A Maçã premiada *

Era uma mulher muito pobre que tinha quatro filhos. Certa vez, ela saiu logo cedo para tentar encontrar um trabalho e não havia mais comida em sua casa. Ela deixou seus filhos com muito pesar, pois eles ficariam sozinhos e famintos. Ela ia rezando para conseguir um trabalho e, quem sabe, um pouco de comida para levar para casa.

Depois de caminhar durante toda a manhã, sem ter comido nada, a mulher estava cansada e sentia muita fome. Foi quando passou por ela algumas moças com um carrinho de supermercado, de onde uma delas retirou uma caixinha com propaganda do supermercado e lhe ofereceu. Dentro da caixinha havia uma maçã. Ao abri-la a mulher regalou os olhos diante da fruta vistosa, vermelha e brilhante como a maçã da Branca de Neve.

Não a comeu, no entanto, guardou-a de novo na caixinha para levá-la aos seus quatro filhos que a esperavam e também nada haviam comido naquele dia. A mulher retornou debaixo de um sol muito quente, após ter caminhado toda a manhã usando um sapato que lhe machucava os pés. A maçã exalava um cheiro delicioso que subia da caixinha que a mulher abriu e fechou várias vezes só para sentir melhor o cheiro e apreciar sua beleza. A boca enchendo de água, no desejo de comê-la, mas, apesar da fome, seu desejo maior era de reparti-la entre os quatro filhos e vê-los comendo cada qual um pedacinho.

De repente, porém, após ter andado bastante, ela reparou que sua caixinha estava muito leve e, balançando-a não sentiu o movimentar da maçã. No mesmo instante ela tentou abrir a caixa para verificar se a fruta ainda estava lá dentro, foi quando percebeu que sem querer havia virado a caixinha de cabeça para baixo e a maçã havia caído no chão.

Imediatamente a mulher retornou no caminho, procurando-a pelo chão. Um policial militar, do outro lado da rua, percebeu sua consternação e foi logo avançando em sua direção, parou no meio da pista, no entanto, abaixou-se e apanhou um objeto. A mulher então percebeu depois que se tratava da maçã que rolara até a pista.

O policial lhe devolveu a fruta com um sorriso e lhe desejou um bom retorno à casa. Ela ficou bastante agradecida, ele nem sabia o quanto aquela maçã era importante para sua família naquele dia.

Chegando a casa, os quatro filhos da mulher correram até ela, esperando encontrá-la com sacolas cheias de comida. Porém, tudo o que ela tinha era a caixinha com uma única maçã para ser dividida por quatro. Eles já eram acostumados a dividir todo o pouco que conseguiam adquirir, então não reclamaram, ao contrário, estavam satisfeitos em ter ao menos aquele pedaço de maçã.

O menino mais velho comia a sua parte, quando pegou a caixinha e leu o que estava escrito no fundo. Havia uma mensagem que dizia: o portador dessa embalagem ganhará um ano de supermercado grátis em nossos estabelecimentos.

Eles saltaram de alegria. Durante um ano não lhes faltaria comida.

Passados alguns dias que eles já haviam recebido o prêmio, a mulher conseguiu um emprego e passou a trabalhar no mesmo horário da escola dos filhos. Então, podia estar com eles num período e trabalhar no outro. Eles nunca mais passaram fome.

Há maçãs que são envenenadas e outras que são premiadas. Nem sempre conseguimos enxergar a diferença entre elas. O que faz mesmo a diferença é a mão que a entrega.

* Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF.

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