Criança travessa

Já era tarde da noite quando Vivian ouviu baterem na porta da frente; certamente ela não estava esperando visitas àquela hora. A adolescente parou, com a mão na maçaneta, e olhou pelo olho mágico a rua lá fora: não havia ninguém no seu batente, e a rua estava deserta. O céu escuro, acima das lâmpadas amareladas dos postes, prenunciava chuva. Balançou a cabeça, como que duvidando dos próprios sentidos, e largou a maçaneta. Foi então que ouviu a voz de criança:

- Gostosuras ou travessuras?

Parou, estática, de costas para a porta. Não era possível que houvesse escutado aquilo. Não havia ninguém lá fora!

- Vá embora... - ela murmurou, sentindo o corpo paralisado como que num pesadelo. - Vá embora...

- Gostosuras ou travessuras? - Insistiu a voz, mais alto. E depois, risadinhas.

- Não tem mais nada aqui - ela reuniu todas as forças para dizer. - Vá embora, acabou!

- Gostosuras ou travessuras... - sussurrou a voz do outro lado da porta.

- Você não devia estar aqui... - - disse Vivian, cerrando os punhos. - Isso não é hora de criança estar na rua!

- Travessuras! - Gritou a criança. - Travessuras!

- Vou contar até dez para você sair da minha porta - ameaçou Vivian, virando-se lentamente para encarar a porta fechada. - Depois, vou chamar a polícia. Dez...

- Travessuras... - sussurrou a voz do outro lado.

Vivian acabou de contar mentalmente e depois exclamou:

- Um!

Olhou novamente pelo olho mágico e viu apenas trevas: alguém ou alguma coisa estava tapando a sua visão da rua. Foi então que sentiu uma mão no seu ombro. E gritou.

- Vivian?

Ela arregalou os olhos e viu que já era dia. Estava em sua cama, e Melanie, a irmã mais velha com quem dividia o quarto, a estava sacudindo.

- Acorda, você estava tendo um pesadelo!

Vivian respirou fundo e correu os dedos pelos cabelos em desalinho. Sentou-se na cama, o coração ainda acelerado.

- Nossa, que troço horrível, Mel... acho que nunca senti tanto medo na minha vida!

Contou seu ordálio para a irmã, que ouviu em silêncio. Finalmente, Melanie comentou:

- Mas mana... será que não era simplesmente uma criança brincando de esconde-esconde, e você se assustou à toa?

Vivian fez uma careta.

- Olha, pode ter sido um sonho, mas... por alguma razão, eu sabia que não era Halloween. A tal criança estava batendo na nossa porta com duas noites de atraso... em pleno Finados!