas?

- Quase apodreceu. Foi resposta de uns ventos, uns tantos desanimados.

Mas há notícias de que nas duas aldeias há movimentos por restaurar. A cerca.

O primo e a Vaninha esperam o primogênito. E dizem uns boatos que pândegos querem menina-princesa. Já trapizondas são mais de querer um menino valente, causa de prevenção. Se alguma discórdia reacontecer por guerra?

- É bom de se ter bem valente soldado! Também esta foi resposta de vento, mas já com um pouquinho de ânimo pelos vindouros tempos.