A austera existência
De que, afinal, vale a vida? Este sentimento bate e volta, aqui e acolá. Nada de fato possui significado, sentido ou necessidade. Por que deleitar-se pelos prazeres mundanos? Por que não se entregar à vida boêmia? À vida tirana? O que de fato infere a proposição de que a moralidade é interessante? O sentimento torpe me enlouquece, me dá vômito. Não há um porquê, nada há um porquê. Hoje foi o dia do meu martírio, o dia em que me livrei de todos os problemas, o dia que me dei por vencido pela insignificância daquilo que consideramos viver. Entregar-se ao niilismo ou encarar a dupla faceta que permeia o absurdo? Não faz diferença, ambas colocações são inaptas de funcionabilidade. Existir não significa estar vivo, mas o que de fato é viver? Passar anos pelo sucesso e morrer, ou passar anos na desgraça, e, no fim, ter o mesmo fim de outrem. Olhe! Isso é absurdo, totalmente absurdo. A sensação de só respirar está presente em todos. Essa existência limítrofe, micro, trivial, tanto se importa a contingência universal com a nossa insignificância. A verdadeira desilusão é ser crédulo, crédulo à filantropia. Dias e dias, não restará mais nas memórias, és apenas uma passagem minuciosa na humanidade, sem nenhum teor de importância. Agora pergunto-me novamente: o que me faz humano? Impossível de dizer. Viver é um acaso abjeto, um ultraje. Que se explodam no inferno todos aqueles que sentem-se superiores por um fio. Uma navalha é suficiente para cortá-lo, tolo. Essa sensação austera sobre a existência bate em qualquer um: vendedor de picolé, uma faxineira, um político... é o círculo imutável da existência. Agora, caminho nessas ruas inflexíveis, com essas pessoas escarniosas, sôfregas. A melancolia interna é omitida, é notória. Sinto-me enclausurado, até por fim, ceifo essa existência insignificante. Serei conhecido como um suicida, mas após uma semana, acabou. Exalo felicidade, enquanto esse corpo macilento cai sobre o córrego. A fluidez taciturna dessa água me encanta. Agora eu entendo: o porquê a vida é bela? A simplicidade, a falta de sentido, o frescor das plantas, poder amar, sua subjetividade... Tudo torna a vida única. O sentido? Do que se importa o sentido. As casualidades me trouxeram aqui, mas desperdiço, afogando-me em cólera. Morto felizardo, felizardo, graças que no último instante enxergo. Liberto, estou liberto, céus!