O menino e as árvores do meio do caminho
Ele era um menino muito pobre. Tinha dez irmãos, o pai sumira no mundo havia algum tempo e a mãe trabalhava tanto que não sobrava tempo para cuidar dos filhos. Então, as dez crianças ficavam meio jogadas, sempre famintas, sujas e despenteadas.
Aquele menino era o mais velho dos irmãos e olhava carros e fazia pequenos serviços como carregar sacolas. Com o dinheiro que ele conseguia, comprava alimentos para si e para os irmãos. Mas nem sempre era possível arrumar algum dinheiro. Muitas vezes o menino caminhava o dia inteiro e não conseguia nada.
Nesses dias em que ele zanzava pelas ruas á procura de alimentos ou trabalho e que nada conseguia, ele costumava vasculhar as árvores do caminho em busca de frutas para matar sua fome. Às vezes ele recolhia jamelão maduro e docinho; ás vezes havia árvores carregadas de amora ou de goiabas; noutras vezes ele se deleitava com as mangas ainda verdes.
Por causa dos muitos dias de fome que passava, o menino adquiriu o hábito de andar olhando para as árvores em busca de seu alimento. Não raramente, ele experimentava de algum fruto desconhecido, mas normalmente se decepcionava com o gosto amargo.
Certa vez, ele estava cansado e faminto. Cambaleava, afastando as folhas das árvores em busca de alimentos, mas nada encontrava. Mastigava folhas para enganar a fome e em cada árvore que via, surgia nova esperança de saciar a fome. Já um pouco desorientado, ele viu uma árvore baixinha, da qual pendiam muitos frutos brilhantes. Ele não teve dúvida, correu até lá e começou a comê-los ávidamente. Não eram tão bons como aparentavam, mas sua fome era tamanha que ele comeu uma porção deles.
Infelizmente, o menino não sabia que aqueles frutos não eram comestíveis, eram, na verdade, venenosos. Ali mesmo debaixo da árvore ele começou a passar mal e a vomitar. Sozinho, foi sentindo suas forças diminuírem e seu corpo ficou inerte.
As árvores do meio do caminho podem alimentar. À sua sombra também podemos descansar, mas aquele menino, encontrou um descanso eterno e nunca mais sentiu fome novamente.
* Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF.
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