A Formiguinha desordeira *
Era uma vez uma madame que tinha em sua casa um lindo e vasto jardim muito bem tratado e florido. Ela fazia questão de cuidar pessoalmente do seu jardim, recorrendo a ajuda do jardineiro somente em ocasiões que ela não conseguia resolver sozinha.
O jardim estava realmente vistoso e todos o elogiavam. A madame passava horas sentada num banco, lendo uma revista ou um romance, enquanto apreciava a sua obra de arte. Ali era o seu lugar favorito. Não raro ela convidava uma amiga para o chá da tarde, deixava uma mesa muito bem posta à entrada do jardim e lá elas conversavam, riam e trocavam ideias sobre plantas, flores, e jardinagem.
Acontece porém, que uma formiguinha vinda de um lugar distante acabou chegando ao jardim. Ela viajara bastante, pendurando-se em sandálias, saias e bolsas. Quando viajava num lenço dourado (uma de suas mais confortáveis viagens, pois a que ela fez numa sandália, essa foi degradante). Bom, o fato é que a tal formiguinha acabou chegando ao jardim e quando avistou toda aquela fartura, deu um salto do lenço à mesa, da mesa à uma folha e pronto! Encontrava-se no paraíso!
Daí por diante, a vida da formiguinha se tornou um luxo. O jardim era um espetáculo e ela tratou logo de arrumar uma ótima moradia para si, cavando uma terra fofa, próxima a uma roseira cheia de folhas apetitosas.
Não bastasse a facilidade de se conseguir seu alimento com as folhagens do jardim, a formiguinha ainda se fartava das migalhas de bolos, pães e biscoitos que o vento carregava até ela, vindos da mesa posta pela madame.
Mas acontece que a formiguinha começou a fazer uma grande bagunça. Ela achava que a vida era muito bela e ouvia som MP3 com fone de ouvidos, balançando as perninhas pelo ar, sentada nalguma pedrinha do chão. Subia e descia das plantas, rebolando, dançando funk e ainda fazia do chafariz a sua piscina particular. Realmente, ela estava vivendo uma vida loka.
A formiguinha era desordeira e estava feliz da vida em sua nova morada. Mas havia um problema: ela se sentia terrivelmente sozinha e, à noite, depois de encher o seu buraquinho na terra com folhas verdes, ela ouvia rádio, tomava cuba libre e chorava com saudades dos seus amigos e familiares que ficaram distantes.
Foi então que a formiguinha decidiu mandar um e-mail convidando-os para irem morar com ela. No e-mail ela descrevia o jardim como um verdadeiro paraíso e ainda adicionou fotos suas no chafariz, fazendo pose, debaixo de uma roseira, segurando um enorme grão de açúcar e tomando sol deitada sobre uma folha de antúrio.
Em poucos dias, toda a família da formiguinha chegava de mudança. Traziam farofa na matula e vinham fazendo grande alvoroço, exigindo um espaço a qualquer preço. Foi a maior confusão, um monte de formigas detonando com o jardim. Não demorou nada, jardineiro as decobriu, contou à madame, que tomou logo suas providências.
No dia seguinte, havia um exterminador de formigas esperando à entrada do jardim. O sobrinho mais novo da formiguinha desordeira foi que o avistou e correu a avisar toda a família. Eles tiveram de se mudar às pressas, mas não ficaram desabrigados, pois encontraram uma vila de formigas muito bem cuidada e bem mais segura para se viver.
* Kelly Vyanna.
Membro da ACEIB/DF. Disponível em: www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com ou http://kelly-literatura.blogspot.com/