O tombo*

Era um dia de tempestade. Priscila vestiu seu uniforme escolar, torcendo para que continuasse chovendo, o que a impediria de ir à escola. No entanto, enquanto ela se arrumava, a chuva foi diminuindo até parar.

Priscila gostava da escola, mas naquele dia em especial, ela gostaria de faltar. O motivo era que sua tia estava em casa e a menina apreciava muito a companhia dela. A tia de Priscila era alegre, tinha sempre um assunto animado para falar e, além disso, fazia guloseimas deliciosas.

No quarto, enquanto Priscila terminava de vestir o uniforme, podia sentir o cheiro do chocolate quente e do bolo que estava sendo preparado. O relógio mostrava que já era hora da menina sair, ou chegaria atrasada, mas tudo o que ela mais queria era esperar que aquele lanche ficasse pronto. Não apenas porque queria degustá-lo, mas principalmente pelo prazer de sentar-se por horas à mesa junto com a tia, comendo bolo com chocolate quente, falando abobrinhas e rindo á toa. Priscila sabia que não havia tempo para isso, na verdade, teria de sair sem ao menos provar um pedacinho do bolo que espalhava um cheirinho gostoso por toda casa.

Ao abrir a porta para sair, Priscila recebeu uma rajada de vento frio que fez esvoaçar o seu cabelo. Enquanto caminhava contornando as poças d'água que ficaram após a chuva, ela pensava no bolo, no chocolate e na risada da tia. Tudo isso estava ficando para trás, pois com o peso da mochila cheia de livros nas costas ela seguia rumo á escola.

Tão distraída ela estava que, de repente, escorregou e foi cair numa poça de lama. Sujou o uniforme e a mochila e ainda se tornou alvo das risadas das outras crianças. Teve muita vontade de chorar, mas se segurou para evitar mais constrangimento. Engolindo o choro, se levantou e tentou livrar-se da sujeira, porém quanto mais tentava se limpar, mais enlameada ficava.

Percebeu então que o melhor seria voltar para casa. Não podia chegar á escola toda suja de lama como estava. Apesar disso, teve receio de levar bronca da mãe. Na certa ela a repreenderia por andar distraída.

Á porta de casa, Priscila se sentia triste e envergonhada, as lágrimas já escorriam de seus olhos, por ter de retornar tão suja e humilhada, esperava levar uma grande bronca. Quando a mãe a avistou, no entanto, correu depressa até ela, perguntando-lhe se estava bem e encaminhando-a ao banheiro para se lavar. Não a repreendeu, mas a amparou e, após o banho, Priscila pôde sentar-se á mesa que estava sendo posta naquele momento.

Um pedaço de bolo e uma xícara de chocolate quente jamais foram tão deliciosos quanto naquele dia. Priscila se sentiu feliz e acolhida junto á mãe e á tia e elas deram boas risadas do tombo.

* Kelly Vyanna.

Membro da ACEIB/DF. Disponível em:

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