O gato mudo*

A dona gata ganhou uma ninhada de lindos gatinhos. Todos eram bem saudáveis e espertos. Mamavam quase que o dia inteiro e depois tiravam longas sonequinhas.

Algum tempo depois eles abriram os olhinhas e cada um exibia os olhos mais bonitos e brilhantes. Alguns tinham olhos azuis, outros verdes, outros amarelos e um deles, estranhamente, possuía um olho azul e o outro verde.

Quando a mamãe gata viu que um de seus filhotes possuía um olho de cada cor, ficou chateada. Mas logo se esqueceu, pois estava tão orgulhosa com seus bichanos que começavam a andar e a brincar com insetos. Eles eram realmente uma graça!

Mas aconteceu que todos os gatinhos miavam, exceto aquele que possuía um olho de cada cor, pois ele não emitia som algum. Dona gata ficou preocupada e foi logo averiguar o que estava acontecendo com o seu filhote. Quando ela tentou encorajá-lo a miar, no entanto, ele soltou um defeituoso som abafado e rouco.

Dona gata quis ajudá-lo, mas foi em vão. Todas as vezes que o gatinho de olhos bicolores tentava emitir um som, era motivo de rizada dos irmãos e dos outros animais. O bichano já estava até ficando triste, pois não entendia por que não conseguia miar como os seus irmãozinhos.

O pior mesmo era que ele não conseguia se comunicar direito e ninguém entendia o que ele queria. Então ele começou a fazer gestos com os olhos, as orelhas, o rabo e as patas. Desta forma, todos começaram a entender o gatinho mudo.

Quando ele se assustava, ao invés de dar um miado medonho, ele apenas eiriçava o pêlo do rabo. Se estava alegre, deixava o rabinho bem para cima. Se triste, jogava as orelhinhas para trás; para demonstrar que estava atento, apontava as orelhas para a frente. Com medo, esticava-se todo e exibia as unhas retráteis. Até as sombrancelhas e bigodes do gatinho serviam para comunicação.

Com o tempo, todos os animais foram se acostumando com aquele seu jeito de se expressar e ninguém mais ria do bichinho. Todos aprenderam a entendê-lo e os seus irmão até começaram a imitá-lo para melhor se comunicarem. Isso foi passando de geração em geração e até hoje todos os gatos conhecem essa linguagem corporal inventada pelo gatinho mudo.

* Kelly Vyanna.

Membro da ACEIB/DF. Disponível em:

www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com

http://kelly-literatura.blogspot.com/