O Livro de Luana*
Luana é uma menina pobrezinha, que vive num barraco de madeira. Quando chove de noite, Luana se encolhe para um lado da cama porque do outro lado tem goteira. Ela também fica com muito frio, pois só tem um lençol fininho com o qual se cobrir. Por isso Luana se encolhe ainda mais e fecha os olhinhos, esperando adormecer para o frio passar.
Luana aprendeu a ler quando frequentou a escola no ano passado. No início, ela teve muito medo da escola e se encolheu como nas noites frias. É que a escola parecia tão grande e ela se sentia tão pequena! Ninguém ali era tão pequena quanto Luana. A única pessoa no mundo que ela conhecia e que era menor do que ela, era sua irmã mais nova, Gabriela.
Luana também sentia falta de Gabriela, quando estava na escola. As outras crianças não falavam com ela e nem a convidavam a tomar parte de suas brincadeiras. Então, Luana ficava quase sempre sozinha, esquecida num canto.
A hora do lanche era o melhor momento . Em casa, não era sempre que havia comida e o lanche da escola se tornou a sua primeira refeição do dia. Ás vezes, a única.
As outras crianças da escola eram cheias de vida, animadas e sempre tinham novidades a contar, sobre brinquedos novos, viajens, tios e avós. Elas riam alto, gritavam, corriam, pulavam. Toda essa euforia deixava Luana atordoada, pois não era habituada a barulhos de crianças brincando. Os sons aos quais ela era habituada, eram de gritos de dor, choro, lamentações, xingamentos. Então ficava muito confusa quando as crianças gritavam de euforia e se encolhia mais e mais.
Depois Luana teve de deixar a escola. Não havia quem cuidasse da irmã enquanto a mãe trabalhava. Além disso, não havia quem lhe ajeitasse os cabelos ou lavasse seu uniforme, ou a acompanhasse até lá.
Luana só teve saudades do livro de alfabetização, pois gostava de aprender a juntar letrinhas e também de ver as figuras e colorir desenhos. Mas, lá no fundo, ela sentia que aquela escola não era o seu lugar. Embora desejasse tanto que fosse, ela não sabia fazer a mágica que transforma uma abóbora em carruagem e ratinhos em cavalos, como nos contos de fadas.
* Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF.
Disponível em: www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com
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