O Jardineiro Fantasma

O Jardineiro Fantasma

Era um condomínio de apartamentos que ficava num bosque, lá para os lados da Tristeza. Lugar agradável de viver, mas em um canto recuado havia uma construção antiga, sombria. Não fosse uma torre muito alta e já teria desaparecido completamente entre a densa vegetação.

Dizem que ali viveu um jardineiro por muitos anos, mas que um dia sumiu sem deixar rastro. Outros afirmam que morreu sozinho na torre e que virou fantasma. Mas a lenda deve ser coisa inventada por pais que querem suas crianças longe daquela velha construção.

Justo neste condomínio vivia Laura e suas duas irmãs. As três meninas até que se gostavam, não fosse a Laura ser tão inquieta e curiosa. E as outras a exigir que emprestasse o vestido novo, o ipod e etc. e tal para não contar a seus pais sobre as andanças dela pelo jardim do condomínio.

Naquele dia às 2h da tarde, hora da cesta, quando até as cigarras prezam pelo silêncio, Laura ouviu uma batida de tambor. Recebeu aquele som em seus ouvidos como se fosse um chamado. O segundo toque e já estava ao pé da velha torre. Na terceira batida e despertou em uma habitação quase fria não fosse a sensação de encantamento que teve. Estava num salão quadrangular, todo enfeitado com as mais belas flores e o aroma fez seu corpo se arrepias todo.

E Laura quis saber onde estava e como podia ser aquilo. Há pouco estava em seu apartamento. Agora, naquele lugar estranho, o livro ao lado, e repousando como se fora em seu quarto? Confusa buscou por uma janela, uma porta que não encontrou. Chamou três vezes e como ninguém respondeu teve muito medo.

Então lembrou do celular no bolso do jeans, mas que vestia roupas tão outras. Teve fastio, um princípio de destempero, mas assim vestida de princesa não dá. E quando começa a vertigem, Laura escutou um sino, marcando o tempo, longe, longe. Seis horas da tarde e pálida de espanto entristeceu.

A começar pelo condomínio todo o bairro estava em rebuliço com a notícia do desaparecimento de Laura. Jornais, rádio e televisão noticiavam o fato. Uns diziam que era mais um caso de seqüestro, outros que tinha fugido de casa. E ninguém para escutar um menininho que circulava ali pelo jardim do condomínio e tinha algo a dizer sobre o rapto.

E a triste notícia atravessou toda a cidade e do outro lado chegou à casa de Bernardo. Ele também vivia em um condomínio, no Sarandi, mas esse sem belo jardim. Ali vivem uma senhora e seus três netos. Uma pobre avó que muito tem que trabalhar, pois que sozinha tem que cuidar dos meninos.

No fim daquele dia a boa senhora chegou muito cansada e ligou a televisão, assim descansar um pouco antes de preparar o jantar. E Bernardo muito se assustou ao ver a avó tão pálida, foi aí que percebeu. A notícia, falavam do desaparecimento de uma menina Laura. E a boa senhora se aproximou do neto e olhou para aquele rosto querido, mas como se mirasse um abismo. Bernardo compreendeu.

Há algum tempo Bernardo tinha deixado de ir à escola, ele acreditava que assim estava ajudando, pois economizada o dinheiro da passagem, do lanche, mas a avó, ela entristecendo, causa de preocupação com o destino do menino.

Bernardo nunca havia andado sozinho, de ônibus fora do bairro. Ah, isso é fácil pensou, enquanto se preparava para a viagem. Tinha um plano para encontrar a menina desaparecida e ainda era de conseguir um emprego. Explicou rapidamente, despediu-se da avó e partiu.

No primeiro ônibus tudo foi bem, o segundo descarrilou – ia para os lados da Assunção. O terceiro estava certo, mas sem dinheiro para a passagem. O cobrador avisou o motorista que: - comigo malandro vai a pé.

Bernardo chegou a Tristeza um trapo depois de muito caminhar. Passado das 10h da noite, com fome, pediu para falar com o pai de Laura. O porteiro que estava cochilando, se irritou: a esta hora da noite, não é parente? – Aqui malandro não entra.

E com o corpo latejando, sede, fome e cansaço, Bernardo se vê diante de sua primeira lição de abismo, passar a noite ao relento. Mas como tinha propósito, teve paciência e buscou o canto mais escuro da escada e ali descobriu o que o deixou admirado.

Um menininho sozinho, a esta hora da noite e do lado de fora do condomínio. Antes que formulasse a primeira pergunta, a criança:

- Eu sei onde está a menina Laura.

Bernardo fica em estado de assombro. Como ele poderia saber sobre o seu objetivo, encontrar Laura e devolve-la a seus pais.

- E podes me dizer? Pergunta com voz trêmula.

- Poder até que posso. Foi a resposta e ria. Do menino só restava o tamanho, agora um homenzinho vestido de folhagem. – Sou o antigo jardineiro – disse. E arrastou Bernardo por um braço e apontava o grande jardim, tão descuidado. As pessoas desse lugar me esqueceram, assim como a um belo jardim. No meu tempo tinha até arco-íris e quando morri fiquei encantado lá na torre. Agora sou duende que vês.

- Mas e a Laura? Perguntou Bernardo.

- Está segura e é a única dos que aqui vivem que gosta muito de flores e de mim.

E a criatura explicou que estava muito cansado de viver sozinho, por isso levou a menina para viver com ele.

- Mas se ela não voltar para casa quanta tristeza a seus pais.

- Não tinha pensado nisso. Disse o duende que era criatura de compreender se lhe explicavam.

- Deixe-me levar Laura de volta aos seus, pediu.

- Deixar, até que deixo, mas só se vires viver comigo e te ensino a ser o melhor jardineiro que esta cidade já viu.

E Bernardo aceitou. Nunca mais se viu noite mais clara e perfumada como aquela. Laura e Bernardo ao luar, um encontrando no outro o melhor amigo. E o duende, de combinação com os dois, assustava todos os funcionários da empresa terceirizada que o síndico contratou para cuidar do jardim.

E foi assim que Bernardo conseguiu seu primeiro emprego e até voltou a estudar, à noite porque muito trabalhava, mas com alegria. E o jardim era admirado por todos, assim como Laura, que todos os dias ajudava seu amigo com as tarefas da escola.

Dizem dessa estória que deve ser coisa de mágica. Pois ninguém sabe como, mas dona Frozina, a avó de Bernardo comprou um apartamento ali naquele condomínio. E ali vive com seus netos, agora já bem idosa, todos os dias vai passear no jardim.

E o jovem herói que encontrou a menina Laura recebeu como prêmio, além do emprego, o direito de habitar a casinha do antigo jardineiro. Agora a velha torre vive ensolarada e Laura aparece por lá todos os dias.