Saci encontra Uirapuru *
O saci ia pulando pela floresta, fugindo de uma onça feroz. Isso ocorria porque ele inventara de cutucar a fera com uma vara curta. Na verdade, ele passara quase toda a tarde a cutucá-la e, a onça, por preguiça, apenas se movimentava de um lado para outro poupando energia para a próxima caçada.
Quando se cansou daquela brincadeira, no entanto, pôs-se a correr atrás do negrinho que até perdeu o cachimbo de tanto medo. Então ele subiu rapidamente numa árvore, enquanto deixava lá embaixo a bichana a miar e rosnar.
Tanto tempo a onça se demorou a esperar o saci que ele até tirou um cochilo deitado num dos galhos da árvore. Acordou com um som muito bonito envolvendo toda floresta. Era o seu amigo Uirapuru, num dos galhos mais altos. A onça se cansara de esperar e saíra à procura de caça.
O saci se lembrou então de quando ele também era um passarinho. E voava e cantava que nem Uirapuru. Começou a assobiar uma canção, ao descer da árvore encontrou uma touceira de bambu, de uma haste fez flauta e, desde então, ao invés de andar pulando pela floresta com um cachimbo na boca, ele tem agora uma flauta de bambu. Com ela entoa notas tão maviosas quanto as do seu amigo Uirapuru. Os dois estão até pensando em formar um dueto.
Já imaginou como iria ser? Dueto de saci e Uirapuru à beira do rio, fazendo serenata para a Iara. Um show!
Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF. Disponível em: www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com ou http://kelly-literatura.blogspot.com/